quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"Produzimos os melhores azeites do mundo"

Pedro Cruz, Presidente da Casa do Azeite
15 Dezembro 2010 | 08:00
José Miguel Dentinho
Houve uma alteração profunda na forma de fazer azeite em Portugal
Em Portugal, nos últimos anos, a área de olival cresceu
exponencialmente. A plantação, o trabalho no campo e a colheita são
hoje feitos com base nas mais recentes evoluções tecnológicas. E o
mesmo se passa nos lagares. Para Pedro Cruz, presidente da Casa do
Azeite, o resultado é evidente: a produção por hectare aumentou, os
custos baixaram, tal como o preço pago pelos consumidores. Com
melhores práticas, a qualidade melhorou, o que é atestado pelos
prémios internacionais conquistados pelas marcas portuguesas de
azeite.

Quais são os benefícios de se consumir azeite?
O azeite tem a grande vantagem de fazer a simbiose de benefícios
fantásticos relativos à saúde (do ponto de vista vascular e
cardiovascular e da pele), e do sabor. Junta, por isso, a saúde com o
sabor, o que constitui uma vantagem única e específica deste produto.
Qual é o actual panorama do consumo em Portugal e no mundo?
A nível mundial, a procura de azeite tem vindo a crescer de forma
sustentável, com alguns mercados a demonstrarem dinâmicas maiores do
que outros. Há mercados para além dos tradicionais da bacia
mediterrânica, como os Estados Unidos, que são o quarto consumidor
mundial, onde o consumo de azeite é elevado. Também há novos mercados
a crescer com grande dinamismo, como acontece com o Brasil. Mas também
há aqueles sobre os quais existem grandes pontos de interrogação, pois
não se sabe para onde vão evoluir. É o caso de países do sudeste
asiático, como a China ou a Índia, ou do Japão e Coreia do Sul, que já
tiveram fases de crescimento elevado e nos últimos tempos estagnaram.
Em Portugal, há condições para haver ainda aumento do consumo. Além
dos benefícios do azeite serem evidentes, o seu preço baixou, devido a
ser hoje produzido de forma mais eficiente e com custos de produção
mais baixos. E o País ainda tem consumos per capita pouco superiores a
50% face aos consumos de países como a Espanha, Itália ou Grécia.
Como é que está a mudar a tecnologia do sector ao nível da agricultura
e da transformação da azeitona?
Houve uma alteração profunda na forma de fazer olival em Portugal.
Hoje estão a ser utilizadas técnicas modernas de plantio, de irrigação
e maneio no campo, que permitem rendibilidades completamente
diferentes. A acrescentar a isso, a mecanização da colheita tornou
este negócio ainda mais interessante.
São factores que têm contribuído para a queda do preço do azeite, mas
têm causado, naturalmente, maiores dificuldades para aqueles que ainda
hoje têm olival tradicional. É algo que exige alguma reconversão,
talvez não tão rápida como o desejável, do olival tradicional.
Qual a influência, nessa mudança tecnológica, da entrada de espanhóis
no negócio em Portugal?
Os espanhóis ajudaram-nos muito pelas técnicas que trouxeram, pela
forma de plantar e irrigar. Ma também no que respeita aos lagares, que
são hoje muito mais eficientes, contribuindo para que o azeite que se
produz tenha uma qualidade muito melhor. Estamos a falar de práticas
completamente distintas. Esta evolução recente teve como base as
últimas tendências e o melhor que se faz no sector.
Hoje temos uma base plantada de olival e de lagares muito melhor. É
uma mancha evoluída de tecnologia e técnica como não existe em nenhum
outro sítio do mundo. Muito melhor do que há em Espanha e mesmo em
produtores emergentes, como o Chile.
"Portugal não pode concorrer nos mercados externos pelo preço"
Até há bem pouco tempo tínhamos de importar azeite. Já produzimos o
que consumimos?
A campanha deste ano tornará Portugal auto-suficiente pela primeira
vez desde a década de cinquenta, embora haja quem diga que isso só
acontecerá para o ano. Mas essa discussão é irrelevante.
O que está previsto é que o país passará de uma produção média anual
de 30 mil toneladas de azeite, o valor base do início da evolução
actual, para cerca de 100 mil toneladas. É um salto fantástico, porque
nos torna, de facto, exportadores líquidos de azeite, num sector que
cria muito valor na exportação.
Se o produto tiver origem em Portugal, permite que os operadores
estejam melhor posicionados para aproveitarem as oportunidades que
existem nos mercados internacionais.
Como é que o mercado externo tem sido conquistado?
O maior mercado externo de Portugal é o Brasil, onde o azeite
português tem uma quota de 52% do consumo total. Tem tido condições
naturais para crescer, uma vez que o rendimento disponível dos
brasileiros tem aumentado sustentadamente nos últimos 12 anos.
Por outro lado, a Casa do Azeite, associação que agrupa os interesses
de empresas do sector, tem feito, directamente e através dos seus
associados, investimentos no desenvolvimento da imagem do azeite
português nos mercados externos. É, por isso, que continuam a ser
desenvolvidas campanhas, umas apoiadas pela Agência para o
Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep), outras recorrendo
apenas a fundos próprios da associação.
Qual o papel dos pequenos produtores, com os seus azeites de quinta?
Há espaço para todos. Não acredito que Portugal possa concorrer no
mercado externo no azeite por uma questão de preço. Apesar de sermos
agora auto-suficientes, continuamos a representar menos de 5% da
produção total mundial de azeite. Não podemos concorrer, por exemplo
com a Espanha, que deverá estar a produzir cerca de 1,5 milhões de
toneladas de azeite por ano. A escala é completamente diferente.
Quando há alguém que é cerca de 15 vezes maior do que nós, é difícil
podermos concorrer através do preço. Temos de nos diferenciar. JMD
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