segunda-feira, 16 de maio de 2011

Exportação de pêra-rocha a crescer

Reino Unido, França e Brasil absorvem 75 por cento
16.05.2011 - 08:38 Por Carlos Cipriano
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Portugal produz 200 milhões de euros de pêra-rocha e vende para o
estrangeiro 150 milhões.
Portugal produziu 171 mil toneladas de pêra em 2010
(Paulo Ricca/Público)

Foi em ambiente de festa, sem lamentos nem queixas, que decorreu na
passada segunda-feira o XVI Encontro Anual dos Produtores de Pêra
Rocha (ANP). Num jantar servido num armazém, rodeado de máquinas
calibradoras e com menu baseado em produtos regionais, juntaram-se 200
pericultores (produtores de pêra) para celebrar mais um bom ano de
produção e venda de pêra-rocha.
Nas conversas à mesa falou-se da crise, claro, mas nos discursos
oficiais ninguém pediu subsídios nem o ministro da Agricultura,
António Serrano, que esteve presente, ouviu quaisquer reivindicações
de uma classe habitualmente atreita a pedir apoios.
Os números são expressivos: em 2010 Portugal produziu 171 mil
toneladas de pêra-rocha, das quais exportou 80 mil toneladas,
sobretudo para o Reino Unido (27 por cento do total de exportações),
França (25 por cento) e Brasil (24 por cento). O quarto país de
destino já fica a uma diferença abissal dos três primeiros - é a
Rússia, com 5,4 por cento das exportações, seguido da Irlanda, com 5,1
por cento.
União fez a força
Torres Paulo, presidente da ANP, diz que na campanha do ano passado
facturaram-se 200 milhões de euros, dos quais 150 no mercado externo.
Esta associação representa 2500 pericultores, responsáveis por um
volume de vendas de 120 milhões de euros. Quatro delas - Unirocha,
Coopval (ambas do Cadaval), Granfer (Óbidos) e Primofruta (Bombarral)
- venderam 44 mil toneladas para o estrangeiro, o que significa 54 por
cento das exportações.
A associação de pequenos produtores individuais em cooperativas ou
sociedades por quotas, e a fusão de empresas agrícolas para ganharem
maior massa crítica e obterem economias de escala, tem sido um dos
segredos do êxito, bastante elogiado por António Serrano.
"Associaram-se, ganharam dimensão e souberam projectar-se", disse o
ministro, para quem este modelo deveria ser replicado para outros
sectores como os hortícolas e as flores.
Numa época em que não basta pôr as pereiras a produzir pêra-rocha, a
criação de valor passa também pela competência técnica, pelo domínio
dos circuitos de comercialização e pelo marketing e publicidade. E
essa é outra das explicações pelas quais o sector triplicou em cinco
anos o volume de exportações. Uma das inovações tecnológicas são as
câmaras de atmosfera controlada, que substituem as de frio, onde a
fruta é mantida sem oxigénio, podendo conservar-se durante muitos
meses com as mesmas características de quando acaba de ser colhida.
Por outro lado, os agricultores sujeitaram-se a exigências invulgares
noutros congéneres de outras áreas. Para além da colocação de retretes
amovíveis nos pomares durante as colheitas, as inúmeras certificações
obrigam a procedimentos rigorosos na forma de cuidar dos pomares, no
manuseamento das pêras e no seu armazenamento e transporte.
Os próprios pericultores são obrigados a fazer cursos de reciclagem
para se poderem manter as certificações ambientais, nas colheitas é
obrigatório o uso de luvas e nas centrais fruteiras há roupa
apropriada, touca para a cabeça, luvas e uma forte implementação de
hábitos de higiene. "Depois disso a fruta já pode ir para o
supermercado, onde qualquer um lhe pode tocar nas prateleiras, mesmo
que tenha as mãos sujas", ironizava um dos agricultores durante o
jantar.
Visto país a país, Portugal é o maior mercado da pêra-rocha,
absorvendo uma quarta parte da produção nacional. As grandes e médias
superfícies asseguram 64 por cento do escoamento e a indústria,
sobretudo a dos sumos, 19 por cento. É aqui que se podem situar alguns
lamentos. "Tendo em conta a importância do mercado português, o país
está em recessão e isso é um problema. O que nos levou a apostar nas
exportações foi o aumento da produção de pêra-rocha e a capacidade dos
nossos empresários em levar este fruto de Portugal para numerosos
outros mercados", diz Torres Paulo, que tem notado um aumento do
consumo de pêra-rocha no nosso país nos últimos anos, mas que é
inferior ao crescimento da capacidade produtiva.
Um fruto sem cópias
Por outro lado, as pessoas estão cada vez mais sensíveis à saúde e à
importância da fruta na dieta alimentar, o que, para este dirigente,
dá resposta ao crescimento das produções. E há outro factor decisivo:
a pêra-rocha é única.
"Não existe em mais lado nenhum. Embora existam experiências de
produção no Brasil e em Espanha, o fruto que daí resulta tem
características diferentes do que é produzido na nossa região". Vanda
Rodrigues, gerente da CPF - Central de Produção e Comercialização de
Hortofrutícolas, confirma esta vantagem comparativa de um fruto que
não só não se produz no estrangeiro, como em Portugal se circunscreve
à Região Oeste. Tem a ver com o clima e as condições dos solos,
explica.
Esta empresa é também um exemplo de associação de produtores. Foi
criada no Bombarral em 1997 e tem dez sócios que pertencem a este
concelho e aos de Cadaval, Alcobaça, Caldas da Rainha, Torres Vedras e
Mafra. No total, são dez explorações com 205 hectares que se situam
nesses concelhos. Noventa e cinco por cento da produção é pêra-rocha.
Em 2010 a empresa produziu 10.500 toneladas e facturou 8,5 milhões de
euros. Oitenta por cento da sua produção tem como destino o Brasil,
cinco por cento vai para a Rússia e o mercado nacional tem uma quota
de 15 por cento. "É sempre um risco estarmos tão dependentes do
Brasil, mas temos lá clientes desde o Norte ao Sul do país e esta foi
uma opção dos nossos sócios que, antes de se juntarem, vendiam para
lá".
Um sinal de que o sector vive dias felizes e tem credibilidade é o
acesso ao crédito. "A banca bate-nos à porta", diz Torres Paulo. Coisa
rara num período em que o crédito escasseia. "Isso significa que somos
estáveis e temos futuro porque os nossos empresários reinvestem o que
ganham em vez de retirarem dividendos", refere.
http://economia.publico.pt/Noticia/exportacao-de-perarocha-a-crescer_1494304

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