segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nada como um alentejanopara afogar esta crise

por LEONÍDIO PAULO FERREIRAHojeComentar

Um português está entre "os 25 tintos para a época de festas". Uma selecção do Financial Times onde dominam os franceses, mas onde italianos, espanhóis e australianos também brilham. Até há um vinho grego, o Naoussa, descrito como "bela compra" pela especialista do jornal e editora do Oxford Companion to Wine. Afinal, custa 10,95 libras (qualquer coisa como 13 euros), quando o Vosne-Romanée exige quatro vezes mais (45 libras, ou 52 euros).
Jancis Robinson, que escreve para gente de negócios habituada a beber do bem-bom, confessa ter tido dificuldade em escolher entre tantos tintos excelentes que se fazem mundo fora. E na sua lista não impõe qualquer hierarquia, apenas começa pelo de preço mais baixo.
E qual é esse vinho, capaz de maravilhar o mais exigente dos apreciadores sem lhe fazer doer a carteira caso não seja magnata da City? Tinto da Ânfora, de 2008, um alentejano. Nos supermercados de Londres comercializa-se a 6,99 libras (8 euros). Menos que o Naoussa' e por isso a crítica do FT fala de um Portugal "cheio de jóias subvalorizadas".

Que os britânicos prestam homenagem aos nossos vinhos é verdade velha. Basta pensar na paixão que desde o século XVIII têm por um bom Port, a ponto de muitas marcas terem nome inglês, do Croft ao Offley. Por isso, que se rendam aos tintos faz todo o sentido e ajuda a que sejamos uma potência: sétimo exportador mundial de vinhos é um belo rótulo.
Mas brindemos a que não apenas os britânicos apreciem os nossos vinhos. Também os americanos da Wine Spectator acabam de colocar dois vinhos portugueses nos cem melhores de 2011. Desde 1988 que a bíblia do sector faz um top dos vinhos comentados nas suas páginas. Este ano foram 16 mil, e daí a dificuldade de eleger os melhores entre os melhores.
O Quinta do Vallado ficou em sétimo lugar, numa classificação encabeçada pelo californiano Kosta Browne Pinot Noir Sonoma Coast e onde constam vinhos de 12 países, amostra mais variada que a selecção do Financial Times. Robinson não destacou nenhum das Américas!
Temos hoje como grandes clientes os Estados Unidos, o Brasil e Angola, mas o futuro é a China, o país que dá mais boas notícias aos jornais económicos. E se a Wine Spectator não é ainda muito lida num país cheio de magnatas onde se consome em média apenas dois litros de vinho por ano, o Financial Times até tem uma edição em Hong Kong. Com sorte, depois de as nossas exportações de vinho crescerem 93% em 2010 para a China, vamos continuar a ter razões para brindar. É com êxitos assim que se afoga as mágoas e a crise. Tchim, tchim.

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2166603&seccao=Leon%EDdio%20Paulo%20Ferreira&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1

Sem comentários:

Enviar um comentário