terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vinho: Produtor diz que principal concorrência vem de quem faz "dumping"

O produtor e enólogo José Neiva Correia lamenta que a maior
concorrência aos tradicionais produtores de vinhos portugueses venha
actualmente de pessoas que, há alguns anos, entraram no sector porque
«produzir vinho era chique».
Para Neiva Correia, os concorrentes dos vinhos portugueses não são
neste momento os produtores do Novo Mundo, mas pessoas que há uns anos
«entraram para o sector para se nobilitarem» e que estão agora a
oferecer os seus produtos a preços que não cobrem os custos de
produção, fazendo "dumping".

«Isso está a trazer graves prejuízos ao sector, porque essas pessoas
não estavam preparadas e têm dificuldade em vender o vinho que já
estavam a acumular em stock, e já não têm sequer dinheiro para
investir» no armazenamento, pelo que estão a oferecer «abaixo do preço
de custo», disse.
Neiva Correia, que exporta a quase totalidade das seis milhões de
garrafas que produz anualmente, disse à Lusa que o mercado interno,
onde vende 10 por cento da produção, é «muito difícil».
O enólogo critica principalmente as grandes superfícies, porque
«alteram as regras a meio do jogo», sublinhando que a aposta da sua
empresa, a DFJ Vinhos, é «desbravar terreno» junto de cadeias locais,
garrafeiras e no mercado eureka, restaurantes e hotéis.
A DFJ quer duplicar a produção nos próximos três anos, tendo passado
já de uma enchedora de 20 bicos para uma de 50 e substituído um
rolhador de uma cabeça por outro de três.
«Estou a tentar, através de economias de escala, ser mais competitivo
e tentar dar o salto em frente. Produzir mais, vender mais, imputando
os custos administrativos a um volume maior», afirmou.
No seu entender, Portugal tem que procurar que a crise se transforme
numa oportunidade, dando aos consumidores vinhos «bastante melhores e
a um preço bastante mais baixo», mas nunca vendendo abaixo do preço de
custo, porque «isto é uma actividade económica e toda a actividade
económica visa o lucro».
Frisando que Portugal «tem bons vinhos», Neiva Correia considera que a
prática que iniciou «há bastantes anos», de fazer vinho ao gosto do
consumidor, «pode ser uma mais-valia» para o país, sublinhando a
importância das exportações como um dos factores mais importantes na
resolução dos problemas que o país atravessa.
Contudo, frisou a dificuldade em levar o consumidor estrangeiro a
conhecer a qualidade dos vinhos produzidos em Portugal, pelo que, além
do preço competitivo, a DFJ aposta na apresentação das suas garrafas,
sendo os seus rótulos feitos em Inglaterra e alguns na Austrália.
«É preciso conhecer muito bem o sector. É quase preciso nascer-se
nele, poder sentir estas coisas, ter formação na área», afirmou. «Há
uns seis anos disse numa entrevista que havia pessoas que não eram do
sector e que tinham entrado para se nobilitarem, que se queriam
promover socialmente e acharam que o vinho era uma forma de
conseguirem isso. Previ que isso ia trazer problemas porque este é um
sector difícil, com crises cíclicas», acrescentou.
Fonte: Lusa
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2011/09/26c.htm

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