quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Crise da sustentabilidade é no fundamental crise política"

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
por Marina MarquesHoje

A falta de uma política nacional e internacional, consensual e de
longo prazo é o principal obstáculo para o desenvolvimento sustentável
na opinião de Viriato Soromenho-Marques. E a culpa coloca-a nos ombros
de "uma classe política absolutamente incompetente que nos pode levar
a uma situação catastrófica".
Na primeira intervenção no debate sobre o estado do ambiente,
realizado ontem, Viriato Soromenho-Marques assinalou a existência de
"um triângulo desequilibrado". O primeiro vértice, identificou, são as
dificuldades - "os dois problemas fundamentais são alimentação e
energia" -, o segundo as políticas - "a forma como nós, como
comunidade, Governo ou sociedade civil nos organizamos para enfrentar
as dificuldades" - e o terceiro "a forma como os instrumentos são
usados, no curto e no longo prazo".

Com o ponto da situação feito, o professor universitário defendeu que
"a crise da sustentabilidade é fundamentalmente uma crise política".
Uma crise que, disse, reflete "a incapacidade de termos lideranças
capazes de ver no médio e longo prazo". Isto porque, considera, "temos
os instrumentos para enfrentar a crise, seja a ambiental seja a da
dívida soberana da Europa". E logo a seguir referiu o que emperra a
resolução da questão: "O mesmo padrão medíocre, incompetente e egoísta
de pensamento encontra--se tanto no ambiente como na gestão da crise
europeia."
Na opinião de Soromenho-Marques "não temos um problema de falta de
análise e de diagnóstico. Temos uma comunidade científica que analisa
corretamente o que está a acontecer no clima, na biodiversidade, na
produção alimentar, nas alterações climáticas. Temos uma sociedade
civil que está pronta a fazer sacrifícios, e temos mercados que estão
prontos a financiar o que for necessário. Pelo meio, temos uma classe
política absolutamente incompetente que nos pode levar a uma situação
catastrófica".
Soromenho-Marques destacou o retrocesso que representou a ausência de
um acordo político na Conferência de Copenhaga, quando "o tempo é um
recurso escasso". Sobretudo nas questões ambientais em que "temos uma
espécie de bolha económica invertida: os bens ambientais, que são bens
escassos, vão sempre valorizando. E o conflito e a rutura acontecem
porque há uma altura em que uma parte deixa de ter acesso a esses
bens". E deu como exemplo a energia, "porque combater as alterações
climáticas significa ter uma política energética, um sistema político
internacional que se adeque no sentido de conseguir uma cooperação
entre as novas tecnologias energéticas e a produção de energia".
Por isso alertou: "Sem uma Zona Euro estável, não podemos ter a
confiança política necessária para os europeus serem capazes de fazer
uma transição energética que não entre nem no nuclear e seja capaz de
sair dos combustíveis fósseis."
Viriato Soromenho-Marques
- Tem 54 anos e é natural de Setúbal
- Professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
- Ligado ao movimento associativo de defesa do ambiente desde 1978, já
publicou vários livros sobre o tema. Em março de 2007 integrou o High
Level Group on Energy and Climate Change, composto por 12
personalidades, encarregadas de aconselhar a Comissão na viragem
estratégica em matéria de energia sustentável.
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2320378&page=-1

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