domingo, 11 de setembro de 2011

Comprar, guardar, beber, mas por que ordem?

Vinhos
Luís Antunes
11/09/11 08:12

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2009 é o quarto Porto Vintage declarado nesta década. Mas nem todas as
principais casas declararam. Entre os líderes, o grupo Fladgate lançou
com pompa os seus vinhos

No Vinho do Porto, os anos não são "declarados Vintage". Nem há
"declarações generalizadas" nem "single-quintas", nem vinhos
"off-vintage". Tudo isso são jargões do 'trade'. Aliás, 'trade' já é
um jargão do 'trade'. O que acontece com os Vinhos do Porto Vintage é
o seguinte: um produtor escolhe um lote que considera excepcional dos
seus vinhos. Cerca de ano e meio depois da vindima submete-o ao
Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP, veja-se o seu site
recheado de informações). O lote é apreciado e se o vinho tiver
"características organolépticas de excepcional qualidade, [for]
proveniente de uma só vindima, retinto e encorpado, [... e tiver],
aroma e paladar muito finos" (cito o Regulamento 242/2010), o vinho é
aprovado como Vintage. É a glória. O Vintage é o topo de gama da
família de Portos conhecida como Rubies, os Portos tintos e retintos,
que envelhecem em ambiente redutor (ou seja, sem grande contacto com o
oxigénio). O Vintage deve ser engarrafado entre dois a três anos após
a vindima, e nos melhores casos evolui favoravelmente em garrafa
durante anos e anos, ou mesmo décadas a chegar, por vezes a passar o
século.
Resumindo, só um vinho é que pode ser "vintage". Um ano não, mas
chama-se "ano vintage" quando as principais casas declaram as suas
principais marcas. Hoje em dia, com a moderna viticultura e enologia,
pode-se fazer um Vinho do Porto com qualidade suficiente para ser
vintage todos os anos. Assim, quando a quantidade é menor ou quando os
interesses comerciais o recomendam, as casas declaram os "single
quintas", vinhos de uma só quinta, naturalmente menos complexos do que
os vintages usuais, já que estes vão buscar as várias nuances à
combinação de 'terroirs' disponíveis para o 'master blender'.
Um outro conceito que aparece com alguma frequência é a 'split
declaration', quando casas importantes divergem sobre qual dos anos
merece ser "clássico". Foi o que aconteceu em 1991 e 1992, quando o
grupo Fladgate Partnership (Taylor's e Fonseca) escolheu 1992, e o
Grupo Symington (Graham's, Warre's, Dow's) escolheu 1991. Sempre
deixando o outro ano para single-quinta. Não nos esqueçamos de que
quando se propõe declarar um vintage, já a nova colheita está dentro
da adega, logo podem-se provar ambos os vinhos e escolher em qual se
aposta. Em 1992 as decisões foram diferentes para estes dois grandes
grupos.
Uma situação que de certa forma se repetiu em 2009. No grupo Fladgate
não é vulgar haver quatro declarações "clássicas" na mesma década
(2000, 2003, 2007, agora 2009). Segundo David Guimaraens, os próprios
vinhos é que desde o princípio exigiram ser Porto Vintage. Tendo-os
provado pacatamente enquanto uma janela espreitava o rio Douro, a
partir de Gaia, percebo o que Guimaraens quer dizer. Os 2009s não têm
a frescura firme dos 2007s, nem sequer a luminosidade perfumada dos
2008s (estes, single-quintas). Mas afirmam-se majestosamente
compactos, clássicos, profundos.
Os grandes vintages poderiam ser colocados numa balança, com a
Fladgate de um lado, os Symignton do outro, e a Quinta do Noval a
servir de pêndulo. Com a Quinta do Noval a não declarar qualquer
vintage em 2009, resta-nos olhar para o outro prato da balança. No
grupo Symington, 2009 foi um ano para baralhar. A maioria dos vinhos
será single quinta, sendo a excepção o Warre, como homenagem ao
Capitão William Warre, herói do cerco do Porto em 1809. Serão apenas
500 caixas (de 12 garrafas) deste vinho que se arrisca a esgotar-se só
dentro da numerosa família Symington. Uma declaração usual da Warre
são 6 ou 7 mil caixas. Os restantes vinhos serão de quinta, deixando o
'terroir' expressar-se de uma forma mais livre. A regra entre os
ingleses era comprar para os filhos, enquanto se ia bebendo o que os
pais tinham comprado. Isto permitia desfrutar dos vintages na sua fase
de grande esplendor, entre os 20 e os 50 anos de vida. Comprar, sempre
às caixas, claro. Assim cada colheita pode ser avaliada, e a caixa
pode ser debulhada mais ou menos rapidamente consoante o que o vinho
pede e a prova vai ditando. Felizes dos filhos com pais assim, porque
devemos admitir que a recente vertigem de aviar os vintages todos logo
na infância é uma tonteira. Gulosos e sedutores, sim! Mas a
complexidade, a suavidade, a grandiosidade, a elegância de um grande
Porto só aparece com os anos. Os grandes vintages agradecem o carinho
que se lhes dá durante a guarda. Tirar as teimas sobre esta questão
não é difícil. Graças ao recente aumento dos vintages na saída,
conseguem-se arranjar no mercado (ou em leilões, mas com prudência)
vintages já com idade em cima a bons preços. Comprar, guardar e beber
é assim uma equação que cada família resolverá por si. Começar por
beber o que está por casa por vezes não é fácil, mesmo agora que as
noites refrescam e já pedem um Porto. Mas somos novos, vamos sempre a
tempo de começar uma tradição familiar.

