Agricultura: Grande distribuição tem sido o coveiro de muitos setores agrícolas em Portugal -- Arlindo Cunha

20-01-2012 20:11 | Economia
Fonte: Agência Lusa

Vila do Conde, 20 de jan (Lusa) -- A grande distribuição tem sido a
"coveira de muitos dos setores agrícolas em Portugal", afirmou hoje
Arlindo Cunha, ministro da Agricultura entre 1990 e 1994, durante o
Governo de Cavaco Silva.
O antigo governante, que falava à margem de uma palestra denominada
"reformar a PAC e o fim das quotas leiteiras", que se realizou hoje em
Vila do Conde, congratulou-se com o facto de o atual Executivo ter
criado "uma plataforma de entendimento entre a produção, a
distribuição e o comércio".
Até porque, a distribuição em Portugal tem um "poder esmagador", uma
vez que fornece "mais de três quartos dos alimentos que compramos",
sustentou.

E é este "esmagamento de preços e de produtores" que tem que ser
"travado", defendeu, sugerindo que, e caso esta plataforma de
entendimento não resulte, o Governo "intervenha por via regulamentar".
Ou seja, "estabelecendo prazos de pagamento, acesso de compras e
horários, até porque, "quando há uma grande desigualdade de poder nas
relações económicas, um Estado de direito não pode permitir que uma
parte esmague a outra", frisou.
Sobre o atual estado da agricultura, e tendo em conta que se debate a
proposta da reforma da PAC, Arlindo Cunha reconhece que o setor "tem
hoje menos gente" a trabalhar.
Mas, e apesar de Portugal ter "aumentado a produção e o consumo, e,
paralelamente, o auto abastecimento não ter crescido como gostaríamos
(cifrando-se nos 70 por cento)", o ex-governante acredita que o nosso
país "tem condições para ser competitivo e produzir com qualidade".
Considerando que "há motivos para estar apreensivo e preocupado", uma
vez que se vislumbra o fim das quotas leiteiras, Arlindo Cunha defende
que "não nos podemos resignar. Temos que melhorar a competitividade e
a produtividade".
Nesta nova fase de negociação, defendeu ainda que Portugal tem que
lutar por "uma boa reforma", porque "tudo na União Europeia (UE) é
negociável" e o Governo "não deve baixar os braços".
Ou seja, "deve procurar saber se há uma minoria de bloqueio, porque, e
se assim for, é possível negociar e o processo das quotas leiteiras
pode ser reversível", frisou.
Se não for, "não é o fim do mundo", realçou, sugerindo que aí "serão
necessárias medidas internas para minorar esses efeitos negativos",
sublinhou.
Arlindo Cunha também fez questão de denominar de "tragédia" a forma
como o atual Programa de Desenvolvimento Rural, o Proder, foi
"concebido e aplicado".
Por isso, e já que Portugal está a negociar um novo pacote de fundos
da agricultura, o ex-governante espera que "haja bom senso e que se dê
apoio a quem quer modernizar, apostando ainda em quem quer produzir
mais".
A palestra, que decorreu durante a tarde, foi organizada pela
Associação dos Jovens Agricultores do Distrito do Porto (AJAP) e
contou, entre outras individualidades, com a presença do secretário de
Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque.
MYV
Lusa/fim
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