sexta-feira, 1 de junho de 2012

A floresta, as árvores e a eficiência energética

31 Maio 2012 | 13:55
Carlos Capelo
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Carlos Capelo
Sobre o Autor

No seu livro publicado em 1990, com o título "A Quinta Disciplina",
Peter Senge, então director do Centro de Aprendizagem do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), propunha o método do
pensamento sistémico para a abordagem de problemas complexos, que
descrevia como a arte de ver a floresta e as árvores.

Com esta metáfora, ilustrava a necessidade dos decisores terem a
capacidade de se afastarem das árvores (detalhes do problema) para
verem a floresta (o problema global), em vez de verem meramente muitas
árvores e escolherem pontualmente uma ou duas favoritas para
concentrarem nelas toda a atenção e esforços de mudança. Peter Senge
chamava assim a atenção para a importância dos decisores compreenderem
os detalhes e relações críticos que formam a estrutura do sistema
global contexto, pois apenas desta forma conseguiriam inferir o
comportamento futuro resultante das suas intervenções e definir
políticas eficazes.
Para concretizar o objectivo da União Europeia de
reduzir o seu consumo de energia primária em 20% até 2020 é, portanto,
exigido aos decisores políticos que atentem na compreensão e
intervenção para a resolução global do problema e que não se
concentrem temporalmente em alguns aspectos circunstancialmente mais
atractivos. Dada a interacção dinâmica por relações de reforço, o
sucesso da intervenção depende da combinação adequada de medidas e
persistência no tempo dos respectivos esforços de implementação.

O problema da eficiência energética enquadra-se no arquétipo
classificado por Senge como "Tragédia dos Comuns," em que pessoas e
organizações utilizam recursos disponíveis, mas limitados,
exclusivamente com base nas suas necessidades e interesses
individuais. A escassez dos recursos vai-se agravando e prejudicando
todos globalmente.

Para uma intervenção eficaz nesta situação, torna-se necessário
intervir na educação de todos e na criação de mecanismos de
autorregulação que incentivem cada pessoa e organização a assumirem
comportamentos que beneficiem a eles e ao todo, isto é, que induzam
uma redução do consumo de energia primária. As medidas podem visar uma
parte do sistema, mas devem contribuir para a resolução do problema
global. Por exemplo, a promoção regulada de unidades de cogeração que
combinam a produção de calor e de electricidade é uma medida eficaz
que induz melhorias em todos os estágios do sistema energético,
resultando numa redução significativa do consumo de energia primária.

A aplicação do pensamento sistémico suporta-se na modelação e
simulação dinâmica do problema, um processo oneroso mas justificado
face ao problema em causa. Um dos benefícios proporcionados pelo
método é a possibilidade de identificar mudanças de alta alavancagem,
ou seja, medidas que não exigem grandes esforços de implementação, mas
proporcionam contributos expressivos para a resolução do problema
devido à dinâmica de reforço associada. Um exemplo consiste no
desenvolvimento de um mercado de serviços de eficiência energética
baseados em contratos de desempenho.



A eficiência energética será a base de uma nova indústria e os
rendimentos das empresas de serviços de energia dependerão dos
resultados de poupança, que as medidas de eficiência propostas
proporcionem aos seus clientes.



O pressuposto essencial desta nova indústria é que os rendimentos dos
seus operadores - as ESE (Empresas de Serviços de Energia) -
associados ao fornecimento de medidas de eficiência energética,
dependem dos resultados de poupança que essas medidas venham
efectivamente a proporcionar aos seus clientes. Desta forma, uma
inteira indústria irá estar focada em empreender iniciativas com vista
à melhoria optimizada da eficiência energética das organizações
públicas e privadas nacionais. Esta indústria, que está a dar os
primeiros passos em Portugal, dispõe já duma associação
representativa, a APESEnergia. Como exemplo, no Corinthia Hotel Lisbon
está em implementação um projecto de eficiência energética em que a
Galp Soluções de Energia, através dum contrato de desempenho, investe
em diversas medidas que abrangem todas a áreas utilizadoras de energia
do hotel, assim como em sistemas de cogeração e de produção de energia
renovável.

A actuação ao nível da educação dos indivíduos é essencial para que
todos tenham a noção do impacto dos comportamentos individuais no
problema global, e possam identificar e tirar partido de oportunidades
para melhoria da eficiência energética. Um exemplo consiste no Galp
20-20-20, um programa de bolsas para jovens engenheiros finalistas ou
recém formados que é promovido pela Galp Energia em conjugação com a
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a Universidade de
Aveiro e o Instituto Superior Técnico. Cada bolseiro é afecto durante
um semestre a uma empresa nacional, na qual desenvolve, sob a
orientação dum professor tutor, um projecto de melhoria da eficiência
energética. O programa já envolveu cerca de 120 empresas e bolseiros.



*Director Galp Soluções de Energia

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=560111

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