terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Escaravelho vermelho está a matar palmeiras de Lisboa

27.12.2011
Ana Henriques
Depois de ter dizimado muitas centenas de plantas no Algarve, o
escaravelho vermelho das palmeiras chegou a Lisboa, onde já infectou
mais de uma centena de exemplares, obrigando ao abate de 22. Muitas
mais estarão condenadas.
"Quando os efeitos da praga se tornam visíveis é normalmente tarde de
mais para salvar a palmeira", explica a chefe de divisão da inspecção
fito-sanitária do Ministério da Agricultura, Clara Serra. Só muito
depois de ser invadida pelas grandes e vorazes larvas do escaravelho,
que se alimentam das palmas e do coração da planta, a palmeira começa
a dar sinais do mal. Primeiro fica ligeiramente despenteada. Na fase
seguinte cai-lhe a parte de cima da copa, acabando por morrer no
máximo ao fim de dois anos. Os insectos, esses rumam às próximas
palmeiras saudáveis. Como conseguem voar cinco a dez quilómetros, os
efeitos são desastrosos.

Em 2007, ano em que a praga foi detectada pela primeira vez em
Portugal, a União Europeia considerou obrigatória a luta contra a
mesma, estabelecendo medidas de emergência. Por essa altura já
Espanha, Itália e outros países mediterrânicos se debatiam há vários
anos com o escaravelho (Rhynchophorus ferrugineus), que é oriundo da
Indonésia mas se expandiu a partir da importação de palmeiras do
Egipto para a Europa. A subdirectora-geral da Agricultura e
Desenvolvimento Rural, Flávia Alfarroba, diz que depois da declaração
da praga Portugal tinha o prazo de um ano para se candidatar a fundos
comunitários para o seu combate, que é caro. "Isso não foi feito e
perdeu-se a oportunidade", recorda.
O facto de se tratar de uma planta ornamental, e não de produção
agrícola, terá pesado na decisão. Interpelada sobre o assunto pelo
eurodeputado comunista João Ferreira, a Comissão Europeia mencionou
estarem em curso dois projectos de investigação sobre o insecto.
"Serão dedicados 3 milhões de euros à preparação de estratégias de
erradicação e contenção da praga", prometeu a Comissão no início deste
ano.
O Ministério da Agricultura não tem, neste momento, fundos para esse
fim. "Ainda que as câmaras possuíssem dinheiro para tratar de todas as
palmeiras dos espaços públicos, nós não temos capacidade para resolver
a questão das que pertencem a particulares", admite Clara Serra.
Solução? "As autarquias vão ter de seleccionar os exemplares mais
valiosos e proteger esses".
Apesar de ter sido informada da entrada do escaravelho na cidade há um
ano - altura em que apareceu noutros concelhos da área metropolitana,
como Cascais e Oeiras -, só este mês a Câmara de Lisboa colocou um
aviso no seu site, no qual explica que o insecto "está a pôr em causa
a continuidade das palmeiras". A praga atingiu diversos pontos da
cidade: já foi preciso abater exemplares no Campo das Cebolas e na
Quinta das Conchas, no Lumiar, tendo sido detectados mais casos na
Junqueira e na alameda do Hospital Curry Cabral. "Temos de ser
realistas: não podemos salvar as palmeiras todas, não há verbas que
cheguem para isso", declara Carlos Gabirro, sócio-gerente da
Biostasia, firma que tem trabalhado no combate à praga. "Como o tempo
esteve anormalmente quente até muito tarde, se as condições
climatéricas se mantiverem para o ano Lisboa vai ser um caos. O
escaravelho vai atingir todos os parques e jardins da cidade". Embora
não morram, os insectos deixam de voar com o frio. A
palmeira-das-canárias é o hospedeiro preferido do escaravelho, por não
ter defesas naturais contra uma praga que não pertencia até agora ao
seu meio ambiente. Mas todas as palmeiras lhe são vulneráveis.
"Nos espaços públicos da cidade a praga está controlada", assegura o
vereador dos Espaços Verdes, Sá Fernandes, que vai contratar uma
empresa para monitorizar 300 dos três mil exemplares do espaço
público. O autarca diz-se mais apreensivo com as palmeiras
particulares afectadas - cujos custos de abate, necessário para evitar
a contaminação, chegam com facilidade aos mil ou dois mil euros. Já o
tratamento preventivo custa pelo menos 400 euros anuais por exemplar.
"Se o Ministério da Agricultura não tem verbas, tem de as arranjar!
Ninguém pode lavar as mãos deste problema!", afirma Sá Fernandes.
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1526606

Sem comentários:

Enviar um comentário