segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Paredes de Coura aposta na preservação de flor que só existe na Península Ibérica

Por Susana Ramos Martins
Município encomendou estudo ao Centro de Investigação em
Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-UP) e à Escola Superior
Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo


Imagine que é um cidadão chinês, que vive do outro lado do mundo e
quer ver narcisos-amarelos (narcissus cyclamineus). Tem duas
possibilidades: ou faz uma pesquisa no Google e olha para as imagens
encontradas na Net; ou mete-se no avião e vem até à Península Ibérica.
É que o Noroeste de Portugal e parte do litoral da Galiza são os
únicos locais do mundo onde ainda é possível encontrar esta flor em
estado selvagem.
Paredes de Coura, no distrito de Viana do Castelo, ainda é dos
concelhos onde é mais abundante esta planta de silhueta curva, que
parece debruçar-se sobre a água para contemplar a sua beleza
reflectida, como o Narciso da mitologia. A flor está, contudo, em
declínio neste território. A Câmara de Paredes de Coura está
preocupada e e encomendou um estudo ao Centro de Investigação em
Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto
(Cibio-UP), que contou com a colaboração da Escola Superior Agrária do
Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

Durante 2010, os investigadores estiveram no terreno a tentar perceber
as ameaças a esta planta endógena que o Plano Sectorial da Rede Natura
2000 definiu como uma espécie prioritária em termos de conservação. As
conclusões foram claras: a colheita da flor para fins comerciais, a
destruição das margens dos cursos de água - habitat privilegiado do
narciso amarelo - e a agricultura intensiva, que utiliza pesticidas,
são os principais responsáveis pelo declínio da população de narcisos
courenses.
O estudo, que custou dez mil euros, também aponta soluções para
estabilizar o número de exemplares desta flor. Segundo João Pradinho
Honrado, um biólogo do Cibio-UP que participou na investigação e na
redacção do estudo, que deverá ser apresentado em breve, a chave para
evitar a extinção do narciso-amarelo é mesmo a protecção do seu
habitat, nem que para isso seja necessário vedar alguns núcleos mais
ameaçados. Propõe ainda o condicionamento do acesso às margens dos
rios e a sensibilização da população local para a necessidade de
proteger esta flor.
"Ex libris do Alto Minho"
Pedro Sousa, técnico de gestão de Ambiente da Câmara de Paredes de
Coura, explica que outro dos objectivos do estudo, a publicar, é "a
irradiação das conclusões para toda a área de distribuição do
narciso-amarelo, de forma a serem adoptadas estas práticas de gestão
com vista à conservação desta espécie rara".
Atento à evolução do narcissus cyclamineus está o presidente da Câmara
de Paredes de Coura, Pereira Júnior. O autarca acredita que o
narciso-amarelo poderá tornar-se num ex libris do interior do Alto
Minho. "Sendo tão rara, a flor vai alimentar a curiosidade dos
entendidos nestas matérias, que quererão vir a Paredes de Coura para
verem in loco essa planta", afirma Pereira Júnior.
O cidadão chinês que não ficou satisfeito com as imagens oferecidas
pelo Google vai ter de esperar mais um pouco até comprar o bilhete de
avião para a Península Ibérica. É que o narciso-amarelo só floresce no
início da Primavera, mantendo a flor até meados de Maio.
http://jornal.publico.pt/noticia/08-02-2011/paredes-de-coura-aposta-na-preservacao-de-flor-que-so-existe-na-peninsula-iberica-21246336.htm

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