quinta-feira, 15 de março de 2012

Ditador vira marca de vinho

"MEMÓRIAS DE SALAZAR"
por LusaOntem

António Oliveira Salazar , chefe do governo durante a ditadura portuguesa
Salazar vai ser marca registada para potenciar a economia do concelho
que viu nascer o antigo Presidente do Conselho, Santa Comba Dão, e um
dos primeiros produtos com esse cunho será o vinho "Memórias de
Salazar".
António de Oliveira Salazar nasceu no Vimieiro, a 28 de abril de 1889,
onde está também sepultado, mas a ideia de recorrer à "marca Salazar"
para o desenvolvimento do concelho, como explicou à agência
"A nossa é sempre uma perspetiva objetiva e histórica, porque os
juízos de valor não têm de ser feitos pela autarquia, têm de ser as
pessoas, os historiadores, os investigadores [a fazê-los]. Nós temos
apenas de demonstrar a nossa convicção de que o que estamos a fazer é
útil para o concelho e para a região. E se temos um vinho `Memórias de
Salazar" é porque sentimos que as pessoas procuram essa ligação quando
nos visitam", disse o autarca.

O objetivo da autarquia -- que criou já a Associação de
Desenvolvimento Local (ADL) de Santa Comba Dão - é "ligar um nome
conhecido em todo o mundo aos produtos da terra", como é o caso do
vinho, criar condições para historiadores e investigadores poderem
estudar o Estado Novo e fornecer aos visitantes um espaço que lhes
permita contactar com o passado de Oliveira Salazar na sua terra".
A ideia é dar agora um "novo fôlego" ao projeto, criar uma "marca
Salazar" e, através da ADL, "procurar investidores que permitam o
desenvolvimento integral da ideia, que passa pela recuperação da área
urbana do Vimieiro ligada ao património que pertenceu a Salazar e
espaço envolvente".
Toda a parte de recuperação patrimonial pode custar, segundo o
autarca, dez milhões de euros, dinheiro esse que terá de vir da
iniciativa privada, "mas também de entidades públicas" que tenham como
missão o desenvolvimento local, sendo que este "é um dos 'projetos
âncora' para o desenvolvimento da região Dão-Lafões".
Segundo João Lourenço, "o tempo dos grandes investimentos acabou para
as autarquias. Os municípios têm tudo feito, das redes de saneamento
aos espaços culturais e desportivos, e, obrigatoriamente, o papel dos
municípios terá de ser redirecionado, o desenvolvimento tem de partir
de ideias locais".
Em cima da mesa há, todavia, questões por resolver, como o património
ainda na posse dos dois herdeiros - Rui Salazar, que vive no Vimieiro
e com quem a autarquia "tem tudo bem encaminhado", e António Salazar,
o outro sobrinho-neto do ditador, "com quem decorrem conversações com
muitos pormenores por acertar".
Se o projeto "entrar agora em definitivo nos carris", apesar dos
"passos seguros" que já foram dados, este poderá estar concluído, de
acordo com João Lourenço, "num espaço de cinco, seis anos".
Na opinião do autarca, "para a população, quase a 100 por cento, ainda
é muito tempo perdido".
Assim pensa Maria Natália, de 78 anos, que nasceu na casa ao lado
daquela que viu nascer Oliveira Salazar, e para quem, como contou a
própria à agência Lusa , "é uma necessidade não deixar morrer a
memória de Salazar".
Em declarações à agência Lusa , Maria Natália lamentou, enquanto
apontava para as águas furtadas "onde Salazar nasceu", que as ruínas
"comecem a tomar conta de tudo", nomeadamente a parte mais frágil,
como acontece com a casa feita em estuque e materiais menos nobres,
cujas portas estão abertas e onde abundam grafitos nas paredes
interiores.
Na memória que Maria Natália tem do antigo Presidente do Conselho,
estão as suas estadias na quinta, quando fugia aos guardas para ir
"falar e cumprimentar as pessoas" e "dar uns doces com a forma de cães
e gatos" aos miúdos, onde a própria se incluía, "ainda não tinha 10
anos".
http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=2360527&page=-1

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