domingo, 27 de março de 2011

Rupturas põem em risco sistema de rega do projecto Alqueva

Canal que custou 65 milhões de euros acumula detritos
27.03.2011 - 12:04 Por Carlos Dias
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As recriminações mútuas persistem entre a Associação de Regantes da
Obra de Rega de Odivelas (ABORO), sediada em Ferreira do Alentejo, e a
Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA).
O projecto do Alqueva tem tido diversos contratempos que vão adiando o
seu aproveitamento total

(António Carrapato)
Causa directa: as anomalias que persistem em condicionar o
funcionamento do primeiro perímetro de rega da era Alqueva, inaugurado
em Fevereiro de 2002, em vésperas de eleições para a Assembleia da
República. Custou 65 milhões de euros.
Boa parte dos três troços do canal adutor - que transportam, ao longo
de 17 quilómetros, a água armazenada na barragem de Odivelas, para
irrigar os 5900 hectares do perímetro de rega da infra-estrutura 12 -
está coberta de detritos, lenha, entulhos vários e erva.
O PÚBLICO percorreu alguns dos troços da estrutura de rega e pôde
observar o cenário atrás descrito. O sinal mais preocupante reside no
livre acesso a toda a gente ao canal principal, colocando em risco de
segurança os seus equipamentos.
Aos roubos de portões e da rede metálica, junta-se o furto de painéis
solares fornecedores de energia aos sistemas de controlo do volume e
pressão da água que circula na rede de rega.
Manuel dos Reis, presidente da ABORO, confirma que "há portões
danificados e actos e vandalismo" que se torna impossível controlar,
admite. Também a tela geotêxtil que protege as paredes de parte do
canal afectadas por fissuras, "com as amplitudes térmicas e com o sol
a incidir sobre ela, retrai-se e vai encolhendo cada vez mais". Com o
peso da água que circula, "não suporta a tensão que é exercida e rasga
na zona onde está fixa".
Referindo-se aos problemas de manutenção do canal, o presidente da
ABORO justifica a acumulação de detritos com a necessidade que há em
fornecer água para rega, que não deixa nem tempo nem condições para se
proceder à limpeza do equipamento.
"Construiu-se mal, houve dinheiro muito mal gasto e, até agora, "nem a
EDIA nem o Estado resolveram o problema" queixa-se o presidente da
associação, destacando que desde a entrada em funcionamento da
infraestrutura 12, em 2004, já foram detectadas "cerca de 300
rupturas". Também o betão com que foi construído o canal onde surgem
novas fissuras "é poroso e perde um elevado volume de água", acentua.
Confrontado com as acusações da ABORO, o presidente da EDIA, Henrique
Troncho, diz que foram substituídos "todos os troços de condutas" que
registavam rupturas, sugerindo ao presidente da associação que as
contextualize, ou seja, "quantas rupturas aconteceram, e onde, após a
substituição das condutas".
Referindo-se à tela geotêxtil, Henrique Troncho adianta que o problema
reside na forma como a manutenção é feita, "nomeadamente com o recurso
a maquinaria para desbaste de vegetação" e, nessa circunstância, a
empresa "não se comprometeu" a substituí -la. Fa-lo-á quando se tratar
de um problema "devidamente enquadrado em sede de gestão de garantias"
que é de 10 anos. Foi colocada em 2004.
Os problemas de porosidade do betão do canal estão resolvidos nos seus
três troços", garante o presidente da EDIA. Um com recurso à tela e
dois com recurso a soluções indicadas pelo Laboratório Nacional de
Engenharia Civil.
Reportando-se à falta de manutenção do canal adutor, o presidente da
EDIA refuta os argumentos de Manuel dos Reis, lembrando que o uso
constante de água na estrutura em causa "só é justificável em anos
secos, o que não tem sido o caso dos últimos anos".
O estado actual da infra-estrura 12 induz Henrique Troncho a tecer
considerações sobre o modo de gestão dos perímetros de rega de
Alqueva, uma matéria que se está a revelar polémica. "É por ter a
noção que estes problemas acontecem que faz sentido analisar a
hipótese de uma gestão integrada e conjunta dos Perímetros de Rega do
Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva", defendeu.
http://economia.publico.pt/Noticia/rupturas-poem-em-risco-sistema-de-rega-do-projecto-alqueva_1486973

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