segunda-feira, 21 de março de 2011

Floresta portuguesa "refém" de ciclo de fogo e abandono

21.03.2011
Helena Geraldes
Incêndios e invasão de espécies exóticas tornam as florestas pouco
atractivas para quem tem de as plantar novamente, do zero. O abandono
dos terrenos é, muitas vezes, a solução. Nas cidades, o cidadão vive
na "ilusão" de uma floresta que já não existe, diz a LPN.
No Dia Mundial da Floresta, que hoje se comemora, a Liga para a
Protecção da Natureza (LPN) vê "muito poucas" razões para celebrar. "A
evolução da floresta em Portugal tem sido no sentido de uma cada vez
maior degradação e insustentabilidade", considera, em comunicado, a
mais antiga organização não governamental de Ambiente do país, criada
em 1948.

"Há uma parte importante da nossa floresta que arde todos os anos.
Muitas vezes, esses terrenos acabam por ficar sem qualquer gestão",
abandonados, lembrou Joaquim Sande Silva, da LPN. "É muito difícil
voltar a recuperar estas áreas, fazer nelas algo de útil." "A
ocorrência de incêndios e a falta de incentivos financeiros têm
ajudado ao abandono de muitas parcelas de terreno florestal, por parte
dos proprietários."
A associação salienta que o país regista "valores relativos de área
queimada, e sobretudo de ignições, muitíssimo elevados" em comparação
com os outros países do Sul da Europa. No ano passado, a meta de um
máximo de 100 mil hectares de área queimada – definidos no Plano
Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios – foi ultrapassado.
Até Outubro tinham ardido mais de 128 mil hectares.
Além dos incêndios, a gestão das zonas florestais também é hoje alvo
de críticas da LPN. As Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) são "pouco
mais que figuras decorativas", com um funcionamento difícil, e o
Cadastro das Propriedades Florestais tarda em chegar, acrescenta. A
organização nota ainda a ausência do pagamento das externalidades
geradas pela floresta.
A Liga junta a esta lista as espécies exóticas, como algumas espécies
de acácia, que "formam complexos de combustível altamente susceptíveis
ao fogo" e cuja expansão é difícil de travar. O "Estado tem assistido
impávido" ao alastrar das áreas de eucalipto, por exemplo. "A situação
é tanto mais grave quanto a área de eucaliptal em Portugal é já
superior à de qualquer outro tipo de floresta". Segundo Joaquim Sande
Silva, esta situação é "fruto de décadas de políticas de fomento da
cultura do eucalipto. Criou-se a procura e, por isso, tem de haver
oferta". Mas ainda assim, "parte da área de eucalipto começa também a
ficar abandonada porque os pequenos proprietários não têm recursos nem
motivação para reconverter os terrenos que arderam ou no final do seu
tempo de exploração", notou o especialista da Escola Superior Agrária
de Coimbra.
"Desta forma parece vislumbrar-se um ciclo de degradação sem fim à
vista, perante a passividade e a falta de sensibilidade dos serviços
do Estado", constata a associação. As consequências são para todos:
economia, ambiente e sociedade.
Mas este cenário passa longe da ideia de floresta que têm os cidadãos
comuns, cada vez mais urbanos. "Há muito pouca informação por parte
dos cidadãos relativamente à real situação da floresta em Portugal, o
que faz com que a sociedade esteja muito pouco atenta aos problemas
existentes", nota. O cidadão "continua a viver sob a ilusão de uma
floresta inexistente em Portugal".
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1485989

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