quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Mentalidade é tomar decisões a pensar só no imediato"

EUGÉNIO SEQUEIRA
por Carlos Diogo SantosHoje

"Temos de tomar medidas de base que resolvam os nossos problemas
atuais e futuros." Foi deste modo que Eugénio Sequeira criticou ontem,
no debate que encerrou a publicação da Grande Investigação sobre o
estado do ambiente, o facto de as autoridades e os governantes
nacionais só tomarem decisões a pensar "no amanhã, e não no que poderá
acontecer daqui a um ano".
O fundador da Liga para a Proteção da Natureza aproveitou também para
enumerar algumas das consequências desse comportamento para Portugal:
"Foi por essa atitude, de querer responder ao agora sem pensar no
futuro, que se construíram barragens como a do Alqueva, que se
construiu em excesso e que se destruiu os solos."

Sobre a má utilização dos solos - aquilo que considera ser um dos
grandes problemas -, Eugénio Sequeira esclareceu que os portugueses,
em geral, não entendem que ao "delapidarem" os recursos naturais estão
a hipotecar a economia futura do País. "Nas últimas décadas, a vida em
Portugal foi muito fácil e para a maioria dos portugueses isso foi
agradável, mas eu sempre disse que essa facilidade tinha de ter um
ponto final", afirmou lembrando que foram tomadas de posição como esta
que o levaram a ser "banido da vida política".
Para este especialista, em Portugal, são poucas as pessoas que querem
ouvir a verdade, preferindo "a ilusão" de um país que não é o delas:
"Lembro-me que quando estava à beira de ser presidente de câmara [de
Cascais] foi-me retirado o apoio das pessoas, porque eu era contra a
construção em excesso e porque comigo não haveria mais rotundas nem
estradas."
Confrontado por António Perez Metelo sobre as consequências da crise
económica para o ambiente, Eugénio Sequeira disse ser uma excelente
altura para os portugueses mudarem a sua mentalidade. "Esta crise
económica pode ser excelente para alterar a forma como as pessoas agem
no seu dia a dia. Aliás, se olharmos para o passado verificamos que é
sempre em momentos de aperto, como o atual, que se tomam medidas de
fundo", adiantou.
Na última intervenção, o fundador da Liga para a Proteção da Natureza
reforçou a falta de fiscalização que leva muitas pessoas a não
cumprirem as leis nacionais em matéria de ambiente, e lançou um
desafio à comunicação social. "Portugal tem excelentes leis, mas não
tem uma boa fiscalização e a comunicação social não dá importância ao
que de melhor e de pior se faz no ambiente. É por isso que considero
muito importante esta iniciativa do Diário de Notícias e acho que o
que foi revelado não pode ficar unicamente nas páginas do jornal. Até
porque é preciso não esquecer que não são só os leitores do DN que
precisam de conhecer as matérias divulgadas nos últimos dias. São
todos os portugueses", concluiu Eugénio Sequeira.
Eugénio Sequeira
- Tem 75 anos
- Investigador do Ministério do Ambiente entre 1964 e 1994
- Fundou a Liga para a Proteção da Natureza
- Doutorado em Engenharia Agronómica, foi também professor catedrático
e autor de várias centenas de artigos sobre o ambiente e ordenamento
do território. É militante socialista, mas garante ter sido banido da
vida política após algumas decisões "incómodas". Nos últimos anos
assumiu cargos de liderança em movimentos ambientalistas.
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2320383&page=-1

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