segunda-feira, 7 de maio de 2012

URZE extingue equipas de sapadores florestais

As florestas de Seia e Gouveia vão estar mais desprotegidas no próximo verão.
A URZE vai «extinguir» as três equipas de sapadores florestais
sediadas em Seia e em Gouveia. De acordo com José Mota, presidente da
associação, a decisão ficou a dever-se ao facto de «os apoios
financeiros para o seu funcionamento se manterem os mesmos» desde a
sua criação em 1999. O dirigente adiantou que em troca dos 35 mil
euros por equipa, a Autoridade Florestal Nacional (AFN) requer a
prestação de 115 dias de trabalho. «Feitas as contas, os associados da
URZE ficariam com poucos dias disponíveis e, para que fossem
equilibradas as receitas e as despesas, teriam de subir os valores que
começam a ser insuportáveis e incomportáveis para o associado»,
referiu José Mota. Acumulando as equipas de sapadores florestais
prejuízos desde 2006, José Mota frisou que essa situação «não se deve
a falta de trabalho», apesar de existir «uma quebra acentuada»,
motivado pelos grandes incêndios de 2010.
Para exemplificar, o
responsável adiantou que apesar de se terem inscrito 30 novos sócios,
«em 2011 houve menos 140 dias de trabalho» por parte das equipas no
concelho de Seia. Como a extinção das equipas de sapadores florestais
deve-se «à falta de equilíbrio financeiro e à falta de trabalho», foi
posto o problema aos municípios, «no sentido de poderem injetar algum
apoio financeiro» ao seu funcionamento. Da parte da Câmara de Seia a
URZE recebeu a informação de que «não reunia condições económicas»
para tal e a Câmara de Gouveia «pretendia, em troca de 15 mil euros,
uma prestação de serviços», uma proposta que a direção da URZE recusou
«porque nós não precisamos de vender serviços», mas sim prestá-lo aos
associados, fazendo-o de uma forma mais económica relativamente ao
mercado. Existindo para prestar serviços aos associados, «a URZE não
está interessada em manter equipas de sapadores florestais para
prestar serviços ao Estado e às câmaras». «Não queremos ter a
responsabilidade de gestão de equipas quando a grande maioria dos dias
de trabalho são prestados a entidades que não são associadas», frisou
José Mota.

Consequências sociais e ambientais
A extinção das equipas de sapadores florestais não põe em causa a
prestação dos serviços e o apoio ao proprietário florestal associado
da URZE. «Este é intocável porque continua a dispor de equipas de
silvicultura tão bem formadas como eram as equipas de sapadores»,
disse o dirigente. O fim das três equipas «tem consequências» a nível
social, porque são 15 postos de trabalho que são extintos, e a nível
ambiental e da defesa da floresta contra incêndios a encosta da Serra
da Estrela entre Gouveia e Seia «vai ficar mais pobre, mais
desprotegida, porque as populações vão deixar de contar com os
sapadores florestais» que nos meses de Verão «estavam disponíveis»
para a vigilância e primeiras intervenções de incêndios florestais.
Salientou que uma primeira intervenção «pode, de facto, fazer a
diferença em termos de dimensão de incêndios florestais». José Mota
foi claro ao afirmar que este tipo de serviço público «tem que ser
pago por alguém» mas para inverter a situação a AFN «terá que reforçar
a verba de 35 mil euros» ou voltar à situação anterior que «era a
obrigatoriedade de disponibilidade das equipas durante o Verão» para
vigilância e primeira intervenção «e não a exigência que é feita de
metade do ano estar ao serviço da Autoridade Florestal Nacional».
Outra solução era as câmaras municipais financiarem as equipas em 15
mil euros anuais, «equilibrando-se», desta forma, o orçamento para a
manutenção dos profissionais. Sublinhou que as câmaras municipais «têm
todas as vantagens em manterem ao seu serviço estas equipas porque têm
a obrigatoriedade de fazer prevenção, de fazer vigilância, de prestar
serviço público e, se ainda recebem 35 mil euros por cada equipa, é
vantajoso porque quase lhe paga metade do salário». A reestruturação
da URZE tem ainda uma outra vertente que é a «redução» do corpo
técnico. «Nós temos 10 engenheiros florestais, quatro em Seia e seis
em Gouveia, que foram contratados devido aos desafios lançados pelos
diversos governos para a criação de zonas de intervenção florestal
(ZIF). Como era necessário associar cada técnico a cada ZIF, findo o
trabalho que estava definido: constituição e criação dos instrumentos
de planeamento – planos específicos de intervenção florestal e os
planos de gestão florestal – cessa o trabalho do técnico ao serviço
específico da ZIF. Ou seja, enquanto não for definida uma nova
política florestal e definição das competências da entidade gestora em
cada uma dessas ZIF, nós vemo-nos obrigados a cessar os contratos,
esperando, a curto prazo, seja definido novas formas de apoio».

