sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Azeite e óleo de girassol não aumentam risco de doenças cardiovasculares

Estudo espanhol

26.01.2012 - 16:54 Por Nicolau Ferreira
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O azeite é um alimento mediterrânico típico (Enric Vives-Rubio (arquivo))
A cozinha dos países mediterrâneos tem colocado nações como Portugal
ou Espanha no grupo dos menos afectados pelas doenças
cardiovasculares, associadas a uma alimentação baseada em gorduras e
fritos, entre outros factores. Um estudo sobre a população espanhola
agora publicado, mostra que a utilização de alimentos fritos,
tipicamente no azeite e no óleo de girassol, não aumenta o rácio
destas doenças ou da mortalidade, mesmo no grupo de pessoas que mais
consome.

A investigação feita por uma equipa espanhola da Universidade Autónoma
de Madrid e do Consórcio de Investigação Biomédica em Rede de
Epidemiologia e Saúde Pública foi publicado no British Medical Journal
e serviu para avaliar quais os riscos da utilização de gordura nos
hábitos alimentares da população espanhola para as doenças
cardiovasculares.

As gorduras têm dois papéis importantes nas doenças cardiovasculares.
"A sua composição rica em colesterol faz aumentar este composto no
sangue", explicou ao PÚBLICO Mário G. Lopes, médico cardiologista e
presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Por outro lado são
a fonte das Lipoproteínas de baixa Densidade (LDL, sigla em inglês),
também chamadas de "más gorduras".

"Quando o LDL no sangue é elevado, enferruja e faz a obstrução das
artérias. Quando é no coração causa um enfarte, no cérebro causa um
AVC, mas é um processo geral", disse o especialista, que é professor
catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa. Além do colesterol, o
risco das doenças cardiovasculares é maior nos homens, e aumenta com a
idade, o consumo de tabaco, os diabetes e a tensão alta.

O estudo espanhol olhou especificamente para aterosclerose coronária,
que é a obstrução dos vasos sanguíneos do coração. Para isso, a equipa
espanhola reuniu a informação de 40.757 adultos com uma idade
compreendida entre os 29 e os 69 anos divididos entre o Norte e o Sul
de Espanha, que começaram a ser seguidos entre 1992 e 1996, e
terminaram de ser seguidos em 2004.

A equipa aferiu dados como a educação, os hábitos alimentares, os
hábitos de tabaco. Dois terços da população eram mulheres. De tempos
em tempos era feito um inquérito sobre os hábitos de consumo
alimentar, principalmente de fritos, que em Espanha são normalmente
feitos em azeite e em óleo de girassol. Com estes dados, foi possível
dividir a população em quatro grupos, dos que ingeriam menos até aos
que ingeriam mais alimentos fritos.

A população analisada não tinha doenças cardiovasculares quando
aceitou entrar no estudo longitudinal. Quanto a análise terminou, 606
pessoas sofreram enfartes e houve 1134 mortes. Mas, tanto os problemas
cardiovasculares como as mortes estavam distribuídos igualmente pelos
quatro grupos com diferentes registos de consumo de gorduras e fritos.

"Em Espanha, um país Mediterrâneo onde o azeite e o óleo de girassol é
utilizado para fritar, o consumo de comida frita não está associado
com a aterosclerose coronária ou com todas as causas de mortalidade",
explica a conclusão do artigo, que tem como primeiro autor Pilar
Guallar-Castillón.

Segundo Mário G. Lopes, este estudo é "um avanço no conhecimento desta
área". O médico explica que ao contrário dos óleos vegetais e azeite
que se utilizam nos países mediterrâneos, os países com maiores
problemas de doenças cardiovasculares, como os do Norte da Europa e os
Estados Unidos, têm uma dieta rica em fritos feitos à base de gorduras
animais, ricos em colesterol.

O estudo espanhol mostra a importância da gordura que se escolhe para
cozinhar. "O mito que a comida frita é, na generalidade, má para o
coração não é suportado", disse Hugh Tunstall-Pedoe no editorial da
revista, professor emérito em epidemiologia das doenças
cardiovasculares. O artigo também sublinha os malefícios dos óleos que
são utilizados várias vezes, uma prática recorrente na fast food. E é
mais uma prova a favor da cozinha mediterrânea, que tradicionalmente
também é rica em vegetais e fruta, importantes para o combate destas
doenças.

http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/azeite-e-oleo-de-girassol-nao-aumentam-risco-de-doencas-cardiovasculares-1530862

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