quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um por todos e todos por um bom vinho

As razões do sucesso

30 Maio 2012 | 12:00
António Larguesa - alarguesa@negocios.pt

"Tentamos ir buscar o melhor dos dois mundos: a partilha de custos e
as economias de escala que há numa cooperativa, e o foco na qualidade
com que as empresas trabalham. A nossa filosofia é produzir grandes
vinhos, com o carácter do Douro e que possam ser aceites pelo mundo
todo" - Olga Martins, CEO da Lavradores de Feitoria
O que tinham em comum um grupo de professores universitários,
advogados, engenheiros reformados e "lavradores que toda a vida foram
só lavradores"? Vinhas de qualidade em quantidade insuficiente,
carência de tecnologia para fazer bons vinhos de todas as colheitas e
falta de dimensão comercial para competir no mercado global. Em 2000,
estes 15 produtores, proprietários de 18 quintas em três sub-regiões
do Douro, associaram-se no projecto "Lavradores de Feitoria".


Com uma área conjunta de vinha de 600 hectares, uma marca única, uma
só adega e uma equipa de enologia, podem orgulhar-se de ser hoje os
sextos maiores exportadores de vinhos DOC da região, vendendo no
estrangeiro 65% do total de 700 mil garrafas. No ano passado, a
empresa aumentou as vendas em 6%, para 1,5 milhões de euros. "Parece
um bocadinho mal dizer isto, mas estimamos crescer acima de 20%. Os
dados do primeiro quadrimestre até dão esse valor como conservador",
perspectiva Olga Martins, a CEO que "não se arrepende nada" de ter
trocado a enologia pela gestão.

Como o conseguem? "Estamos a colher o que fomos semeando desde 2001.
Temos muitos mercados consolidados e agora é ganhar quota de mercado",
responde. "Não ser quadrados" e "ter tempo de reacção muito curto" são
outros segredos do sucesso. Um exemplo: foram o primeiro produtor
duriense a encher "bag-in-box" (caixas de vinho) para a Noruega. Um
formato que, por questões ambientais, tem "dimensão impressionante" no
Norte da Europa, mas que os produtores "tradicionais" começaram por
rejeitar. "É negócio? Vale a pena? Avançamos. É o que nos dá
mais-valia".

Para o investimento inicial, de 200 mil euros, não houve recurso à
banca: cada produtor entrou com pequenas quantias e os accionistas
capitalistas, independentes, completaram o capital. Entre eles, Dirk
Niepoort e o sociólogo António Barreto, "apaixonado pelo Douro que
acompanha o projecto com grande entusiasmo" e lidera a
assembleia-geral. "Acharam que era rentável, mas, mais do que tudo,
simbólico participar numa empresa que foi um pouco uma revolução
social no Douro. Havia as quintas, as adegas cooperativas mas nada com
este enquadramento", lembra a CEO.

Mais produtores querem associar-se e um 16.º foi já aceite. Com todos
está contratualizado que recebem a tempo e vendem "acima do preço de
mercado" a totalidade das uvas que excedem o "benefício" (as que
seguem para Vinho do Porto). Mas ao contrário das adegas, que juntam
as uvas e pagam o mesmo, a Lavradores de Feitoria vinifica cada
parcela em separado e paga as uvas de forma diferenciada para
"incentivar a qualidade". Assim têm "o melhor dos dois mundos: a
partilha de custos e as economias de escala das cooperativas, e o foco
na qualidade com que as empresas trabalham".

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