sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Uma aposta no futuro Brics

30 Setembro 2011 | 08:51
Patrícia Abreu - pabreu@negocios.pt
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No centro do crescimento da economia global, os BRICS oferecem boas
oportunidades. A expectativa que a expansão robusta destes países se
mantenha, associada aos bons fundamentais das economias, suportam a
aposta. Contudo, a curto prazo, a pressão da crise da dívida é um
risco real.

A expectativa é que em 2050 dominem a economia mundial. Embora ainda
longe desse objectivo, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul) já têm um papel de relevo. Isso mesmo prova o facto de se
terem disponibilizado para participarem numa solução para a crise das
economias do chamado mundo desenvolvido. É uma viragem na estrutura do
poder mundial. E a expectativa é que sejam os emergentes o motor da
economia global.
"Esperamos que as economias emergentes contribuam para perto de 70% do
aumento no PIB global em 2011", adiantou Hugo Bain, ao Negócios. Para
o responsável pelos mercados emergentes da Pictet, apesar de as
avaliações nestes países estarem em níveis historicamente atractivos,
a curto prazo, o desempenho está condicionado pela evolução da crise
da dívida soberana.
As oportunidades de investimento nestas regiões são "óbvias". Maarten
Jan Bakkum, estratega para as acções dos mercados emergentes do ING,
destaca os fortes fundamentais em termos económicos, bem como as
demografias favoráveis. Porém, o responsável alerta que há um "senão",
que os torna "vulneráveis". A maioria destes países são conduzidos
pela procura das economias industrializadas, pelo que um abrandamento
económico vai pesar no seu balanço.
Para a Pictet, estes riscos são bem reais e a gestora admite que, a
curto prazo, há espaço para maiores desvalorizações, criando "uma
forte oportunidade de compra".
Neste sentido, Hugo Bain destaca que é necessário algum "alívio" na
crise da dívida soberana e nas dúvidas em torno do andamento da
economia mundial, antes das acções recuperarem.
Em 2011, as bolsas dos BRICS não escapam às quedas, arrastados pelo
sentimento negativo que se abateu sobre os mercados accionistas.
Perante esta maior aversão ao risco, os investidores têm privilegiado
os chamados activos de refúgio, como o ouro.
Perante este ambiente de desconfiança, os especialistas têm vindo a
alertar que os BRICS podem ser parte da solução para esta crise. E,
após vários responsáveis terem chamado estes países a participar na
reposição da normalidade nos mercados, o conjunto deu uma resposta
positiva, abrindo espaço para uma participação activa do "clube".
Os BRICS estão "abertos a considerar, se necessário, fornecer apoio
através do FMI ou outras instituições financeiras internacionais", de
modo a repor a estabilidade financeira, adiantou o grupo em
comunicado.
Oportunidades evidentes, mas com riscos
A opinião dos especialistas é consensual. Apesar do contexto, há boas
oportunidades nestes mercados para quem investe a longo prazo. "A
industrialização desses países está a acontecer agora, seja pela
criação de novas indústrias seja pela deslocalização das existentes",
realçou Pedro Borges, director da Orey Financial. Para o responsável,
"o motor económico do mundo" deslocou-se para os emergentes.
Neste sentido, é fundamental distinguir realidades e países, de modo a
identificar as melhores oportunidades. A China é um dos mercados que
recolhe a preferência dos gestores.
"A China e a Índia são mercados atractivos devido às boas perspectivas
de crescimento, num mundo em que o crescimento é cada vez mais
escasso", sublinha o estratega do ING. Já o responsável pelos mercados
emergentes da Pictet mantém a aposta na China. Contudo recomenda
evitar o mercado indiano. Em termos sectoriais Hugo Bain elege o
consumo discricionário, financeiro e as telecomunicações.
Para Pedro Borges, "todos os sectores no âmbito do sector primário
[agricultura e exploração de matérias-primas], bem como o sector
financeiro, que o está a financiar, têm enorme potencial de
crescimento continuado na próxima década".
Os BRICS, cuja origem remonta a 2003, quando o Goldman Sachs criou a
