terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Seis milhões de euros para transformar desperdícios dos lagares em combustível

Azeite recupera vocação ancestral de produção de energia

14.02.2012 - 14:24 Por António Gonçalves Rodrigues
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Pedro Centeno, responsável do projecto, escolheu uma zona com boas
ligações rodoviárias
(Foto: Fernando Veludo/ NFactos)
Afinal, os romanos não estavam assim tão loucos, ao utilizarem o
azeite como combustível. Dois mil anos depois, há uma empresa que está
apostada em aproveitar tudo o que a azeitona tem para dar, para além
do azeite.

Afinal, os romanos não estavam assim tão loucos, ao utilizarem o
azeite como combustível. Dois mil anos depois, há uma empresa que está
apostada em aproveitar tudo o que a azeitona tem para dar, para além
do azeite. Chama-se Tira-Chuva a empresa que está a acabar de
construir uma fábrica que vai transformar os sobrantes dos lagares de
azeite (bagaços da azeitona) em combustível para centrais
termo-eléctricas internacionais. É em Variz, no concelho de Mogadouro.

"A localização, perto de Espanha, com vias rodoviárias importantes
para o nosso objectivo, foi fundamental para o projecto", frisa Pedro
Centeno, o responsável pela ideia. Com o IC5 e o IP2 em fase de
conclusão, a Tira-Chuva vai poder instalar-se no centro de uma das
mais dinâmicas regiões olivícolas do país e bem perto dos canais de
exportação - o Porto de Leixões fica a cerca de duas horas e Madrid a
umas três.

"Houve algumas tentativas anteriores que não foram realizadas na
região, mas acabou por se conseguir realizar o projecto. Esta é a
situação mais eficaz", frisa o responsável, que conseguiu avançar com
uma candidatura ao Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)
para comparticipar o projecto em 75%.

Experiência contou

A ideia desta nova fábrica foi de Pedro Centeno, que já trabalha na
área há vários anos, com a Deflen, uma empresa dedicada à
transformação de sobrantes de floresta. Por isso, aos seis milhões de
euros previstos para a unidade de transformação dos bagaços de
azeitona está associado um outro investimento que pode chegar aos 4,5
milhões de euros.

Trata-se de uma unidade de co-produção de energia, com recurso à
biomassa, ou seja, aos desperdícios florestais. "Essa vertente do
projecto teve um grande peso na decisão de nos instalarmos nesta
região", assume. A central vai consumir as biomassas, ou seja, os
sobrantes florestais que decorrem das limpezas das matas. "É uma
biomassa com menor valor do ponto de vista económico e a operação
teria uma rentabilidade menor se queimássemos os outros combustíveis",
explicou ao PÚBLICO.

Para já, é a unidade de transformação dos bagaços de azeitona que vai
entrar em produção já no segundo trimestre deste ano. Estima-se que
possa vir a produzir 50 mil toneladas de combustível por ano e vai dar
emprego a 16 pessoas (mais oito na unidade de co-produção). Um factor
"estruturante para a região", segundo disse António Pimentel,
vice-presidente da autarquia mogadourense, defendendo mesmo que um
projecto destes deveria ter "comparticipação a 100% do QREN, porque
vem resolver um problema ambiental".

É que aquilo que vai servir de matéria-prima a esta fábrica é uma
grande dor de cabeça para os lagares, pois as chamadas águas-russas,
que resultam do processo de fabricação do azeite, acabam "por
contaminar os solos".

"O subproduto que vem dos lagares tem 75% de água e alguma gordura. É
preciso fazer logo a desidratação e extracção dessa gordura, para que
a biomassa sirva para o que se pretende. Na nova fábrica, a água-russa
é tratada e acaba por se tornar num subproduto útil do ponto de vista
comercial. É uma pasta que pode ter outros efeitos a nível de rações
de animais, por exemplo", explica Pedro Centeno. "A água é evaporada
de forma rápida. A parte sólida, depois de secada, fica disponível
para ser colocada em paletes e enviada para os clientes."

Para isso, é preciso matéria-prima, algo que não falta na região
transmontana. "A região tem quantidade suficiente para nos
abastecermos e às outras empresas semelhantes que existem no país. E
os lagares deixam de ter pretextos para cometerem crimes ambientais
que sabemos que às vezes acontecem", adianta o mesmo responsável.
Simultaneamente, os lagares vão poder ter ainda uma compensação por um
produto que só dava dores de cabeça.

"Obviamente, estamos a falar de algo que não pode nunca ser a essência
da facturação dos lagares. Há aqui uma tentativa de dar um valor aos
subprodutos, o que também representa custos. Mas vamos trabalhar ao
nível dos preços de mercado", garante.

O projecto estima chegar aos cinco milhões de euros anuais de
facturação após os primeiros três anos de laboração.

http://economia.publico.pt/Noticia/seis-milhoes-de-euros-para-transformar-desperdicios-dos-lagares-em-combustivel-1533683

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