quarta-feira, 2 de novembro de 2011

«É necessário tirar mais partido da floresta»

Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural esteve em Seia
Daniel Campelo participou no Seminário da URZEDaniel Campelo
participou num seminário da URZE onde salientou que os portugueses
devem «valorizar» tudo o que a floresta nos pode dar mas que só «nos
momentos de crise é que dão valor à terra e à floresta».
O Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural marcou
presença, no dia 7 de Outubro, na cerimónia de abertura do Seminário
"O valor dos Bens Públicos da Floresta de Protecção nas áreas de
Montanha", promovido pela URZE – Associação Florestal da Encosta da
Serra da Estrela.

Daniel Campelo salientou que a iniciativa constituiu «uma oportunidade
para discutir um dos temas mais importantes para Portugal», país que
«não tem dado, na devida proporção, a importância que a floresta
deveria merecer e que merece». A esse propósito, o governante fez
referência a um estudo realizado em 1994 e que ficou conhecido como «o
famoso relatório do Michael Porter» onde «já se identificava, com
conhecimento e com dados bastante profundos, a floresta em Portugal
como o recurso natural mais importante que o país tinha, e tem, mas
também se identificava como uma das áreas mais abandonadas». Disse
que, passado este tempo, «algumas coisas mudaram» porque «se ganhou
consciência do valor e do potencial que a floresta tem para o país e
para o bem-estar das pessoas».
Sociedade tem que reflectir sobre o que pode tirar da floresta
Defendendo que «ninguém pode pensar em floresta sem pensar na
biodiversidade e na conservação da natureza», Daniel Campelo
considerou que no ano em que se celebra o Ano Internacional da
Floresta «é uma oportunidade para a sociedade reflectir sobre o que
pode tirar mais da floresta e daquilo que pode dar mais à humanidade
com a floresta».
Devendo «valorizar-se» tudo o que a floresta nos pode dar, Daniel
Campelo frisou ser necessário «tirar mais partido da floresta» e que o
facto de o país «atravessar uma situação dramática do ponto de vista
económico», os portugueses podem «ter alguma esperança» de que apesar
«desse drama e dessas dificuldades», há uma «janela de grandes
oportunidades para a floresta e para a agricultura em geral».
Aproveitou para referir que a floresta já representa 11 por cento do
total das exportações portuguesas, sendo o terceiro exportador
nacional a seguir à GALP e à Autoeuropa. «Temos que olhar para a
floresta com uma postura de mais valor, de maior importância e de
futuro», salientou o secretário de Estado, que referiu também que os
portugueses, por tradição, «olham para a propriedade rústica com algum
desprezo e muitas vezes de total abandono».
«É mais barato abandonar a terra do que geri-la»
Destacou que a realidade não é igual em todo o país, dizendo que «é no
Centro e no Norte que existe a maior importância e a maior
possibilidade de crescimento da floresta, por ser também aí que existe
a maior percentagem de abandono da terra». Tal deve-se ao facto, de
acordo com Daniel Campelo, porque as pessoas descobriram «que é mais
barato abandonar a terra do que geri-la». Considera que isto tem que
ser alterado e que «temos que olhar para a terra como um valor maior,
estável», tendo pena que «só nos momentos de crise é que as pessoas
dão valor à terra e dão valor à floresta». Lembrou que a floresta
emprega hoje, em Portugal, 260 mil pessoas «e pode empregar muito
mais», mas, para isso, «temos que criar mecanismos que incentivem as
pessoas a juntaram-se, a vender, a alugar para que a terra possa ser
melhor aproveitada».
O governante considera que seminários como o da URZE são fundamentais
para que a «floresta entre mais na agenda política e nas preocupações
das pessoas e, obviamente, possa dar mais ao país» porque «é qualidade
de vida e bem-estar».
Empenhado em que as pessoas «tirem da floresta o máximo do seu
potencial» e estando numa área que tem sido muito flagelada por muitos
incêndios, «temos que pensar a sério e irmos à raiz de reordenamento e
ordenamento florestal». «Uma floresta devidamente ordenada é capaz de
produzir três a quatro vezes mais de uma floresta desordenada»,
sublinhou.
Daniel Campelo tem a esperança de que o seminário atinja os seus
objectivos e que «ajude a comunidade que vive em volta de um espaço
tão bonito e tão fantástico como é a Serra da Estrela, que ajude essa
comunidade a aproveitar mais do seu território e que ajude essa
comunidade a ter [ainda] mais qualidade de vida», mas «temos é que ter
uma estratégia para que a floresta possa preservar essa qualidade e,
se possível, aumentar essa qualidade ambiental», finalizou.
Seia «pretende ser um modelo no que diz respeito à floresta»
José Mota, presidente da direcção da URZE, destacou a presença do
governante no seminário, «o que atesta a sua importância», até porque,
reúne «alguns dos melhores especialistas nacionais nesta matéria». O
dirigente destacou o trabalho que a URZE vem desenvolvendo nos últimos
anos, nomeadamente enquanto entidade gestora de 12 Zonas de
Intervenção Florestal (ZIF).
«Conhecer melhor os benefícios da floresta para que lhe possamos
atribuir um valor» foi, segundo José Mota, um dos objectivos do
seminário, que serviu também para «pensar a ocupação da Serra da
Estrela, a mais importante serra húmida de Portugal». A esse
propósito, considerou ainda que «fazer floresta na Serra da Estrela
não é o mesmo que fazê-lo na Planície de Setúbal ou no Vale do Sousa»,
lembrando ser «necessária uma gestão que tenha em conta factores como
a água ou os fogos florestais».
Cristina Sousa, vice-presidente do Município de Seia, destacou a
«pertinência de temática» do seminário, evidenciando também algumas
das medidas que a autarquia tem promovido em defesa e promoção da
floresta, «uma prioridade» para a autarquia, «que pretende ser um
modelo no que diz respeito à floresta».
A vereadora destacou os «projectos pioneiros» como as Plantas
Aromáticas e Medicinais do Parque Natural da Serra da Estrela, «que
necessita do apoio do Governo» e aproveitou para anunciar a realização
de um outro seminário que o Município irá promover nos dias 19 e 20 de
Novembro, subordinado ao tema "Floresta Autóctone – Valorização e
Protecção" (ver notícia).
Lívia Madureira, do CETRAD – Centro de Estudos Transdisciplinares para
o Desenvolvimento, destacou o facto de ter sido a URZE a «procurar
apoios e conselhos» da comunidade científica «na busca de soluções
para problemas concretos como o desenvolvimento sustentável da
floresta, numa região como é a Serra da Estrela».
Campelo desafiado a participar numa reunião de trabalho
No final da cerimónia de abertura, José Mota convidou Daniel Campelo a
marcar presença numa reunião de trabalho que a URZE possa realizar nos
concelhos de Seia, Gouveia ou Manteigas para, «sentados à mesa,
possamos dizer o que é que está mal e o que é que está bem». A
intenção do presidente da direcção da URZE é que, no terreno, possam
ser solucionados alguns problemas «como aqueles que atingem as
entidades gestoras das ZIF's». O governante aceitou o desafio e
sublinhou que a sua função «é estar disponível» para essas discussões
e de que «não tem medo» das reivindicações.
http://www.portadaestrela.com/noticia.asp?idEdicao=347&id=15282&idSeccao=3308&Action=noticia

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