terça-feira, 8 de março de 2011

Peritos alertam para risco de nova bolha imobiliária nos EUA

NYT
Económico
07/03/11 19:45
O preço dos cereais está a reforçar máximos desde o início do ano.

Os preços dos terrenos agrícolas estão a disparar nos EUA o que está a
preocupar alguns especialistas.
Um artigo intitulado 'In price of farmland, echoes of another boom', o
New York Times (NYT) alerta para o nervosismo crescente em torno de
uma possível nova bolha imobiliária no país, desta vez relacionada com
os terrenos agrícolas.

É que, segundo dados da Reserva Federal de Chicago, os preços da terra
para cultivo subiram 23% em algumas regiões do Iowa, por exemplo. Um
aumento significativo foi assinalado também nas outras regiões do
centro-oeste dos EUA, como é o caso do Illinois, Indiana, Kansas,
Minnesota e Nebraska.
"Parece que os preços estão a subir e a descer aos saltos" comentou ao
NYT Jeff Freking, que comprou recentemente um terreno de 80 acres, a
10 mil dólares por acre (cerca de 0,5 hectares). Há dois anos, Freking
comprou terras da mesma qualidade por apenas 6 mil dólares o acre.
A impulsionar os preços destes terrenos está a escalada das
matérias-primas nos mercados internacionais, sobretudo no que se
refere ao trigo, milho e soja. O preço do milho, por exemplo, já
praticamente duplicou nos últimos doze meses. Há uns anos os EUA
presenciaram uma situação idêntica, quando os terrenos agrícolas
valorizaram muito num curto espaço de tempo, devido ao aumento da
procura do milho para produção de etanol.
Ecos de uma nova bolha
Os analistas consultados pelo NYT estão particularmente receosos
porque o preço médio dos cereais está a aproximar-se, perigosamente,
dos níveis que atingiu há 30 anos, naquele que foi o pico do último
"desastroso ciclo de expansão e recessão para os terrenos agrícolas".
Thomas Hoenig, presidente da Reserva Federal de Kansas City, diz que"a
História nos ensinou que é quase impossível determinar até que ponto o
'boom' dos terrenos agrícolas se pode tornar uma bolha insustentável
impulsionada pelos mercados financeiros". E alerta para o risco do
valor dos terrenos caírem um terço, ou mesmo para metade, numa
situação como esta.
Os preços subiram tanto que a "situação está a ficar assustadora",
nota, por seu turno, Mike Green, leiloeiro de imóveis, que há pouco
tempo vendeu uma herdade a 11 mil dólares o acre, "um recorde",
segundo Green.
Richard Brown, economista da Federal Deposit Insurance Corporation
(FDIC),avisa que "os terrenos agrícolas são activos muito procurados,
num mundo onde muitas pessoas caíram em desgraça".
A agência, que faz seguros de depósitos bancários e monitoriza a
sustentabilidade financeira do sector, enviou cartas a avisar as
instituições de crédito para que não descuidem o rigor na concessão de
empréstimos, devido aos elevados preços dos terrenos. "Se for uma
bolha, está na fase de formação", notou Brown.
A valorização destes terrenos depende de vários factores. Colheitas
como milho, trigo e soja costumam provocar uma subida dos preços, e
consequentemente, a terra na qual são cultivadas valoriza-se.
Os juros baixos também contribuem: atraem investidores que procuram
uma alternativa a investimentos de baixo retorno e à volatilidade das
bolsas, e incentivam os produtores a comprar mais terra em vez de
investir o lucro em outros activos.
Empréstimos e esquemas
Uma das grandes preocupações dos reguladores, diz o NYT, é que os
produtores comecem a contrair empréstimos sobre propriedades que já
possuem, com base nos elevados valores de hoje, e que usem os recursos
para adquirir mais terra ou fazer outras aquisições. Este esquema
assemelha-se ao que os produtores faziam há 30 anos, e ao que os
proprietários de habitações fizeram antes da explosão da bolha
imobiliária.
Jason Henderson, um dos vice-presidentes da agência de Omaha da
Reserva Federal de Kansas City, disse ao jornal norte-americano que
ouviu, da parte de banqueiros, que este esquema pode voltar a
concretizar-se.

O responsável alerta ainda para o facto destas valorizações estarem a
atrair cada vez mais especuladores. Segundo uma pesquisa da Iowa
State University, os investidores foram responsáveis por 25% das
aquisições no Estado no ano passado, o que representou um ligeiro
aumento em relação a 2009.
"Muitos podem não ser aqueles que apresentam a oferta final, mas são
eles que fazem os lances", garantiu um outro leiloeiro à publicação.
Apesar de todos os receios, não há unanimidade quanto ao aparecimento
ou não desta bolha.
Michael Duffy, um economista especializado em agricultura, da Iowa
State University, considera que o mercado parece fundamentalmente
saudável e que o aumento dos preços dos terrenos acompanham a subida
dos preços das matérias-primas. "Se tem uma terra boa, ela vale muito
dinheiro", afirmou.
"Se analisarmos a história desde o início da agricultura nos Estados
Unidos até agora, verificamos que a tendência no longo prazo foi de
crescimento", disse Bruce Brook, o corretor que vendeu os terrenos a
Jeff Freking.
"Haverá flutuações do mercado. Mas não me surpreenderei se, daqui a
dez anos, pagarmos 20 mil dólares por um terreno pelo qual pagámos 10
mil dólares", concluiu.

http://economico.sapo.pt/noticias/peritos-alertam-para-risco-de-nova-bolha-imobiliaria-nos-eua_112805.html


Artigo do NYT aqui: http://www.nytimes.com/2011/03/04/business/04farms.html

Sem comentários:

Enviar um comentário