sigla original BRIC, para agrupar um conjunto de países que antecipa
que sejam dominantes em 2050. Até lá, deverão continuar no centro do
crescimento económico mundial.
Brasil
Oportunidades, mas com ameaças
É actualmente um dos países mais populares entre os mercados
emergentes. Mas, é também o mais penalizado. Desde o início do ano, o
índice Bovespa desvaloriza mais de 22%, penalizado pela crescente
aversão dos investidores ao risco perante sinais de enfraquecimento
das economias desenvolvidas.
Para os especialistas, o mercado brasileiro ainda oferece boas
oportunidades de investimento. Contudo, há algumas condicionantes na
económica do país. O crescimento está a abrandar e a inflação
permanece elevada, realça o ING, lembrando que o banco central
brasileiro cortou os juros recentemente, justificando a medida com a
deterioração da economia. Para o banco de investimento, por tudo isto,
o Brasil "é um dos mercados emergentes mais vulneráveis".
Rússia
Acções com forte desconto
Um pouco à semelhança do que acontece com outros mercados emergentes,
também a Rússia tem sido arrastada pela turbulência nas bolsas
mundiais. Os receios de uma nova crise mundial e o anúncio inesperado
de novas medidas de estímulo económico por parte da Reserva Federal
dos EUA penalizaram as acções russas. Desde o início do ano, o Micex
cai já mais de 17%. Estas fortes perdas colocaram as acções do país a
negociar com um forte desconto, com um PER (rácio cotação/lucro) de
5,25 vezes. Entre os BRIC, é o mercado que apresenta um maior
diferencial entre a expectativa de resultados e o valor das acções.
Em termos de crescimento, as previsões do Fundo Monetário
Internacional (FMI) apontam para uma subida do PIB de 4,3% este ano e
de 4,1% em 2012.
Índia
Inflação centra preocupações
Depois de ter crescido acima dos dois dígitos em 2010 (10,1%), a
economia indiana deverá expandir-se 7,8% este ano. Já para 2012, as
estimativas do FMI apontam para uma subida do PIB na casa dos 7,5%.
Taxas de crescimento bastante elevadas, ainda que inferiores às
registadas no ano passado, e que contrastam com crescimentos quase
nulos ou mesmo quedas do PIB nas maiores economias do mundo. Ainda
assim, a bolsa de Bombaim perde cerca de 20% em 2011, penalizada pelos
receios que as subidas dos juros realizadas pelo banco central da
Índia para travar a subida da inflação agravem os efeitos da crise do
mundo industrializado na economia do país. Em 2012, o índice de preços
no consumidor na Índia deverá baixar para os 8,6%, face aos 10,6%
antecipados para o final deste ano.
China
PIB cresce abaixo dos 10%
A China tem cada vez mais uma palavra a dizer no andamento da economia
mundial. Apesar da expectativa de um crescimento na casa dos 9% em
2012 - o valor mais baixo em 10 anos - o país deverá manter um ritmo
de expansão superior à média dos restantes mercados emergentes. A
maioria dos especialistas mantém um posicionamento optimista para o
mercado chinês, num momento em que se antecipa uma estabilização da
inflação. Apesar do abrandamento da economia mundial, o aumento do
poder de compra dos chineses poderá ajudar as companhias do país a
compensarem a quebra da procura externa. Um factor de preocupação, a
médio prazo, diz respeito à dívida, no seguimento de uma mudança em
torno dos empréstimos não bancários, realça a Schroders.
África do Sul
O "caloiro" do grupo
É o "caloiro" do grupo. Convidada a integrar o "clube" no passado mês
de Dezembro, a África do Sul ainda não é reconhecida por muitos
investidores como um BRIC, mas promete dar que falar. Enquanto a
maioria das economias do mundo se debatem com um abrandamento, a
África do Sul está em pleno desenvolvimento. Após uma expansão de 2,8%
no ano passado, o país deverá avançar 3,4% em 2011 e 3,6% em 2012. Em
termos bolsistas, a praça de Joanesburgo desce uns meros 5,6% desde
Janeiro e acumula um desempenho positivo no último ano. O índice
FTSE/JSE valoriza mais de 5% nos últimos 12 meses. Devido ao facto de
ser muito recente no grupo dos BRICS, os fundos de investimento
disponibilizados em Portugal ainda não incluem a África do Sul nas
suas carteiras.

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