domingo, 16 de janeiro de 2011

Sector agrícola português perdeu meio milhão de hectares no espaço de dez anos

Por José Manuel Rocha
Recenseamento de 2009 realizado pelo INE mostra que aumentou a área
média por exploração, que a família continua a ser a base do sector e
que há menos cabeças de gado

A agricultura portuguesa conheceu, nos últimos dez anos, um claro
processo de ajustamento estrutural, com a área média das explorações a
aumentar 2,5 hectares, o que potencialmente as torna mais
competitivas. Mas, no mesmo período de tempo, o território dedicado à
prática agrícola recuou em quase meio milhão de hectares, o que não
deixa de ser preocupante, dada a forte dependência externa de Portugal
em produtos alimentares.
Os dados preliminares do Recenseamento Agrícola de 2009 (o censo
realiza-se de dez em dez anos como o da população), recentemente
disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram
que a área ocupada pela produção agrícola em Portugal correspondia a
cerca de 50 por cento da superfície territorial do país - 4,6 milhões
de hectares. Este valor representa um recuo de meio milhão de
hectares, o equivalente a 20 mil albufeiras do Alqueva.

Em 2009, os recenseadores do INE apuraram a existência de 304 mil
explorações agrícolas em Portugal. Este valor resulta do
desaparecimento de 112 mil empresas, cerca de 25 por cento das
existentes no estudo anterior (realizado em 1999). Conjugados so dois
factores anteriores, conclui-se que a área média das explorações
agrícolas aumentou 2,5 hectares, para 11,9 hectares, o que garante
economias de escala e torna a produção mais competitiva.
Mesmo assim, o sector continua a evidenciar imensos contrastes. Por
exemplo, o facto de três quartos das explorações agrícolas portuguesas
terem uma dimensão média abaixo dos cinco hectares, enquanto "um
reduzido número de explorações (cerca de 260), com mais de 1000
hectares, exploravam, em 2009, 12 por cento do total da superfície
agrícola.
Família predomina
O INE assinala que, apesar das mudanças na paisagem agrícola
portuguesa, 80 por cento do volume de trabalho realizado no sector
continua a depender da mão-de-obra familiar, reforçando assim a
permanência do retrato do agricultor típico como factor dominante. No
entanto, as explorações que já funcionam como empresas devidamente
estruturadas, apesar de serem apenas 2 por cento do total, cobrem uma
área que representa 25 por cento da superfície agrícola portuguesa.
No espaço de dez anos, o panorama agrícola português conheceu uma
evolução sensível. O INE assinala uma redução significativa das terras
aráveis e o aumento das pastagens permanentes, em termos relativos e
absolutos.
Os principais recuos evidenciados pelo censo encontram-se nas culturas
industriais (beterraba e tomate, por exemplo), na batata e nos
cereais. Também na fruticultura se verifica uma redução (25 por cento)
da área para a produção de frutos frescos tradicionais, enquanto sobe
(17 por cento) a que é dedica aos frutos sub tropicais, com o kiwi na
liderança clara deste incremento. A mudança do quadro de ajudas à
produção, no âmbito da Política Agrícola Comum, será uma das
explicações para esta evolução. Ao mesmo tempo, verificam-se aumentos
na utilização de área agrícola para culturas forrageiras, hortícolas,
flores e plantas ornamentais.
Do lado da prática animal, os resultados preliminares do censo
agrícola mostram que Portugal tinha, em 2009, 5,8 cabeças de gado,
menos 1,4 milhões do que dez anos antes. O definhamento do efectivo
animal é de cerca de 20 por cento. O volume de bovinos em exploração
manteve-se perto de 1,4 milhões de cabeças, salientando-se as perdas
significativas ocorridas nos suínos e nos ovinos. Neste caso, a
concorrência estrangeira, com explorações de muito maior dimensão,
apresenta preços muito mais competitivos a que os produtores
portugueses não conseguem responder.
Segundo os resultados do censo, o sector agrícola continuou a
envelhecer em Portugal: a idade média do produtor aumentou quatro anos
e cerca de metade dos agricultores têm mais de 65 anos. As mulheres
são apenas um terço do universo profissional do sector.
A actividade continua a não ser totalmente recompensadora. Apenas 6
por cento dos agricultores obtêm o seu rendimento exclusivamente da
actividade e 64 por cento declararam, no censo, que recebem pensões e
reformas.
http://jornal.publico.pt/noticia/16-01-2011/sector-agricola-portugues-perdeu-meio--milhao-de-hectares-no-espaco-de-dez-anos-21031080.htm

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