quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Produtores de leite com a corda ao pescoço

por Margarida Bon de Sousa, Publicado em 21 de Setembro de 2011 |
Actualizado há 5 horas
Preço por litro mantém-se nos 30 cêntimos, quando todos os factores de
produção aumentaram significativamente

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Os produtores de leite de Portugal continental estão a ver as suas
margens de lucro completamente esmagadas, naquela que é a maior crise
de que há memória no sector. Há empresas que estão a fechar as portas,
asfixiadas pelos custos incomportáveis dos factores de produção, que
subiram significativamente ao longo dos últimos dois anos, enquanto o
preço do leite se manteve no patamar dos 30 cêntimos. Dois exemplos de
factores de produção que sofreram um agravamento significativo: a
electricidade e as rações, que não se repercutiram no preço pago à
produção.

As falências no sector têm subido em flecha, sendo possível que neste
momento já estejamos a correr o risco de ter de importar leite, em vez
de abastecermos o mercado interno em perto de 100%.
"Se continuarmos assim, há muitas explorações que não vão aguentar
muito mais tempo" disse ao i José Oliveira, vice-presidente da CAP,
que ontem participou num debate organizado pela confederação sobre
esta problemática, a da carne e a dos ovinos. Portugal é o país da
União Europeia a 15 onde o leite pago à produção é mais barato. A
França, a maior exportadora deste grupo, paga aos seus produtores
muito mais que o preço praticado no continente português. A Nova
Zelândia tem vindo também a subir o preço do litro, pagando agora 31
cêntimos, contra os 25 de há dois anos. Também os Estados Unidos
fizerem o mesmo, estando agora a pagar 37 cêntimos, contra 27.
Um dos maiores problemas na actual situação prende-se com a situação
de monopólio quase absoluto da Lactogal, que compra 97% do leite para
o embalar nos pacotes de UHT distribuídos no Continente. "É mau para o
produtor e é mau para o consumidor. Têm de se criar condições para
haver outros operadores, porque a continuar assim não vamos conseguir
abastecer o mercado nacional como hoje acontece", disse José Oliveira.
Na carne, o dirigente associativo reconhece que nos falta dimensão das
áreas para podermos ser competitivos. "Sofremos a concorrência da
Europa", diz, e por isso temos de apostar nas raças autóctones, que
são únicas, têm uma qualidade extraordinária e são um segmento onde
falta oferta." O responsável dentro da CAP por estes dois sectores
defende que "é preciso apostar nestas raças, aumentando os incentivos
à produção". E dá exemplos: a raça alentejana, que já está em todas as
grandes superfícies, a carne mirandesa e a barrosã, que "têm excelente
qualidade e se forem apoiadas, têm todas as condições para se
afirmarem pela diferença", defendeu.
http://www.ionline.pt/conteudo/150770-produtores-leite-com-corda-ao-pescoco

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