sexta-feira, 1 de junho de 2012

Governo não ajuda sector na investigação e combate à praga da cortiça

A cobrilha, o insecto parasita da cortiça, custa ao sector corticeiro
cerca de dois milhões de euros anuais em prejuízos na qualidade do
produto. O presidente da Associação de Produtores Florestais de
Coruche, José Miguel Coutinho, lamenta que o Ministério da Agricultura
não ponha técnicos e investigadores no combate a uma praga que não
está estudada nem controlada, num sector exportador e criador de
postos de trabalho, onde Portugal é único no mundo.


Edição de 2011-05-31


O sector corticeiro é dos que mais cresce no actual contexto de crise,
com aumento das exportações e criação de empregos, mas não obtém do
Ministério da Agricultura o devido retorno quando se fala no combate à
praga que tem atacado a cortiça. Quem o admite é o presidente da
Associação de Produtores Florestais de Coruche (APFC) em conversa com
O MIRANTE, durante a inauguração da Ficor - Feira Internacional da
Cortiça, que se realizou em Coruche de quinta-feira a domingo.

José Miguel Coutinho defende que a tutela tem áreas a que se pode
dedicar, como a investigação e o combate à praga que atinge os
sobreiros, que custa ao sector dois milhões de euros por ano. "Uma
praga que custa dois milhões de euros ao sector em cortiça
desvalorizada e na fabricação industrial. O parasita da cortiça é um
insecto que se chama cobrilha e a praga não está controlada nem
estudada. Trata-se de um insecto que pica a cortiça e coloca os seus
ovos no entrecasco, de onde nasce uma lagarta que marca a cortiça toda
por dentro. O sector corticeiro é de tal maneira abrangente a nível
nacional e não existe no ministério nenhum gabinete a estudar o
combate à praga", lamenta o presidente da APFC.

José Miguel Coutinho sabe que existem técnicos e investigadores da
cortiça e do montado do sobro no Ministério, mas "a fruta não extrai
sumo". Não sua opinião, não há resultados práticos nem interacção com
o sector, a iniciativa parte sempre de produtores e industriais ou
quando há parcerias com universidades. "Existe a ideia que se trata de
um sector de ricos que não precisam de ajuda para nada", acrescenta.

"Investimento de loucos ou para as gerações futuras"

Confrontado com a histeria que muitas vezes rodeia o abate de meia
dúzia de sobreiros para projectos públicos ou privados, José Miguel
Coutinho diz que tem pena que se deitem sobreiros abaixo. Lembra que
desde que é plantado até dar a primeira cortiça o sobreiro precisa de
viver 40 anos. "É um investimento inacreditável tendo em conta os
tempos que correm".

O presidente da APFC admite, no entanto, que existe um contra-senso no
alarido público causado pelo abate de alguns sobreiros quando um
grande número de árvores pode morrer num incêndio florestal devido à
falta de limpeza de caminhos, de acessos e em redor do próprio
montado. Refere que esse é um descuido que não existe nas propriedades
que integram zonas de intervenção florestal (ZIF).

No caso da APFC, dispõe de uma equipa de sapadores florestais com
viatura equipada com kit de combate a incêndios, que actua de forma
rápida procurando a origem das chamas e que facilita muitas vezes a
vida aos bombeiros, evitando incêndios de grandes proporções e com
prejuízos para o sector florestal.

A Ficor realizou-se entre 24 a 27 de Maio com mais 12 expositores que
em 2011. Exemplo do peso do sector corticeiro é que em apenas quatro
dias de feira foram transaccionadas, na chamada Bolsa da Cortiça, mais
de 500 mil arrobas.

Dionísio Mendes, o presidente da Câmara de Coruche, era um homem
orgulhoso pelo êxito da iniciativa e pela possibilidade de organizar
uma feira que faz toda a diferença na região.


Aposta na formação de tiradores

A APFC vai promover cursos de formação de extracção de cortiça. Pelo
concelho de Coruche há, na altura das tiradas, centenas de tiradores
que não têm formação específica e que podem picar o sobreiro
condicionando a matéria-prima nas próximas tiradas de cortiça . "Não
faz sentido que tenhamos propriedades certificadas e que as pessoas
que fazem a tiragem da cortiça não tenham essa formação", conclui José
Miguel Coutinho.

http://semanal.omirante.pt/noticia.asp?idEdicao=&id=83870&idSeccao=9221&Action=noticia

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