segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Obscuridade do Sector do Azeite

OPINIÃO
Sérgio Lavado

O que é o Azeite Virgem Extra? Qual a diferença entre azeite, azeite
virgem e azeite virgem extra? Quais as diferenças entre um azeite e um
óleo vegetal? A estas perguntas, que aparentemente parecem estúpidas a
maioria dos consumidores de azeite no mundo terão grande dificuldade
em responder. Não será exagerar dizer que a maioria da população
desconhece a existência de tal produto e que, os conhecedores, dirão
simplesmente que dentro das diferentes categorias de azeite o virgem
extra é o melhor e que a diferença entre o azeite e os óleos vegetais
é que o azeite é melhor "e ponto final". 99% não saberá dizer o que é
a categoria "azeite" e terá grande dificuldade em diferencia-la das
restantes categorias.

Se perguntarmos a um português que percentagem representa o azeite
dentro da generalidade dos óleos vegetais a nível global, muitos dirão
30-40%. À pergunta qual o consumo per-capita a nível global
provavelmente responder-nos-ão 7 ou 8 litros por ano e se
questionarmos alguém relativamente ao preço do azeite certamente nos
dirão que está caro. Quanto à pergunta qual é para si o melhor azeite?
A resposta será: que seja suave e que não pique nem amargue. E para
terminar a conversa com o nosso consumidor perguntamos-lhe se
considera que o azeite é um alimento funcional e aí já se riem na
nossa cara e dizem que "claro que não, os alimentos funcionais são os
iogurtes danacol, as margarinas becel, os leites enriquecidos com
cálcio, etc."
E assim está desgraçadamente o sector do azeite! Por um lado um
consumidor pouco ou nada informado, por outro uma produção e
distribuição pouco interessada em informar. Desta forma onde irá parar
o sector? Globalmente o azeite é um produto com uma diminuta
importância económica dado que apenas representa 3% da totalidade dos
óleos vegetais, desta forma é difícil lutar contra os interesses
económicos que advém do consumo dos óleos de soja (29%), palma (27%),
colza (13%) e girassol (9%). Assim, por cada trabalho publicado sobre
o azeite são publicadas centenas ou milhares de trabalhos acerca
destes óleos e então os benefícios nutricionais, organoleticos,
ambientais e sociais que advém da produção de azeite permanecem, a
nível global, na obscuridade.
Por outro lado, nunca se plantaram tantos olivais como hoje em dia,
chegando as cifras aos 35 milhões de oliveiras plantadas no mundo a
cada ano que passa. Contrariamente, ainda que muito se esforcem os
médicos investigadores em dar ênfase aos benefícios do consumo de
azeite, este têm-se mantido praticamente constante, tendo-se mesmo
reduzido bastante em alguns países, como é o exemplo abstracto de
Espanha. Aconselham os médicos o consumo diário de entre 40 e 60
gramas de azeite virgem extra por dia (uma torrada com azeite e uma
salada), o que nos daria o "bonito" valor de 18kg por ano e pessoa. E
qual o consumo actual a nível global? 417g por pessoa e ano, um
consumo 43 vezes inferior ao recomendado. Estes valores espelham bem o
enorme potencial de crescimento que tem o azeite e explicam o porquê
das novas plantações nos quatro cantos do mundo.
E o que se têm feito para aumentar o consumo? Reduzir preços. Alguém
já viu alguma campanha publicitária ao azeite que não seja a redução
dos preços? Alguém já viu algum tipo de publicidade na televisão que
dê a conhecer os benefícios para a saúde que advém do consumo de
azeite? Muito provavelmente não! Apenas redução de preços! Mas
realmente poupa-se alguma coisa comprando um azeite a 3€ o litro, num
país como Portugal onde o consumo médio per-capita é de 5-6 litros por
ano? Compete em preço o presunto pata negra com o fiambre? Compete em
preço a carne alentejana com a carne "marca branca"? Compete em preços
o vinho do Porto com o vinho branco de mesa? Então porque compete em
preço o Azeite Virgem Extra com os óleos vegetais? Alguém lhe passa
pela cabeça utilizar óleo de girassol numa salada? Melhoram os óleos
vegetais o sabor dos alimentos? São estes óleos obtidos por processos
unicamente mecânicos? Quais os benefícios que aportam à saúde Humana
os óleos vegetais? Então se nada tem a ver um óleo vegetal com um
azeite porque competem em preços? Incompreensível.
Este caminho de baixar preços ao azeite está a levar à ruína os
olivais tradicionais, que hoje em dia representam 80% da área mundial
de olival e 40% do azeite produzido. Mas mais grave que isso é que até
já alguns olivais intensivos e super-intensivos deixaram de ser
viáveis economicamente. Por este caminho onde se irão produzir as
azeitonas para extrair o azeite? Difícil responder a esta questão.
Redução de preços não é certamente o caminho para o aumento do consumo
do azeite, o caminho é a promoção e a divulgação dos benefícios para a
saúde que advém do seu consumo e as potencialidades organoléticas
desta gordura que é a única à face da terra que é verdadeiramente
saudável. E isso como se consegue? Unindo esforços desde o produtor
até ao distribuidor, passando pelos médicos, universidades, clubes de
futebol, programas de culinária, restaurantes, e principalmente todos
e cada um em nossas casas! Pagar por um produto o seu real valor está
nas mãos de cada um de nós, tal como está nas mãos de cada um de nós,
melhorar a nossa saúde alimentando-nos de forma saudável com produtos
como é sem dúvida alguma o Azeite Virgem Extra!
Sérgio Lavado
Estudante no IX Mestrado em Olivicultura e Azeites da Universidade de Córdoba
http://www.agroportal.pt/a/2011/slavado3.htm

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