terça-feira, 26 de julho de 2011

Bragança: Associações querem evitar extinção das espécies

Apanha regulamentada
Os apanhadores de cogumelos silvestres que se dedicam à sua
comercialização vão ser, a breve prazo, obrigados a ter uma carta de
apanhador. A determinação consta do novo regulamento florestal, a
publicar até ao final do ano, e é uma exigência com mais de duas
décadas das associações micológicas.
23 Julho 2011Nº de votos (1) Comentários (1)
Por:Secundino Cunha

"Nós queremos que acabe a apanha desenfreada, sem quaisquer regras, de
maneira a que se preserve o equilíbrio ecológico e garanta a
subsistência das espécies", disse ao Correio da Manhã Manuel Moreda, o
presidente da Associação Micológica Pantorra, com sede em Mogadouro.
Para este responsável, se a apanha não for devidamente regulamentada e
os apanhadores não tiverem formação, "em pouco tempo mataremos esta
galinha dos ovos de ouro".
Nos distritos de Vila Real e Bragança, com destaque para Vinhais,
Bragança, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, Vimioso, Vila Pouca de
Aguiar, Chaves, Ribeira de Pena, Valpaços e Boticas, há mais de dez
mil pessoas que se dedicam à actividade, sobretudo na época de Outono.
Estima-se que, por ano, na área destes concelhos sejam colhidas cerca
de 1600 toneladas de cogumelos silvestres, num negócio que já ascende
aos oito milhões de euros.
A maioria dos cogumelos colhidos na região é vendida para Espanha,
onde há empresas que certificam e fazem distribuição para toda a
Europa.
"O cogumelo silvestre é cada vez mais procurado, por isso temos de
trabalhar no sentido de o defender", diz Manuel Moreda.
FAÇO 15 A 20 MIL EUROS POR ANO
António Azevedo, morador de uma aldeia do concelho de Vimioso, passa
os meses de Outubro e Novembro por montes e vales à procura de
cogumelos. É assim desde há quinze anos e, assegura, continuará a ser:
"Enquanto Deus me der vida e saúde e a actividade compensar".
"Tenho dias de apanhar quinze quilos de cogumelos de várias espécies,
sobretudo boleto e lactário, que se dá nos pinhais", disse ao CM este
agricultor que não tem dúvidas em afirmar que ganha mais com os
cogumelos do que com o trabalho de um ano inteiro na terra.
"Faço 15 a 20 mil euros por ano, em média. Há anos melhores, com
condições climatéricas mais favoráveis e outros mais secos, mas vai
dando para o sacrifício", afirma António Azevedo.
DISCURSO DIRECTO
"A PROCURA EXCEDE A OFERTA", Manuel Moreda, Presidente da Associação Pantorra
CM - É verdade que os cogumelos silvestres estão na moda?
Manuel Moreda - Cada vez mais. A procura excede largamente a oferta e
esse é o nosso grande problema.
- Como assim?
- Os cogumelos são uma grande riqueza e a sua apanha é muito rentável.
Ora, apanha-se sem quaisquer regras, o que pode comprometer a produção
a breve prazo.
- Há assim tanta gente a apanhar?
- Muita mesmo. No Outono, vemos todos os dias carrinhas e carrinhas
carregadas de cogumelos a caminho de Espanha.
- O que deve fazer-se?
- Deve regulamentar-se a actividade e fiscalizá-la.
COGUMELOS ATRAEM CLIENTES A MOGADOURO
A promoção que, nas últimas duas décadas, tem sido feita à actividade
micológica e a utilização cada vez mais frequente do cogumelo
silvestre na gastronomia, tem atraído clientela de todo o País aos
restaurantes de Mogadouro.
"Vem cá gente do Porto, de Braga e até de Lisboa à procura do que é
realmente genuíno, de algo diferente, que não conseguem encontrar
noutro lugar", diz Eliseu Amaro, um cozinheiro que desde há 46 anos
utiliza o cogumelo silvestre na confecção dos seus pratos.
"Sabe que não tem nada a ver o aroma e o poder gostativo dos cogumelos
de estufa comparados com os selvagens. É, se quiser, como comparar um
frango de aviário com um verdadeiro pica-no-chão", explicou ao CM
Eliseu Amaro.
Referindo que "o mundo micológico é fantástico", Eliseu Amaro sublinha
que "a riqueza gastronómica dos cogumelos é inesgotável e cada vez
mais apreciada".
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/apanha-regulamentada

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