quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Associações de agricultores divididas por guerra na gestão da água de Alqueva

Por Carlos Dias
Empresa de Desenvolvimento de Infra-estruturas de Alqueva é criticada
por pretender chamar a si o controlo sobre os sistemas de regadio
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A gestão dos sistemas de rega programados para Alqueva está a dividir
as associações de agricultores. "O Estado não pode ser actor da
revolução" que está a percorrer os campos do Alentejo, reclama Castro
e Brito, presidente da Federação das Associações de Agricultores do
Baixo Alentejo (FABBA), sobre a gestão do regadio em 110 mil hectares.

A posição de Castro e Brito, numa entrevista ao semanário regional
Correio Alentejo, surge na véspera da divulgação do estudo sobre a
gestão integrada da valia agrícola, energética e turística do
empreendimento, que o ministro da Agricultura apresenta no sábado em
Beja. O presidente da FABBA acusa a Empresa de Desenvolvimento e
Infra-estruturas de Alqueva (EDIA) de ter um modelo estanque e de não
ter criado "um conselho consultivo", onde devem estar os agricultores,
através das suas organizações, lamentando que não sejam estas "a gerir
a água de Alqueva".
Os agricultores alentejanos "não precisam de anjos da guarda", diz
Castro e Brito, admitindo que a EDIA pretenda assumir esse papel.
Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo
Alentejo (AABA), que integra a federação, discorda das afirmações
"pouco fundamentadas e meramente pessoais" de Castro e Brito.
A AABA considera que a área regada por Alqueva apresenta "soluções
hidráulicas extremamente complexas e onerosas" em todo o seu sistema
de distribuição, sem paralelo no país. Por isso, "necessita de um
enquadramento legal diferente" dos aproveitamentos públicos
hidroagrícolas existentes. O sistema tradicional de gestão e
exploração dos perímetros de rega, prossegue Palma, tem-se revelado
"muito pouco eficiente", e apresenta um estado de conservação pouco
abonatório para as associações regantes que possuem um "know-how
tecnológico e baixo grau de especialização/formação", obrigando o
Estado a "injectar permanentemente quantias avultadas".
Este cenário leva a AABA a "temer" que o projecto Alqueva "possa vir a
ter vários sobressaltos", se não houver a "coragem de pôr os
interesses de determinadas associações ao lado do interesse regional e
nacional". A direcção da AABA decidiu "solicitar a sua demissão" da
federação.
A Associação de Beneficiários do Roxo, uma das visadas nas críticas de
Francisco Palma, "não se revê" naquelas declarações e frisa que a
posição da AABA "revela uma ignorância total" do papel que as
organizações têm tido e "desconhece" a capacidade técnica e de
especialização das associações de regantes. Quanto à dependência
pública, a associação garante que "é uma afirmação completamente
falsa, demagógica e irresponsável", uma vez que os orçamentos "em nada
dependem do Estado". Esta organização defende a participação dos
agricultores nos sistemas de rega, pois o modelo de gestão única
estará "condenado ao fracasso". A EDIA não comenta a troca de
acusações.
http://jornal.publico.pt/noticia/03-02-2011/associacoes-de-agricultores-divididas--por-guerra-na-gestao-da-agua-de-alqueva-21205606.htm

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