sábado, 7 de janeiro de 2012

Evy Hambro: Produtos agrícolas e metais preciosos podem ser bom investimento em 2012

Gestor da BlackRock
06 Janeiro 2012 | 16:11
Carla Pedro - cpedro@negocios.pt
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Cada matéria-prima tem diferentes factores de sustentação, mas estamos
a observar, de uma forma geral, uma tendência de aumento da procura e
de focalização nas "commodities" como activo financeiro central de uma
forma que não vimos nos últimos 20 anos, diz em entrevista ao Negócios
o gestor Evy Hambro, da BlackRock.
Evy Hambro, gestor da Gold & General Fund e da BlackRock World Mining
Trust, considera que as pessoas irão olhar mais para os metais
preciosos como protecção contra a inflação ou contra a incerteza no
sistema financeiro.

Por outro lado, para o responsável desta sociedade gestora de fundos,
o grande impulsionador dos preços das matérias-primas agrícolas poderá
ser uma mudança no regime alimentar.
Em entrevista por e-mail ao negócios, Hambro refere ainda que "estamos
a assistir a uma tendência de crescente consumo de matérias-primas que
estamos convictos que durará durante mais algumas décadas".
Quais são as suas estimativas para os preços das matérias-primas em 2012?
Se analisar a procura nos mercados de matérias-primas, o principal
impulsionador é a China. A China é a maior consumidora de inúmeras
"commodities", pelo que um abrandamento por parte desse país afectaria
indubitavelmente o lado da procura da equação. Sem um choque
compensatório do lado da oferta, seria então de esperar que uma
desaceleração da procura fosse negativa para a maioria das
matérias-primas.
Além disso, no que diz especificamente respeito aos mercados
agrícolas, o ano passado trouxe algumas condições meteorológicas
adversas extremas. Se estas condições melhorarem substancialmente nos
próximos 12 a 18 meses, levando a maiores colheitas e a melhores
mercados de culturas agrícolas, poderemos esperar que isso exerça uma
pressão baixista sobre os preços das "commodities" agrícolas.
Em termos de risco altista para as cotações, podemos citar as
contínuas tensões geopolíticas em África e no Médio Oriente, o que
poderá levar a perturbações na oferta dos mercados energéticos. Temos
também observado a manutenção de condições meteorológicas adversas. Se
prosseguirem, será de esperar que isso faça subir os preços das
matérias-primas agrícolas. Por último, o risco de nacionalização de
instalações de produção de "commodities", seja na América Latina ou em
África, poderá conduzir a uma restrição da oferta, o que também é um
factor de subida para os preços.
Quais serão os produtos com melhor e pior desempenho?
As oportunidades abundam em todo o espectro de "commodities", mas as
condições da oferta e da procura diferem consoante cada matéria-prima
em particular.
No que respeita às matérias-primas agrícolas, o impulsionador poderá
ser uma mudança no regime alimentar. Há implicações para a procura de
alimentos quando as pessoas passam de dietas ricas em hidratos de
carbono e pobres em proteínas e de uma agricultura de subsistência
para regimes alimentares com mais carne, à medida que a riqueza
aumenta e as populações entram na categoria da classe média.
Enquanto isso, as pessoas irão olhar mais para os metais preciosos
como protecção contra a inflação ou contra a incerteza no sistema
financeiro; e por último, os metais industriais tendem a ser
impulsionados pelo desenvolvimento de infra-estruturas e da construção
de casas. Por isso, cada matéria-prima tem diferentes "drivers", mas
estamos a observar, de uma forma geral, uma tendência de aumento da
procura e de focalização nas "commodities" como activo financeiro
central de uma forma que não vimos nos últimos 20 anos.
É também importante recordar que as matérias-primas são heterogéneas.
Algumas "commodities" são bastante cíclicas, ao passo que outras o são
menos e podem ser mais defensivas. Assim, durante uma recessão, a
agricultura e os metais preciosos, pelo facto de serem mais
defensivas, poderão ter um melhor desempenho. As pessoas continuam a
ter de comer e poderão refugiar-se em valores-refúgio, como o ouro.
Consequentemente, os retornos nestes tipos de activos tendem a ser
melhores.
Adicionalmente, o papel de um choque da oferta não deve ser
subestimado. As matérias-primas agrícolas, além de possuírem
propriedades defensivas, ganharam com o facto de a oferta ter
diminuído devido a condições meteorológicas adversas.
E que perspectivas tem para o petróleo?
Os problemas macroeconómicos globais continuam a dominar o mercado
accionista. No actual ambiente, o risco do lado da procura para o
preço do crude aumentou, mas os fundamentais oferecem algum incentivo:
a opção forçada do Japão no sentido de criar uma maior capacidade
energética derivada do petróleo trouxe mais barris à procura mundial
de crude.
Além disso, a OPEP demonstrou no passado que tem apetite e capacidade
para actuar em apoio aos preços se eles baixarem significativamente.
Por outro lado, o crescimento da oferta no longo prazo está a ser
posto em causa.
E o ouro? Será que este metal precioso vai brilhar pelo 12º ano consecutivo?
Consideramos que há inúmeros factores que sustentam a ideia de que o
outro manterá o seu estatuto de valor-refúgio durante mais algum
tempo.
Em primeiro lugar, a ameaça de inflação poderá suportar a
atractividade do ouro como activo de cobertura contra esse risco. A
inflação é muitas vezes esquecida como razão para a compra de ouro,
