quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Há cada vez maior consciência ambiental no mundo"

FILIPE DUARTE SANTOS
por Sónia SimõesHoje

Apesar de os países desenvolvidos poderem ser já um exemplo em termos
ambientais, há 5800 milhões de pessoas sujeitas a condições que podem,
a médio prazo, gerar graves crises financeiras, sociais e ambientais.
Ainda assim, referiu ontem o professor Filipe Duarte Santos no debate
sobre o estado do ambiente, realizado no auditório do Diário de
Notícias, em Lisboa, há que ser "otimista". Mas realista.
No debate que rematou a Grande Investigação DN, publicada diariamente
desde domingo, o especialista em alterações climáticas caracterizou os
problemas que atingem a maior parte da população mundial. Chama-lhe
"quadrado da insustentabilidade"e assenta em quatro grandes fatores
críticos: as desigualdades de desenvolvimento e riqueza (por exemplo a
questão da fome que atinge perto de 1000 milhões de pessoas); a
insustentabilidade dos sistemas de energia (o acesso e o preço); as
alterações climáticas e a insegurança alimentar (relacionada com a
escassez de água, a perda de biodiversidade e a escassez de recursos
renováveis e não renováveis). "O que está a acontecer é que temos bons
exemplos de desenvolvimento sustentável, sobretudo nos países
desenvolvidos, onde se inclui Portugal, mas estes são apenas 1200
milhões de pessoas", referiu. "Uma parte pequena, se pensarmos que há
7000 milhões de habitantes e se perspetiva que em 2050 sejam 9000
milhões", disse.

"O que me parece é que a nível global o desenvolvimento é
insustentável e se não alterarmos o paradigma a nível global, vamos
ter crises profundas." Parte da culpa, atribui à falta de um plano a
longo prazo e à perda de tempo em programas efémeros em continuidade :
"Há medidas e soluções, mas não existe uma governação eficaz."
Confrontado pelo moderador António Perez Metelo sobre a questão das
economias emergentes, como a China, Filipe Duarte Santos revelou que
há cada vez mais "uma consciência destes problemas em todo o mundo".
Apesar de, na China, existir o maior número de cidades "com poluição
de uma dimensão tremenda", há vários movimentos cívicos que
reivindicam medidas ambientais. "A China é, neste momento, o maior
investidor a nível mundial em energias renováveis, passou facilmente
os EUA", lembra o professor. E, apesar da poluição, alerta: "No
ocidente não temos experiência política de governar um país com 1300
milhões de pessoas e temos de ter respeito por esse desafio." Ao longo
do debate, o investigador sublinhou ainda a urgência na fiscalização -
apesar de uma melhoria no Ministério do Ambiente - e no sistema de
justiça. "Como cientista, acho extraordinário ainda não ter havido
acordo dos partidos nesta matéria." Para rematar, deixa uma mensagem
otimista: "Há possibilidade de as atuais perspetivas da Europa serem
já consequência desta crise de insustentabilidade. E que se tomem
medidas."
Filipe Duarte Santos
- Tem 69 anos
- Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e
presidente do Departamento de Física
- Como investigador na área do ambiente e das alterações climáticas
foi premiado com 25 mil euros pela Universidade de Lisboa, em 2008,
pelo trabalho "de reconhecido mérito científico". Dá aulas em várias
universidades dos EUA e da Europa. Já escreveu dezenas de artigos.
Integra a Comissão Nacional para as Alterações Climáticas.
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2320414&page=-1

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