sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Paixão atrai empresários para a produção de vinho na Beira Interior

Por gosto e sem esperar lucros, três empresários da Beira Interior com
a vida feita noutros ramos de atividade, abraçaram a terra, plantaram
vinha e hoje produzem vinho.
Aos 73 anos, António Martins confessa que prefere nem fazer contas:
«faço-o por paixão e o prazer que tenho nisto já é um lucro imenso». A
paixão dá corpo aos vinhos da Adega do Alto Tejo, a partir das vinhas
de Cebolais de Cima, Castelo Branco. Há cerca de quatro anos, António
Martins vendeu a fábrica de lanifícios que possuía naquela freguesia,
porque já não tinha familiares que dessem continuidade ao negócio. Nos
dias frios de janeiro, acompanha os caseiros na poda da vinha, porque
tem «muito prazer em andar pela terra». Afirma «gostar muito disto»,
tanto que, apesar de se ter realizado nos lanifícios, «se fosse mais
novo», hoje pensaria duas vezes sobre o rumo a dar à vida. A Adega do
Alto Tejo produziu 56.500 litros de vinho em 2011, não está nas
grandes superfícies, encontra-se em muito do comércio e restaurantes
locais e os contactos feito por quem vai provando o vinho já lhe
abriram portas em Angola, para onde partem dois contentores dentro de
dias. A norte, no outro extremo do distrito de Castelo Branco, o
empresário têxtil João Carvalho, proprietário da Fitecom, na Covilhã,
também não resistiu ao apelo da terra. Na Quinta dos Termos, no pedaço
do concelho de Bemonte que encosta ao Sabugal, já o pai vendia vinho a
granel quando João Carvalho ali nasceu. São terras que recebeu de
herança, onde reestruturou a vinha ao longo dos últimos 15 anos e
criou uma adega já habituada a acolher prémios atribuídos em Portugal
e no estrangeiro. A razão do sucesso diz que se deve à paixão, porque
nunca viu a produção de vinho como um negócio, mas antes «como uma boa
amante, que alimenta o coração e a alma». Quando entra na fábrica
têxtil, João Carvalho diz que deixa «o coração à porta» e só o põe no
sítio quando sai. «Na quinta é ao contrário: quando entro, o coração
tem de vir comigo porque isto da agricultura e vinhos é uma paixão»,
sublinha. Atualmente, a Quinta dos Termos produz 750 mil garrafas por
ano de vinho tinto, branco, rosé e espumante, que chegam à Noruega,
Dinamarca, Inglaterra e Hong-Kong. Brasil e Estados Unidos são as
próximas metas. Na Covilhã, José Carlos Costa Pais é um nome associado
ao comércio e distribuição desde há 30 anos e agora também aos vinhos
da Quinta de São Tiago, na freguesia do Dominguiso. Confessa que o faz
«por gosto», mas certo de estar a lançar um negócio com pernas para
andar: «não só nesta geração, como na dos meus filhos». O empresário
acredita que, enquanto não se atingem quatro a cinco milhões de
garrafas no negócio dos vinhos, «aposta-se por gosto, arranjando forma
de não perder dinheiro». Costa Pais produz as marcas Tranca da Barriga
e Quinta de São Tiago, distribuídas em grandes superfícies do grupo
Jerónimo Martins e com nichos de exportação em 15 países. Para o
Carnaval está previsto o lançamento de um novo vinho, de gama média
alta, à medida das expetativas «do mercado suíço e inglês», revela.
Dentro ou fora do país, nenhum dos três empresários regateia elogios
aos vinhos que produz, nem esconde o orgulho com o que o faz, prova da
paixão com que diz selar cada garrafa.
Guarda Digital | Lusa
25-01-2012 9:26

http://www.guarda.pt/noticias/sociedade/Paginas/paixo-atrai-empresrios-de-outros-setores-para-produo-de-vinho-na-beira-interior.aspx

Sem comentários:

Enviar um comentário