quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uvas que "dão 'show'" nas cadeias de supermercados

NOVEMBRO: MÊS DA ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS

por LUÍS GODINHOHoje


Herdade Vale da Rosa. Em Ferreira do Alentejo nascem uvas capazes de conquistar apreciadores por todo o mundo. O segredo? Não têm grainhas.

Fornecedor de uvas sem grainha a prestigiadas cadeias internacionais de supermercados - como a Marks & Spencer e a Waitrose -, o proprietário da Herdade de Vale da Rosa, em Ferreira do Alentejo, assegura que os produtos agrícolas portugueses "têm todas as condições para dar show" nos mercados internacionais. O exemplo são as suas uvas.

"Para vender no Marks & Spencer concorremos com empresas agrícolas de todo o mundo e somos nós que lá estamos. O incentivo destas cadeias internacionais dá-nos muita esperança no que o nosso país pode fazer. Não faz sentido não estarmos a exportar mais", diz António Silvestre Ferreira. Segundo garante, o segredo está em produzir com muita qualidade e não baixar os braços. "Temos boa genética, bom nome e óptimas condições para produzir. Não é caso para andarmos tão cabisbaixos, apesar da crise."
Palavras de quem um dia ficou sem nada. Foi em 1976, no "pico" da Reforma Agrária, quando a propriedade da família foi ocupada por uma unidade colectiva de produção. Por essa altura já a empresa exportava uvas de mesa para Inglaterra, Alemanha e Bélgica, além de se dedicar a outras actividades agrícolas como pecuária e cereais. António Silvestre Ferreira acompanhou o pai para o Brasil. "Ficámos muito amargurados, caiu o mundo para nós mas nunca perdemos a esperança de reaver as nossas terras."
Alguns anos depois a propriedade ser-lhes-ia devolvida. Ao contrário do pai, que voltou ao Alentejo, o empresário decidiu ficar no Brasil uma vez que já tinha criado raízes na cidade de Maringá - licenciado em Medicina Veterinária dava aulas na universidade estadual e geria uma exploração agrícola onde produzia uvas de mesa, algumas sem grainha.
"Esse trabalho do outro lado do Atlântico trouxe-nos conhecimentos muito importantes, know how e tecnologia." O regresso a Portugal ocorre apenas em 1999. No ano seguinte nasce a empresa Vale da Rosa e começam a ser erguidos extensos campos de estufas junto a Ferreira do Alentejo. A aposta recai nas variedades de uvas sem grainha mais apreciadas pelo mercado, sempre de olhos postos na exportação: "É um caminho que nos abre outras portas, mais possibilidades de negócios, outros preços, outras exigências. Está mais de acordo com o trabalho de minúcia que gosto de fazer."
Um dos primeiros passos foi retomar contactos com Inglaterra - " o nosso principal mercado" -, ao mesmo tempo que em Vale da Rosa se faziam testes sobre as variedades que melhor se adaptam à região. Variedades de uvas sem grainha como a Crimson e a Sugraone, obtidas através de melhoramentos genéticos nos Estados Unidos, ou mais recentemente a Sophia [com sabor a moscatel] e a Midnight Beauty [uva preta] começam a ser produzidas e exportadas a uma escala cada vez maior.
"Foi um investimento arriscado, tive de hipotecar a propriedade que herdei do meu pai, mas já consegui duplicar a área de produção", diz António Silvestre Ferreira, que é um dos maiores empregadores da região e foi condecorado com a Ordem de Mérito de Agrícola, em 2010, pelo Presidente da República.
Hoje a propriedade, de 230 hectares produz 4,5 mil toneladas de uvas por ano. Mas, dentro de dois anos, quando todas as vinhas estiverem a produzir em pleno, poderá chegar às 6 mil toneladas. Actualmente, cerca de 25% da produção segue directamente para o estrangeiro. Além de Inglaterra e da Alemanha, a Polónia é outro mercado em ascensão, tal como Angola, Bélgica e Holanda.
Segundo António Silvestre Ferreira, com a água disponibilizada pelo Alqueva os agricultores alentejanos passaram a poder trabalhar "de forma mais profissional". E, assim, tem esperança redobrada em relação ao futuro do País: "O mundo quer os nossos produtos, quer que nós exportemos."

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2109941&page=-1

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