sábado, 17 de março de 2012

A problemática da seca pelos técnicos da Estação Agrária de Viseu

Cenário na Estação Agrária de Viseu
Neste momento, podemos considerar que estamos em seca extrema ou
severa? Quais as diferenças?
A classificação da intensidade da seca pode ser avaliada por vários
índices, um dos quais é o PDSI (Palmer Drought Severity Index), que é
bastante completo, uma vez que se baseia no conceito do balanço da
água, tendo em conta os dados da quantidade de precipitação,
temperatura do ar e capacidade de água disponível no solo. Este índice
permite detectar a ocorrência de períodos de seca classificando-os em
termos de intensidade (fraca, moderada, severa e extrema). Nesta
altura, e segundo os dados do Instituto Nacional de Meteorologia, a
região de Viseu está já em seca severa, e, algumas sub-regiões, em
seca extrema, classificações mais altas desta escala.

Desde 1931, ano de início de registos meteorológicos regulares, que
não se observava um Inverno tão seco. Em Viseu, concretamente, a
precipitação média de Dezembro a Fevereiro, no período de 2009 a 2012,
foi de 200 a 300mm/m2. Este ano, porém, choveram apenas 24mm/m2!
Qual o cenário na Estação Agrária e na região?
A Estação Agrária de Viseu tem como principais culturas a macieira, a
oliveira, o castanheiro e a aveleira. Nesta altura a cultura principal
(macieira), encontra-se já em pleno desenvolvimento vegetativo, uma
vez que as temperaturas que se têm feito sentir, elevadas de mais para
a época, provocaram um adiantamento no seu abrolhamento.
A E. A. Viseu tem a particularidade de possuir excelentes reservas
hídricas, com origem em várias captações subterrâneas, de onde,
diariamente, é, bombeada água para um reservatório de elevada
capacidade. Dispõe ainda da possibilidade de, em situação de extrema
necessidade, poder, também bombear água de um poço existente junto ao
rio do rio Pavia, zona onde as reservas hídricas são muito superiores
às existentes noutras áreas da E.A. Felizmente, desde que as culturas
referidas passaram a ser predominantes na ocupação cultural dos
terrenos da estação agrária, e porque os sistemas de rega implantados
permitem a utilização racional da água, nunca foi necessário recorrer
a esta última reserva.
Quanto à região, a situação poderá complicar-se, sobretudo em
explorações cuja capacidade de reposição de água em poços ou furos
artesianos, é diminuta. Os níveis freáticos encontram-se já nesta fase
bastante baixos, o que poderá constituir um grave problema num estádio
mais avançado do desenvolvimento vegetativo das pomóideas, uma vez que
será necessário iniciar mais cedo a rega dos pomares. No entanto, nos
pomares de prunóideas (pessegueiros, ameixeiras e cerejeiras), a
necessidade de rega é já uma realidade, uma vez que estas espécies se
encontram já em plena floração.
Da mesma forma, a cultura do Mirtilo, que ultimamente viu a sua
expressão aumentada na região, e que é extremamente sensível à falta
de água no solo, começou a exigir rega há cerca de um mês.
De um modo geral as explorações agrícolas da região, têm sempre
associado uma pequena horta, cujos consumos hídricos são também
significativos. Se as águas para a rega são extraídas directamente de
furo ou poço, sem a existência de um reservatório, a reposição de água
poderá levar algum tempo, o que poderá ser muito grave para as
culturas existentes.
O sector da fruticultura é dos que mais sofre com esta seca? Porquê?
Quais as consequências?
Nesta fase concreta quem mais está a sofrer com a falta de água são as
explorações agro-pecuárias, que estão há à algum tempo a recorrer a
alimentos conservados e concentrados (rações,) por falta de pastagens,
esgotando assim as reservas normalmente consumidas noutros períodos.
A macieira sofrerá consequência mais grave numa fase posterior do
ciclo. Na floração as necessidades hídricas são elevadas, e numa
situação normal seriam satisfeitas com as reservas hídricas existentes
no solo. A falta de água nesta fase, compromete tanto o ciclo actual
como o seguinte, uma vez que simultaneamente ocorre a diferenciação
floral para o próximo ano. Há ainda a salientar o facto da precocidade
da rebentação poder vir a ter consequências desastrosas, caso ocorram
geadas nos estados fenológicos da floração, vingamento e crescimento
dos frutos, fenómeno meteorológico que é comum nas região, até às
primeiras semanas de Maio.

O que fazer para impedir a perda das plantações feitas este ano?
Quanto às plantações já feitas este ano há que fazer um esforço no
sentido de regar sempre que possível, sob pena de perder todo o
investimento feito. O facto das plantas possuírem um sistema radicular
ainda incipiente, estando, por isso, impossibilitadas de explorarem
zonas mais profundas do solo, torna a rega absolutamente fundamental
para o sucesso das plantações.
Poderia o país e a região minimizar as consequências da seca com
alguma prevenção?
Eventualmente, poder-se-ia dispor de maiores áreas de captação e
armazenamento das águas pluviais, cuja existência, dentro das
explorações, seria uma ferramenta a utilizar em anos em que a
precipitação fosse abaixo do normal. Cada vez mais é imperioso
utilizar sistemas de rega mais eficientes (rega gota-a-gota, por
exemplo), e praticar técnicas culturais que diminuam o consumo de
água, não só em situações de crise como a actual, mas por sistema,
salvaguardando-se, assim, a sustentabilidade dos recursos.
Tanto neste como noutros assuntos relacionados com as culturas que
compõem a nossa área experimental, os técnicos da Estação Agrária de
Viseu estão sempre disponíveis para prestarem os esclarecimentos que
os agricultores entenderem como necessários.
Os técnicos:
Arminda Lopes
Cecília Palmeiro
Francisco Fernandes
Sérgio Martins
http://www.jornaldocentro.pt/?p=7874

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