terça-feira, 10 de maio de 2011

Preservar pastagens que reduzem o uso de adubos

A Fertiprado já provou que é possível criar pastagens ricas em
biodiversidade, mais produtivas e com menor pegada ecológica. E ainda
poupar dinheiro.
Virgílio Azevedo (www.expresso.pt)
17:21 Terça feira, 10 de maio de 2011
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A Herdade dos Esquerdos, perto de Vaiamonte, na estrada que liga
Monforte a Portalegre, é um símbolo da diversidade que existe em
Portugal. Nos seus 364 hectares de área encontram-se muitas espécies
vegetais em quatro solos diferentes em termos geológicos. "Por isso
mesmo, as nossas grandes variações de clima e de solos estimulam a
biodiversidade", argumenta David Gomes Crespo.

Aos 79 anos, este engenheiro agrónomo e investigador, que já percorreu
meio mundo como especialista da FAO (Organização da Alimentação e
Agricultura da ONU) e fundou a Fertiprado, continua muito ativo como
diretor científico "da única empresa da Península Ibérica
especializada em prados e sementes, e uma das poucas da Europa", com
filiais em Espanha, Itália e no Uruguai e 37% das suas vendas no
mercado externo. A Fertiprado e o Instituto Nacional de Recursos
Biológicos (INRB) ganharam o Prémio BES Biodiversidade com o projeto
de pastagens biodiversas ricas em leguminosas, que aposta em processos
"que vão melhorar ao mesmo tempo o ambiente, a produção e a qualidade
da erva para a criação de gado". E tudo "a custos mais baixos",
insiste David Crespo.
Anular ou reduzir o uso de adubos azotados
Com efeito, este tipo de pastagens "permite a fixação biológica de
elevadas quantidades de azoto atmosférico, anulando, ou reduzindo
substancialmente, o uso de adubos azotados que, além de poluírem os
aquíferos de nitratos, envolvem no seu fabrico grandes quantidades de
energia fóssil, com libertação de gases de efeito de estufa", explica
Ana Barradas, responsável pela Divisão de Experimentação e
Melhoramento da empresa.
Doutorada em Produção na Universidade da Extremadura (Badajoz), com
uma tese precisamente sobre pastagens biodiversas, a investigadora faz
as contas: "Com este projeto, passámos de 1% a 1,5% para 3% a 5% de
matéria orgânica por hectare, o que significa que por cada 0,2% de
matéria orgânica a mais há cinco toneladas de dióxido carbono
retiradas da atmosfera; assim, conseguimos fixar 110 toneladas de CO2
por hectare".
O aumento de matéria orgânica no solo, rica em carbono, melhora a sua
estrutura e fertilidade, as capacidades de infiltração e de retenção
de água, com diminuição dos riscos de seca e de inundação. E as
pastagens têm um impacto positivo na paisagem, na flora e na fauna
envolventes, podendo ser uma ferramenta útil no controlo dos fogos
florestais. Um estudo recente do INRB e do Instituto Superior Técnico
concluiu que as pastagens biodiversas ricas em leguminosas são várias
vezes mais eficientes do que as pastagens naturais no sequestro de
CO2.
Como destaca Benvindo Maçãs, coordenador da unidade de investigação do
INRB em Elvas, "hoje enfrentamos o duplo desafio de aumentar a
produção de alimentos com respeito pelos recursos naturais, e o
sistema desenvolvido aqui dá mais resistência às pastagens e tem um
potencial de aplicação em 50% da superfície agrícola útil em Portugal,
isto é, cerca de dois milhões de hectares".
Texto publicado na edição do Expresso de 7 de maio de 2011
http://aeiou.expresso.pt/preservar-pastagens-que-reduzem-o-uso-de-adubos=f648077

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