Candidaturas à rede primária e aos mosaicos de gestão de combustíveis
José Mota salienta que todos os aderentes das ZIF's «não vão ficar sem
apoios» e que o núcleo de Seia ficará com dois técnicos a tempo
inteiro e Gouveia passa a três. «Com estes técnicos pretendemos dar
continuidade ao trabalho iniciado em cada uma das ZIF's, prestando o
apoio ao associado mas também ao aderente da zona de intervenção
florestal. O grande trabalho que vai ser feito, e que nós vamos
desenvolver, é continuar a fazer um trabalho junto dos nossos
aderentes, de os sensibilizar à floresta, informá-los sobre os apoios
à florestação». O dirigente da URZE destacou que o trabalho das ZIF's
vai continuar em duas vertentes: nas candidaturas à rede primária e
aos mosaicos de gestão de combustíveis. Referiu que são investimentos
que não vão ter custos para o proprietário, nomeadamente a rede
primária. A rede primária são faixas de 125 metros abertas entre as
propriedades e que podem reduzir a propagação de grandes incêndios.
Sendo esta uma das apostas da URZE, José Mota lamenta que as câmaras
de Seia e de Gouveia «não percebam a importância desta rede primária e
não nos tivessem facilitado o trabalho enquanto entidade gestora na
apresentação dessas candidaturas». Frisa que para a apresentação
destas candidaturas «bastava para a sua realização» um aviso público
da Câmara. Se for a entidade gestora a fazê-lo, «tem que fazer um
contrato com cada propriedade onde a rede primária vai inserir».
Adianta que os técnicos já contactaram 50 por cento dos proprietários
da ZIF do Serapitel (41 hectares) e da ZIF do Malhão (58 hectares)
para a abertura de redes primárias, bem como na ZIF Seia Norte (66
hectares), onde vão avançar os mosaicos de gestão de combustíveis.
«Tudo podia ser facilitado com um simples aviso da Câmara». Alega que
os autarcas «não querem tomar essa responsabilidade» e lamenta que a
URZE, enquanto entidade gestora destes territórios, «não tenha a mesma
competência para executar estes avisos públicos».
Novas áreas de negócio
Outro problema que atinge a URZE é a falta de apoios ao seu
funcionamento. «O apoio ao associativismo criado em quadros
comunitários anteriores não existe hoje, nem por parte das câmaras nem
por parte do Estado». «Temos, por isso, que criar formas de realizar
dinheiro, de financiamentos próprios para manter o trabalho que
entendemos determinante para o proprietário», adiantou. Uma das áreas
negócios que estão a ser estudadas é a apícola, que tem já uma
candidatura aprovada ao PRODER. Também um projecto de pastorícia, em
associação com a Universidade do Porto, vai associar a produção de
carne à produção de queijo DOP mas também a defesa da floresta contra
incêndios. Outra área de negócio própria é a produção de pinheiro
manso, tendo a ABPG disponibilizado um terreno de 190 hectares,
esperando criar mais tarde uma unidade de aproveitamento e
transformação do pinhão. «Estamos a falar de rentabilidade e tentar
arranjar recursos financeiros a curto, médio, mas também a longo
prazo». Por fim devido a «divergência de gestão» com o Município de
Gouveia, a URZE «vai abandonar» os viveiros de Folgosinho e
"plantar-se" em Vinhó, na Quinta da Mata de Água, numa área de 2,5
hectares.
Porta da Estrela
07-05-2012 15:31

http://www.guarda.pt/noticias/sociedade/Paginas/urze-extingue-equipas-de-sapadores-florestais.aspx

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