sábado, 16 de junho de 2012

Normativas de importação da UE põem em risco sector de refinação de açúcar

Em Portugal estão em causa mais de 600 empregos

15.06.2012 - 15:01 Por PÚBLICO, Lusa
17 de 37 notícias em Economia« anteriorseguinte »

Países em vias de desenvolvimento são fornecedores privilegiados mas
não garantem quantidades suficientes
(Foto: Leslie Mazoch/AP Photo)
As regras europeias acerca da importação de rama de cana-de-açúcar
ditam que os países em vias de desenvolvimento sejam os principais
fornecedores desta matéria para a indústria europeia. Mas esses países
não têm suficiente capacidade de produção e as taxas de importação
aplicadas pela UE tornam insustentável a importação de outras regiões.


O risco de colapso da indústria refinadora do açúcar da Europa levou a
que 62 eurodeputados de onze países escrevessem à Comissão Europeia
para pedir a alteração das normas relativas à importação. O apelo foi
subscrito pelos eurodeputados portugueses Luís Paulo Alves, Regina
Bastos, Capoulas Santos, Correia de Campos, Diogo Feio, José Manuel
Fernandes, Maria do Céu Patrão Neves e Paulo Rangel e Nuno Teixeira.
Só em Portugal este problema coloca em risco 600 postos de trabalho.

A eurodeputada do PSD Maria do Céu Patrão Neves explicou que, "quando
se fez a última reforma do sector do açúcar, em 2006, ficou previsto
que o fornecimento de ramas para a indústria europeia seria feito por
países em via de desenvolvimento", e que a importação de outras
regiões acarretaria impostos adicionais. Contudo, o que acontece é que
estes países não estão a conseguir fornecer a quantidade suficiente
para manter a indústria europeia e portuguesa a laborar.

A missiva dos eurodeputados, dirigida ao comissário europeu para a
Agricultura, Dacian Ciolos, tem como objectivo insistir junto da
Comissão Europeia para que se alterem as normativas, no sentido de
passarem a permitir à indústria portuguesa e europeia importar rama"
com outras origens sem custos adicionais, adiantou a mesma
eurodeputada, afirmando, no entanto, que a Comissão "tem sido sempre
muito renitente".

O ex-ministro da Agricultura Capoulas Santos chama por sua vez a
atenção para "um lóbi europeu a partir dos produtores de açúcar de
beterraba sacarina que pretendem, para defender as suas próprias
produções, que as importações sejam dificultadas o mais possível",
alertando para a necessidade de "se encontrar um justo equilíbrio
entre ambas as indústrias". E adiantou que tem "procurado que a
Comissão, atempadamente, desbloqueie a possibilidade de importação de
matéria-prima em volumes que permitam à indústria europeia de
transformação ser competitiva no mercado".

Presidente da RAR pede equilíbrio

O presidente do conselho de administração da RAR Açúcar, João Pereira,
lamenta não existir um equilíbrio entre as indústrias que trabalham
com cana-de-açúcar e as que usam a beterraba. "Oitenta por cento da
produção açucareira europeia é de beterraba, e falar de beterraba é
falar de agricultura. O lóbi da beterraba, o lóbi da agricultura tem a
força que todos reconhecemos que tem, e eu não tenho nada contra isso.
Só quero alguma justiça, algum equilíbrio entre os sectores", disse.

João Pereira alerta para o facto de a indústria de refinação europeia
ter a viabilidade condenada se as normativas da Comissão Europeia de
importação de matéria-prima não mudarem, e acrescenta que "a RAR tem
enormes dificuldades em garantir matéria-prima para alimentar a sua
refinaria porque ela, pura e simplesmente, não está disponível em
quantidade suficiente".

A RAR tem capacidade para produzir 250 mil toneladas de açúcar ao ano,
empregando cerca de 190 pessoas, mas no ano passado a falta da
matéria-prima condicionou a produção, que se fixou nas 130 mil
toneladas. "Parece um contrasenso: a indústria existe, a indústria é
competitiva, a indústria está tecnologicamente dotada, só que depois
esbarra porque não tem matéria-prima para garantir o seu natural e
normal funcionamento", lamentou.

Para o presidente do conselho de administração da RAR, "não há falta
de açúcar no mundo, onde há falta de açúcar é nas origens ditas
preferenciais". E quando a indústria vai "comprar açúcar em origens
não preferenciais" tem que pagar uma tarifa, o que está a pôr em causa
a viabilidade financeira do negócio.

http://economia.publico.pt/Noticia/normativas-de-importacao-da-ue-poem-em-risco-sector-de-refinacao-de-acucar-1550486

Sem comentários:

Enviar um comentário