segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Guardiões de sementes colhem para semear futuro comum

ASSOCIAÇÃO A COLHER PARA SEMEAR NASCEU HÁ...
por FILOMENA NAVESOntem
Há quatro anos formalizaram o que era já uma prática regular para
alguns deles: resgatar sementes da agricultura tradicional portuguesa
do desuso crónico, lançá-las à terra e colher os seus frutos, e também
mais sementes, para reiniciar o ciclo e generalizar o seu uso. O
objectivo era - e continua a ser - preservar e usar na própria
alimentação esse património que, em muitos casos, estava à beira de se
perder.
Hoje, com quase duas mil variedades no seu catálogo e muitas delas em
uso por parte dos sócios, a associação Colher para Semear também sonha
com o que deveria seguir-se: a generalização destas variedades
tradicionais na agricultura, no País. Isso, no entanto, ainda não será
para já.

Enquanto actividade económica, a agricultura - e não apenas em
Portugal - depende de pouco mais de duas dezenas de variedades de
produtos, e nada indica que isso esteja para mudar radicalmente. Mas
não deixa de ser um pobre panorama, quando comparado com a vasta
riqueza de espécies agrícolas que por cá existem. "Portugal é um dos
países europeus com maior diversidade e riqueza a este nível",
confirma Graça Ribeiro, um dos elementos da direcção da Colher para
Semear.
Por feliz coincidência, foi um almoço num restaurante de Lisboa, em
2006, que marcou o nascimento da Colher para Semear, uma associação
que hoje tem cerca de 280 sócios por todo o País e mantém um banco
vivo de quase duas mil variedades de sementes de frutas, legumes e de
cereais da agricultura portuguesa ancestral.
Os guardiões de sementes, que a própria associação forma em oficinas
ao longo do ano, são um dos pilares do trabalho desta rede de cidadãos
que está a preservar as variedades tradicionais. E cada guardião é
responsável por semear as plantas pelas quais decidiu
responsabilizar-se, estando obrigado a devolver depois à associação
uma parte das sementes resultantes.
O outro pilar da actividade da associação é a recolha de sementes no
terreno, para as preservar no seu banco. Em pontos recônditos do País,
zonas de microclima com práticas agrícolas próprias ou solos com
alguma particularidade, os elementos da Colher para Semear acabam
sempre por encontrar mais um melão que pode durar até ao Inverno, uma
laranja especialmente doce, ou um tipo de feijão mais nutritivo ou
resistente à seca.
José Miguel Fonseca, um agricultor de Figueiró dos Vinhos, era um dos
que há muito praticavam esta filosofia. Fez parte do núcleo fundador
da associação, é actualmente o presidente da direcção e é na sua
quinta, onde existem as condições ideais para isso, que está
depositado o já vasto património de sementes da Colher para Semear, em
frascos catalogados e mantidos à temperatura certa para a sua boa
conservação.
Todos os anos a Colher para Semear vai para o terreno, em determinada
região, para mais uma campanha de recolha de variedades tradicionais.
"Desde 2006, já fizemos recolha na península de Setúbal, em Odemira,
no planalto mirandês, Trás-os-Montes, no Alto Minho e em
Montemor-o-Novo", conta José Miguel Fonseca.
No próximo ano, a campanha segue para a serra do Caldeirão, no
Algarve, onde conta encontrar novas variedades adaptadas ao clima e
solo da região, mas talvez já em desuso, para as fazer renascer.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1738401

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