terça-feira, 21 de junho de 2011

A mão-de-obra que veio do Oriente para a agricultura do Alentejo

19 de Junho, 2011por Paula Melo dos Santos, da Agência Lusa
Descritos como disponíveis, experientes e competentes, os tailandeses
são as mais recentes 'estrelas' dos campos agrícolas alentejanos e
aproveitam a preferência para realizar sonhos no país natal.
Ema Oliveira, directora de Recursos Humanos da Camposol II, empresa do
sector agrícola instalada na Herdade dos Nascedios, em Vila Nova de
Milfontes, concelho de Odemira, diz ser «difícil» encontrar
portugueses que queiram trabalhar no campo, pois estes «preferem
trabalhar os meses de verão no turismo», além das dificuldades
colocadas por as pessoas viverem dispersas em relação à empresa, o que
obriga a uma grande organização para transportá-las.

Implantada no litoral alentejano desde 1993, devido ao clima, ao tipo
de solo e à disponibilidade de água, a empresa conheceu, há cerca de
10 anos, um grande crescimento, tendo começado a sentir dificuldade em
conseguir mão-de-obra nacional.
Nessa altura, recorreram à contratação de trabalhadores da Europa de
Leste, sendo que quatro desses homens permanecem na empresa
praticamente desde então, como é o caso de Igor Gorbunov, 41 anos,
russo, engenheiro aeronáutico, que defende que, com dois filhos para
criar, «todos os trabalhos são iguais».
Em Dezembro do ano passado, a empresa contratou 15 tailandeses, por
ter tido boas referências destes trabalhadores por parte de empresas
da região.
De acordo com Ema Oliveira, as expectativas confirmaram-se, pois os
tailandeses são «disponíveis e têm muita força de vontade para
trabalhar», apresentando «vantagens» em relação aos trabalhadores de
Leste, como a «humildade».
Além disso, «estão habituados a trabalho de campo», acrescentando que,
por vezes, algumas das pessoas que contrata «não têm noção» do que é
trabalhar na agricultura, aparecendo «de havaianas» ou não se
lembrando de levar água e lanche, por exemplo.
Lénia Matias, chefe da equipa onde os tailandeses estão integrados,
confirma que estes são «pessoas calmas», que entendem o que lhes é
explicado «logo à primeira», embora tenha de ser através de linguagem
gestual.
A dificuldade de comunicação é sentida quando se tenta fazer algumas
perguntas a Phongthep Chamraksa, 30 anos, mas recorrendo a gestos e
palavras escritas na terra fértil, enquanto ata mais um molho de salsa
de raiz acabada de colher, o homem explica que está há cerca de um ano
em Portugal e que está a gostar.
Produzindo 150 hectares de relva e 400 hectares de hortícolas, como
espinafres, rabanetes, nabos, cenouras, abóbora e salsa de raiz,
essencialmente para exportação, a Camposol paga aos seus trabalhadores
agrícolas 500 euros mensais e subsídio de alimentação. Com as horas
extraordinárias, podem ganhar até 900 euros por mês, além de um prémio
de produtividade.
É também a empresa que disponibiliza o transporte, o alojamento e
ajuda os mais inexperientes nas idas ao supermercado, ao correio e ao
banco.
As burocracias relacionadas com a inspecção do trabalho e a renovação
de vistos ficam a cargo da empresa de recrutamento com a qual
trabalham.
Rute Silva, directora de recursos humanos da recém-criada filial da
empresa de recrutamento tailandesa May Day Placement Co. Ltd, explica
que uma das grandes vantagens dos trabalhadores tailandeses em relação
aos portugueses ou outros europeus tem que ver com o «gosto» pela
agricultura.
Têm também uma produtividade 20 a 30 por cento acima dos outros
trabalhadores, por manterem o mesmo ritmo durante todo o dia, mas
ficam em Portugal apenas o tempo suficiente para conseguirem «realizar
os seus sonhos» na Tailândia, como «comprar casa».
Tags: Agricultura, Imigração, Alentejo, Sociedade
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=22056

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