especialmente porque as pressões inflacionistas têm sido benignas no
mundo desenvolvido desde a década de 1990. Os preços estão agora em
relativa tendência de subida a nível mundial, impulsionados pelas
facturas alimentar e energética, enquanto as tentativas para revigorar
as economias através de programas de flexibilização quantitativa são
inflacionistas por natureza.
As actuais e futuras iniciativas dos governos no sentido de
revitalizarem o crescimento, essencialmente através de um processo
parecido com a emissão de mais moeda e, assim, aumentando o risco de
inflação, podem ser positivas para o ouro. É também importante
recordar que numa altura em que as taxas de juro se mantêm em níveis
historicamente baixos no Reino Unido e nos EUA, as taxas de retorno
reais sobre os depósitos em numerário são negativas, e assim tem sido
há já algum tempo.
Por outro lado, a procura de ouro físico continua forte, especialmente
nos mercados emergentes. A procura por parte da joalharia chinesa, no
terceiro trimestre de 2011, aumentou 13% face ao período homólogo de
2010, para 131 toneladas (no valor de 7,3 mil milhões de dólares),
enquanto a procura de barras e de moedas em ouro aumentou 24% para
60,2 toneladas.
Isto deveu-se em parte ao colapso dos mercados imobiliários asiáticos,
que deixaram muitos dos investidores daquela região à procura de uma
reserva de valor e também de uma cobertura contra a inflação (que em
Outubro era de 5,5% na China e de 9,7% na Índia). A procura de ouro a
nível mundial subiu 6% no terceiro trimestre, para 1.054 toneladas no
valor de 57,7 mil milhões de dólares, um recorde histórico em termos
de valor.
As compras de metal amarelo por parte dos bancos centrais também foram
significativas em 2011, com a Turquia, Tailândia e Bolívia a
integrarem as fileiras de outros países em desenvolvimento que tentam
aumentar as suas reservas nacionais de ouro. As vendas de ouro de Hong
à China tinham aumentado 600% até Setembro, face ao mesmo período de
2010. Em termos globais, os bancos centrais adquiriram um total de
148,4 toneladas de ouro no terceiro trimestre do ano passado.
Ao mesmo tempo, a produção mineira tem tido dificuldades em aumentar
nalgumas regiões, com a oferta mundial a aumentar apenas 2% no
terceiro trimestre, para 1.034 toneladas (o que não cobriu a procura),
havendo poucos sinais de qualquer crescimento significativo da oferta
no imediato.
Então continua a valer a pena investir em "commodities"?
Para os investidores que estão a passar por uma desaceleração
económica nos seus países, poderá não parecer que comprar
matérias-primas seja a coisa natural ou certa a fazer. Podemos,
contudo, argumentar que esta é na verdade uma enorme oportunidade para
obter exposição ao que consideramos ser uma tendência estrutural de
longo prazo e alguns óbvios condicionalismos da oferta.
A alteração na procura, motivada pela urbanização, não é um fenómeno
de curto prazo. No entanto, é muito claro que vão existir períodos de
crescimento mais forte e períodos de crescimento mais débil.
A crise financeira de 2008, quando as "commodities" recuaram
fortemente, constituiu uma excelente oportunidade para comprar, tendo
em vista esta tendência de mais longo prazo. Agora, uma vez mais,
estamos a ver a debilidade nos EUA e na Europa a provocarem uma certa
pausa no movimento altista dos preços das matérias-primas. Por isso,
consideramos que estamos perante uma óptima oportunidade para ganhar
exposição a esta classe de activos e para beneficiar daquilo que
consideramos ser um ciclo multi-décadas.
Na nossa opinião, os investidores que não têm qualquer exposição às
matérias-primas têm de começar a pensar nestes produtos como uma parte
central das suas carteiras mais diversificadas. Claro que a alocação
exacta dependerá do apetite pelo risco por parte do indivíduo, pois as
"commodities" estão voláteis e não se deve ignorar esse facto.
No seu entender, qual será a direcção das matérias-primas no mais longo prazo?
A tendência das "commodities" que estamos a vivenciar neste momento
começou realmente há seis ou sete anos. Foi motivada por uma mudança
estrutural na procura, predominantemente derivada da urbanização e da
industrialização de países dos mercados emergentes altamente populados
– sobretudo as economias dos BRIC, com especial ênfase na China.
Aquilo a que assistimos nos últimos 200 anos é que as mudanças
estruturais na procura são de longo prazo e que a tendência altista
nos mercados altistas das matérias-primas tende a ser profunda e de
longa duração. O actual ciclo que está a sustentar a procura de
"commodities" é diferenciado pela profunda quantidade de pessoas que
se estão a industrializar e a urbanizar.
A população chinesa ronda 1,3 mil milhões de pessoas e a população
indiana é de cerca de mil milhões, pelo que temos mais de um terço da
população global a transitar para um estilo de vida mais urbano e
industrializado – e isso significa que o consumo de matérias-primas
está a aumentar.
Temos milhares de milhões de pessoas a transitar para um estilo de
vida em que compram carros, electrodomésticos, acrescentam carne à sua
alimentação e investem em metais preciosos de uma forma que nunca
antes se observou. Assim, estamos a assistir a uma tendência de
crescente consumo de matérias-primas que estamos convictos que durará
durante mais algumas décadas – uma tendência que achamos que
pressionará consideravelmente a cadeia da oferta global de
"commodities".
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