quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Reportagem: José e Manuela perderam a vindima este ano

19 de Agosto de 2011, 15:47
José e Manuela, viticultores de Palmela (Setúbal), perderam este ano
cerca de 90 por cento da sua produção por causa do míldio, um fungo
que impediu as uvas de crescerem. Os prejuízos rondam os 80 mil euros.
Este casal de agricultores, com 74 e 64 anos, respetivamente, tem
cerca de 15 hectares de vinha junto ao Poceirão, Palmela.
Num ano "normal", conseguem vindimar cerca de 180 toneladas de "boa
uva", para fazer os vinhos premiados da Piriquita ou Aragonês. Mas
este ano não foi assim.

"Os anos não são todos iguais, mas este ano até fazia à volta de 200
mil quilos de uva. Mas se conseguir apanhar 15 a 20 mil já será tudo.
Isto são 70 a 80 mil euros de prejuízo", disse José Augusto Silva.
Não se sabe bem o que deu origem à doença que faz secar as uvas: "Se
foi o mau tempo, a temperatura, mas começámos a notar o mal em meados
de maio", contou o agricultor.
"O míldio é assim, vem com a humidade e não deixa que as uvas cresçam
ou seca as que já nasceram", constatou.
Entre a vinha, onde os cachos de uvas secaram e caíram no chão e as
parras acastanhadas, Maria Manuela Carreira, lembrou que "o primeiro
mal era um pozinho no cacho".
Começou-se "a curar", de acordo com "um remédio que a engenheira [da
Adega Cooperativa de Pegões] disse que fazia bem".
No entanto, " em vez de fazer bem queimou os cachos todos e
desapareceram as uvas. Não tratou, só fez foi pior", afirmou Manuela.
Emocionado, José "não sabe como vai ser" o futuro. Teme um "mal muito
grande" e pede ajudas ao Governo.
"Sem ajudas não sei como é que a gente se vai defender. Vivemos disto,
da agricultura. Já estamos um bocadinho endividados porque no ano
passado já houve muita queima, mas ainda se salvou muita uva. Mas com
um prejuízo destes, gastou-se milhares e milhares de euros em
trabalhos e não sei como é que a gente se vai defender", lamentou.
O caso de José e Manuela não é único na região. A Associação de
Agricultores do Distrito de Setúbal estima que 80 por cento da uva
produzida pelos cerca de mil viticultores da zona "esteja
completamente perdida".
"Há proprietários que pura e simplesmente não vão fazer a vindima,
porque é um custo acrescido ao prejuízo que já têm e não compensa. É
uma situação que nos preocupa porque pode comprometer a produção
futura", descreve o presidente daquela associação, Joaquim Calçoete.
Os agricultores apelam, por isso, a um apoio governamental: "Um bom
apoio nesta situação de calamidade era uma linha de apoio a fundo
perdido", pediu Joaquim Calçoete.
A associação acompanhou na quinta-feira a Direção Regional de
Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo numa visita a várias
vinhas afetadas pelo míldio e, após um relatório desta entidade, vai
solicitar, novamente, uma reunião com a ministra da Agricultura, Mar,
Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas, para pedir
apoios.
@Lusa
http://noticias.sapo.pt/infolocal/artigo/1178493.html

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