segunda-feira, 4 de julho de 2011

Olival com árvores centenárias e milenares ainda resiste nos arredores de Serpa

04.07.2011
Carlos Dias
Olivais antigos estão a desaparecer para dar lugar a novas plantações
em regime intensivo. Apoios do Estado não os abrangem por não
atingirem a densidade mínima por hectare.
"Dá gosto ver estas árvores com muitos séculos", diz Ferreira
Fernandes, professor reformado e agricultor, orgulhoso do seu feito:
recuperou um conjunto de oliveiras, dispersas por 15 hectares, com um
diâmetro de caule ressequido que, nalguns casos, ultrapassa os 8,5
metros.

O problema de Ferreira Fernandes é que a densidade deste olival
(número de árvores por hectare) é tão pequena que não é reconhecida
pela legislação em vigor para poder beneficiar dos apoios à manutenção
das explorações olivícolas - isto apesar de se tratar de um olival
que, "mais do que tradicional, é monumental". Sem querer especular,
diz ser proprietário, no meio de centenas de árvores muito antigas, de
umas sete dezenas com "muitos séculos" e de algumas com "mais de mil
anos".
Com formação em Agronomia e ex-professor da Escola Profissional de
Desenvolvimento Rural de Serpa, sempre viveu, desde que nasceu há 64
anos, ligado ao olival. Ajudou o pai a plantar oliveiras e a recuperar
o património familiar de árvores seculares. "Conheço exemplares do
género noutros países mediterrânicos" que são apadrinhados por pessoas
amigas das oliveiras, para garantir a sua manutenção, ou então são
protegidos em jardins e parques. Em Portugal, afirma, não existem
estas formas de apoio, nem quaisquer outras.
A falta de protecção pública ou privada cria condições para a
especulação na venda das espécies monumentais. Basta consultar a
Internet para verificar a abundância da oferta de oliveiras
centenárias e milenares. No Alentejo são inúmeros os vendedores deste
património que está a ser sacrificado de forma galopante ao plantio de
olival intensivo e superintensivo.
Ferreira Fernandes, ao contrário, insiste em manter as suas árvores
junto ao IP 8, a caminho de Vila Verde de Ficalho e a meia dúzia de
quilómetros de Serpa. Para superar as dificuldades financeiras que a
manutenção do histórico olival implica é forçado a vender a azeitona a
uma cooperativa, perdendo-se a qualidade única da sua produção nos
lotes resultantes da sua mistura com a azeitona corrente.
O ideal, explica, seria a criação de um azeite de quinta, tal como já
acontece na região espanhola da Andaluzia, onde há cooperativas a
embalar a produção com o rótulo de centenário ou milenário, para o
colocar em nichos de mercado muito exigentes. Trata-se, afinal, de
azeite proveniente de árvores que terão sido plantadas por romanos ou
gregos.
"Mas eu não tenho pedalada económica" para uma iniciativa semelhante,
reconhece o proprietário do olival que diz ser "provavelmente" o mais
antigo do mundo, excluindo, portanto, a existência de espécies
isoladas mais antigas.
Antes de iniciar o processo de recuperação das árvores seculares,
Ferreira Fernandes nunca tinha ultrapassado as 20 toneladas de
azeitona numa colheita. Depois de o ter renovado - tratando as copas
de maneira a ficarem mais próximas do chão, tendo em vista o seu
varejamento mecânico -, "nunca mais ficaram abaixo das 30 toneladas".
Em 2010 atingiu as 84 toneladas, mas as árvores "cansaram-se" com um
tal volume de produção e, no ano seguinte, observou-se "um efeito
depressivo" e de redução na quantidade produzida, ficando pelas 34
toneladas.
Em Serpa, diz Ferreira Fernandes, "há muitos olivais antigos, que
mereciam um pouco mais de atenção". Se não houver apoio ou não for
estabelecido um programa para a sua preservação, "o mais certo é serem
abandonados ou substituídos por olivais modernos", avisa, acalentando
a esperança de que os seus descendentes ou futuros proprietários "não
destruam" um olival que é contemporâneo ou até anterior à
nacionalidade portuguesa, e que conseguiu chegar aos dias de hoje.
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1501406

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