quarta-feira, 7 de março de 2012

Quebra nos cereais obriga a mais 105 milhões em importações

Por Filipe Paiva Cardoso, publicado em 7 Mar 2012 - 03:10 |
Actualizado há 5 horas 49 minutos
O pior da crise ainda está para vir: produção de hortícolas em risco
de quebra até 40%

Com 100 mil hectares de produção de cereais já condenada, os mais de
2500 produtores afectados pela seca que se instalou em Portugal já
perderam 40 milhões em investimento na produção, segundo a Associação
Nacional dos Produtores de Cereais (ANPOC). Mas se os produtores já
estão a perder, a falta de oferta nacional para a procura do país vai
levar o impacto da seca às contas públicas.

"Num quadro geral, Portugal vai ter de aumentar a sua exposição aos
cereais importados", avançou Bernardo Albino, presidente da ANPOC, em
declarações ao i, especificando de seguida que cada hectare produz
pouco mais de 5 toneladas de cereais, tonelada essa avaliada em 200
euros. Contas feitas, os cem mil hectares perdidos vão obrigar a
comprar 105 milhões de euros a produtores de fora. Isto quando o
equilíbrio da balança comercial é crítico para apaziguar a troika.

Mas a factura que a seca vai impor ao país e aos produtores ultrapassa
os cereais. Das batatas à saúde animal, passando pelo feijão, pelas
couves ou pelas ervilhas, os riscos actuais para a agricultura ainda
são imprevisíveis. A Confederação Nacional de Agricultores (CNA)
chamou a atenção do i para os riscos acrescidos que a falta de chuva
cria à produção deste ano: a falta de pastos está a obrigar os
produtores de ovinos, caprinos e bovinos a incorrer em custos
inesperados com rações – e o aumento da procura está a fazer disparar
os preços até 80%. Depois há a questão dos terrenos. "A continuada
ausência de chuva, se persistir em Março ou Abril, ou se a chuva não
surgir de forma lenta e constante, vai deixar mais culturas em risco",
apontou Armando Carvalho, dirigente nacional do CNA. É que não é
qualquer chuva que vai acalmar a crise: "Se as primeiras chuvas forem
fortes vão surtir pouco efeito, o chão está muito seco para absorver
demasiada água. Precisamos de chuvas lentas e progressivas", explica
Armando Carvalho. Outro risco que vive lado a lado com uma
pluviosidade elevada prende-se com ataques de doenças que entraram em
hibernação nas folhas caídas durante o Inverno e que pela falta de
chuva não se degradaram. Outro risco que se vem registando este ano
são as geadas negras, que congelam a planta por dentro, matando-a.

Há assim várias culturas em risco de ser afectadas pela seca. A
produção de batata, por exemplo, exige solos húmidos. Também a vinha,
que "começa a desenvolver-se em Março, sem um chão húmido" vê o seu
"desenvolvimento natural em risco", diz o responsável da CNA. Mas
falar só de batata ou vinha é limitativo: tomate, pimento, pepino,
feijão, melão [tudo horticultura de estufa], couves, favas, ervilhas
ou nectarinas são produções hoje em risco de sofrer quebras de 20% a
40% à conta da seca.

A esta produção juntam-se ainda as oliveiras, em risco devido à geada
negra: este fenómeno ocorre com temperaturas mais baixas que o normal,
temperaturas essas que provocam o congelamento da seiva das plantas,
que acabam por morrer. Ainda no final de Fevereiro, 250 agricultores
perderam 3200 toneladas de batata na região do Ribatejo à conta deste
fenómeno. Já no caso das oliveiras, a geada negra envolve um risco
diferente: abre fendas nos ramos por onde entram larvas que atacam a
plantação.

Também nos citrinos, e na região do Douro, estimam-se já prejuízos de
80% da produção só à conta das baixas temperaturas.

http://www.ionline.pt/dinheiro/quebra-nos-cereais-obriga-mais-105-milhoes-importacoes

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