Dow's Quinta Senhora da Ribeira 2009
Uma quinta emblemática para a família Symington, e nuclear para o
Vintage Dow's. O aroma foca-se em chocolate, fruta vermelha e preta,
folhas, pimenta, minerais, com exuberância contida. Elegante e bonito.
Redondo e robusto, com taninos firmes bem envolvidos, açucarado,
tostados de cacau, final sério, seco, austero, complexo. Porto Vintage
(20%) Symington Family Estates Preço aproximado 50€ 18.5 valores
Taylor's Vargellas vinha Velha 2009
Este é um vinho extraordinário, proveniente de uma vinha muito velha
na Quinta de Vargellas. Rivaliza em prestígio e preço com o Quinta do
Noval Nacional, sendo feito de uma forma independente das restantes
declarações clássicas ou não da casa. Mostra tinta da China, fruta
preta e azul, grafite, incrivelmente focado, muito tenso e vibrante.
Bem definido, fresco, muito texturado, com boa secura, taninos
precisos, todo tensão e volúpia. Mistura a força madura do Fonseca com
a focagem e frescura do Taylor's. Porto Vintage (20.5%) Quinta and
Vineyard Bottlers 190 €
19.5 valores
Taylor's 2009
O Vintage Taylor's é um dos grandes vinhos do mundo. Este 2009 mostra
fruta azul, grafite, chocolate, folhas e flores, reservado, com tensão
e complexidade, mas não exuberância. Seco e picante, texturado, com
taninos vivos. Fresco, contido, longo, tem tudo no sítio, mas num
registo de elegância, contenção.. Porto Vintage (20.5%) Quinta and
Vineyard Bottlers Preço aproximado 74 € 19 valores
Warre's 2009
Um Warre's clássico, comemorativo da libertação do Porto, na qual
esteve envolvido o Capitão William Warre. Muito bonito e elegante, com
complexidade indistinta, entre fruta azul, vermelha e preta,
chocolate, minerais, flores secas, especiarias finas. Aveludado, com
taninos elegantes e acidez alta. Robusto, mas muito equilibrado e
sofisticado. Porto Vintage (20%) Symington Family Estates Preço
aproximado 65€ 18.5 valores

http://economico.sapo.pt/noticias/comprar-guardar-beber-mas-por-que-ordem_126265.html

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