sábado, 5 de fevereiro de 2011

Quando nada se aprende com as crises

Opinião
Joana Amorim

00h09m
Chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) discutiram ontem
o futuro do euro, acreditando que a Europa vai sair mais forte da
crise da dívida soberana. O mesmo havia sido dito aquando da crise
alimentar de 2008. E o resultado está à vista.
Tirando uma ou outra excepção, os estados-membros, Portugal incluído,
nada fizeram para prevenir uma nova alta de preços. Como a que está
actualmente em vigor - na passada quinta-feira ficámos a saber que o
preço das matérias-primas alimentares estava ao nível mais alto dos
últimos 20 anos. Num país que importa quase metade do que consome,
como o caso de Portugal, soam as sirenes.

As causas são já conhecidas: uma forte pressão do lado da procura,
nomeadamente de países emergentes como a China e a Índia; a alta do
petróleo, que continua acima dos 100 dólares o barril; as alterações
climáticas, como os recentes fenómenos de cheias; o denominado mercado
das "commodities", que é como quem diz a acção dos especuladores
financeiros, ao que acresce ainda a apreciação do euro; e, por último,
a pressão da produção de etanol, nomeadamente nos EUA, no preço do
milho.
E o que fazer, então, tendo em conta que as variáveis não estão nas
nossas mãos? O titular da pasta da Agricultura entende que "é
inviável" Portugal ter reservas alimentares estratégicas, mas várias
vozes do sector dizem precisamente o contrário, dando o exemplo
francês. Como o defende, aliás, o Programa Alimentar Mundial.
Sem reservas, ficaremos então à mercê da volatilidade dos mercados? Ou
ficaremos à espera que a grande distribuição continue a assumir esse
aumento, não o reflectindo no consumidor? Sejamos claros, se esta
subida se prolongar no tempo vamos, todos, pagar mais caro pela comida
que pomos na mesa.
Vamos apostar na constituição das ditas reservas estratégicas e/ou
fomentar a produção nacional com vista a uma menor dependência do
exterior? Depois do que se passou em 2008, em que se chegou,
inclusive, a falar de racionamento, aconselha a prudência a que
ponhamos mãos ao trabalho. Para que possamos todos sair mais fortes de
mais esta crise.
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1776305&opiniao=Joana%20Amorim

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