quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Crise de 2008/20… Que futuro?

OPINIAO

Pedro C. de Barros

Ao longo do ano de 2008, falei da crise dos cereais, indicando um
conjunto de factores que me pareciam ser as causas mais prováveis de
uma crise que tocava em factores como o clima, OGM e política
energética.
Em simultâneo, centrava a crise, essencialmente, na União Europeia.
Humildemente, tenho de reconhecer que nunca pensei que a especulação
bolsista sobre as commodities atingiria os níveis a que agora
assistimos e que "desregularam" os mercados para a completa
irracionalidade.

Teremos também que ter em conta a hecatombe que caiu sobre o mundo
financeiro a partir dos EUA (crise dos "activos tóxicos") e que
rapidamente se estendeu, praticamente, a todo o mundo, com maior
ênfase à Europa e, dentro desta, à Zona Euro com os problemas da
chamada Dívida Soberana. Portugal foi particularmente atingido por
esta última como de um terramoto da magnitude 10 se tratasse.
O desemprego disparou, o poder de compra caiu, o crédito desapareceu,
os juros cresceram e … o mal-estar e a incerteza quanto ao futuro,
apoderaram-se das pessoas, das famílias, das empresas e das
Instituições.
A crise sente-se, particularmente, ao nível da agro-pecuária,
espartilhada entre custos de produção continuamente crescentes e um
bloqueio ao nível dos preços de venda dos seus produtos.
É evidente que a crise é generalizada mas a agricultura e os seus
agentes não podem ser condenados pelo simples facto de estarem ligados
a um Sector que tem sido olhado mais como um estorvo que como um
sector primário essencial para a independência alimentar do nosso
País.
Os agricultores têm direito à dignidade e a serem tratados como tal.
Não podem ser condenados à miséria porque aceitamos alimentar uma
população em crise com produtos alimentares importados que, com
dumping e "falinhas mansas", vamos fazendo chegar a Portugal, embora
os produzamos e que são condição de sobrevivência de uma percentagem,
ainda pesada, da nossa população, só porque a Grande Distribuição
Organizada os coloca no mercado com maior margem de lucro se for
buscar esses mesmos produtos a terceiros países. Era bom que os
consumidores tivessem consciência de tudo isto.
É em momentos como este, que estamos a viver, que se deve ser
solidário e procurar essencialmente o que produzimos e incentivar os
actores a aplicar-se cada dia com mais afinco no amanho da terra e no
trato dos animais, pagando-lhes os produtos do seu labor a preços
justos. A agricultura que temos não tem culpa das carências com que
foi brindada pela localização, clima e tipo de terra.
Dito isto voltaria para explicar a razão do título destas notas: a
"Crise de 2008/20…". É assim porque não tenho noção de quando
terminará a crise, apenas tenho a certeza que será lá para 20…, nunca
antes.
Parece-me certo que ou são tomadas medidas correctoras dos factores
que impedem a agricultura portuguesa de se desenvolver e cumprir, como
é seu dever, os objectivos para que existe ou então, assumimos que foi
intencionalmente que comprometemos a nossa agricultura, a nossa
paisagem rural e … o ambiente a que temos direito.
A Indústria dos Alimentos Compostos para animais está exangue. Chegou
ao limite das suas capacidades de endividamento para manter o crédito
aos produtores pecuários (seus clientes), com o prazo médio de
recebimento a rondar os 5 meses ou seja, créditos de clientes de 350
M€.
Mas isto não é um mal exclusivamente português … é um mal europeu, de
uma Europa que teima em olhar para o umbigo, de uma Europa a pensar no
seu cómodo presente e enterrar a cabeça na areia para não ter, porque
não quer, ouvir falar do futuro, de uma Europa de Nações cada dia mais
egoístas, de uma Europa hipócrita para com os seus concidadãos, de uma
Europa que não quer acreditar que já não é o Centro do Mundo, de uma
Europa que está a perder a corrida do desenvolvimento sustentado,
enfim, de uma Europa que se está a autodestruir.
Se eu tiver razão, e sinceramente espero que não, então o nosso futuro
e especialmente o dos meus filhos e netos, estarão comprometidos para
muitos e muitos anos e o título desta reflexão bem poderá ser:
"A crise de 2008/até a Europa querer pensar no futuro, de uma forma
solidária, sustentável e humana social, económica e ambientalmente"
Caramulo, Agosto de 2011
Pedro Correia de Barros,
Presidente da Direcção da IACA
http://www.agroportal.pt/a/2011/pcbarros.htm

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