Seca: Portugal de volta ao pesadelo de 2005

2012-02-27

A situação de seca meteorológica no país está confirmada pelo
Instituto de Meteorologia e atinge todo o território continental. No
final de Janeiro, 11 por cento de Portugal continental estava sob seca
severa, 76 por cento com seca moderada e 13 por cento em seca fraca,
lembrando o grave cenário vivido em Portugal no ano de 2005.
Actualmente, os números são ainda mais graves: segundo os indicadores
de seca meteorológica, 70 por cento do território está em seca severa
e 5 por cento em seca extrema.
Perante a falta de chuva, o Governo está a analisar a situação através
de uma task-force, mas a ministra Assunção Cristas já afirmou
publicamente ser cedo para avançar com pedidos de ajuda europeia. Por
outro lado, o Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água – que será
apresentado neste trimestre – dará um contributo importante no actual
cenário de escassez de água, garante a tutela.

Não obstante, o especialista Mário de Carvalho critica a falta crónica
de antecipação e planeamento. «Para minimizar os impactos da seca
seria necessário um trabalho de planeamento que nunca foi feito. É
essencial uma política geral de uso eficiente da água e de captações,
algo que não temos», afirma. As lacunas de planeamento são
especialmente graves tendo em conta que, em média, há um ano de seca
em cada dez, lembra o docente da Universidade de Évora.
Mário de Carvalho foi um dos investigadores que colaborou com o
desenvolvimento do Sistema de Previsão e Gestão de Seca, numa parceria
entre a Universidade de Évora e a Universidade do Porto. O sistema foi
trabalhado para avaliar os impactos socioeconómicos nos diferentes
sectores a cada mês, antecipando a severidade de possíveis secas. A
primeira fase, levada a cabo pelas duas universidades, trabalhou com
dados de duas zonas piloto (Alentejo e Algarve), estando prevista a
extensão do sistema a todo o país. Contudo, o concurso público para a
segunda fase do Sistema de Previsão e Gestão de Seca, sob
responsabilidade do Instituto da Água, dependerá sobretudo de questões
financeiras. Actualmente Portugal apenas tem disponível um sistema de
previsão de seca meteorológica (que avalia apenas a quantidade de
precipitação), a cargo do Instituto de Meteorologia.
Olhando para o cenário actual, o docente adianta que «a situação de
seca é gravíssima para o agricultor de sequeiro». Este é o sector de
actividade que mais tem sofrido o impacto da falta de precipitação no
território, sendo que a cultura de cereais «se encontra
irremediavelmente comprometida, mesmo que agora chova». No caso do
regadio, a situação é diferente. «Na maioria do regadio público a seca
não se vai sentir», devido aos armazenamentos feitos no ano anterior.
No que diz respeito ao regadio privado, as consequências económicas
dependem de agricultor para agricultor e das reservas feitas no ano
anterior. E se é certo que em altura de secas, o frio também se faz
sentir, as temperaturas têm também contribuído para prejudicar as
produções hortícolas. «As produções a céu aberto sofrem maiores
consequências», realça Mário de Carvalho.
Outro dos efeitos directos da seca meteorológica em território
nacional diz respeito à quebra na produção hidroeléctrica. A
diminuição na produção das barragens já se tinha verificado ao longo
de 2011. Nesse sentido, as últimas estatísticas da Direcção-Geral de
Energia e Geologia (DGEG), confirmam o decréscimo de 24 por cento de
produção hidroeléctrica em relação a 2010.
A título de exemplo, a produção hidroeléctrica de Bacia do Lima
registou uma quebra de 63 por cento em Novembro, em relação ao mesmo
mês de 2010. Também a REN confirma a quebra já este ano. Em 2012, a
energia produzida pelas barragens caiu 78 por cento, em relação ao
mesmo período de 2011. O que, na prática, se tem traduzido em maiores
importações de carvão para alimentar as centrais termoeléctricas (que
registam uma subida de praticamente 170 por cento este ano, em relação
a 2011).
Autor / Fonte
Marisa Figueiredo
http://www.ambienteonline.pt/noticias/detalhes.php?id=11784