terça-feira, 31 de julho de 2012

FAO. Regra de que quem não trabalha, não come tem de acabar, diz José Graziano da Silva

Por Agência Lusa, publicado em 30 Jul 2012 - 19:25 | Actualizado há 14
horas 23 minutos
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O diretor-geral da agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura
(FAO) defendeu hoje que a regra de que quem não trabalha não come data
da antiguidade clássica e "não pode persistir no século XXI".

José Graziano da Silva, que falava aos jornalistas em Lisboa, à margem
da cerimónia do seu doutoramento 'honoris causa' pela Universidade
Técnica de Lisboa (UTL), disse que é "perfeitamente possível"
erradicar a fome do mundo e lembrou que com o que se produz atualmente
já seria possível alimentar todos os cidadãos.


Recordou o mais recente relatório da FAO, divulgado em maio, segundo o
qual o desperdício alimentar entre a produção e o consumo representa
1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano no mundo, o
equivalente a um terço da produção alimentar para consumo humano.

"O desperdício na mesa dos países de altas rendas -- Europa, EUA e
Canadá - daria para alimentar quase 500 milhões de pessoas a mais",
disse o responsável brasileiro, lembrando que o número de pessoas com
fome no mundo está estimado em 900 milhões.

Para Graziano da Silva, "se se conseguir evitar o desperdício e mais
as perdas que existem, a produção de hoje seria suficiente para
alimentar todos" os cidadãos do mundo.

Defendeu ainda a melhoria do acesso aos alimentos, lamentando que a
crise e o desemprego levem a um aumento da fome: "Essa regra de que
quem não trabalha não come, que é uma regra da antiguidade romana, não
pode persistir no século XXI".

O responsável, que foi ministro de Segurança Alimentar e Combate à
Fome no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu que o
que falta para erradicar a fome do mundo são políticas mais ativas.

Reconheceu que a "vontade política" foi o que fez a diferença no
sucesso do "Programa Fome Zero", cuja elaboração coordenou em 2001 e
que em cinco anos contribuiu para retirar 24 milhões de brasileiros da
pobreza e para a redução em 25 por cento da subnutrição no Brasil.

"A diferença foi a vontade política de fazer. É possível erradicar a
fome e é preciso tê-la na agenda como prioridade política. O que o
Brasil mostrou não foi só que é possível fazê-lo, isso já sabíamos,
mas que é possível fazê-lo muito rapidamente e a um preço muito
barato", disse.

Nas declarações aos jornalistas, Graziano da Silva lamentou ainda que
a crise internacional esteja a contribuir para reduzir a ajuda ao
desenvolvimento.

"Neste momento de crise é muito ruim perceber a redução da
solidariedade internacional, nesse momento é que precisamos mais da
solidariedade", disse, referindo-se em particular aos países da União
Europeia - "o maior contribuinte da FAO".

"Espero que a UE consiga superar este momento de dificuldade sem ter
de cortar a ajuda humanitária, sobretudo a ajuda ao desenvolvimento",
apelou.

Graziano da Silva falava depois de agradecer, num discurso emocionado,
a atribuição do doutoramento "honoris causa" pela Universidade Técnica
de Lisboa.

No discurso, o diretor-geral da FAO considerou que a distinção
"fortalece uma causa", a da luta contra a fome, e apelou ao contributo
do mundo académico para esse combate.

No final, aos jornalistas, admitiu ter feito um discurso com "muita
emoção": "Não é fácil reviver uma vida. São mais de 40 anos (...) que
passam debaixo dos seus pés e um turbilhão de ideias que vem à
cabeça".

A distinção da UTL, proposta pelo Instituto Superior de Agronomia, é
"o reconhecimento público de um homem notável, ligado à resolução do
problema alimentar no mundo, com programas muito importantes contra a
fome", pode ler-se numa nota da UTL.

http://www.ionline.pt/portugal/fao-regra-quem-nao-trabalha-nao-come-tem-acabar-diz-jose-graziano-da-silva

1 comentário:

Anónimo disse...

A fao ( em letra pequena) fica melhor do que em letra grande tanto mais porque não produz nada e como nada produz, pode-se dizer que aí não trabalha. E desse modo quem não trabalha não merece por esse facto comer. O medo terrível da fome, fantasma que assombra a todos incluindo o sr. Graziano, cresce na medida em que os patronos dessa organização a quem a mesma pede dinheiro,os ricos,se afundam na teimosia da crise, sentados em potes de ouro, quais Tios Patinhas. E então candidamente vem se emocionar ante as plateias fazendo o choradinho para continuar comendo sem trabalhar de facto na solução da fome no mundo. Os parâmetros dessa pequena instituição que sobrevive de esmolas que pomposamente administra e cuja parcela minima distribui, tanto minima em espécime alimentar quanto minima em ideias para a solução da alimentação que não interessa, esses parâmetros são todos falsos. Doações são fontes muito mais fáceis.
Relatórios ,eventos , pompas políticas ...isso é o que mantém a miséria sem a qual não existiria a fao.A produção de alimentos passa hoje por uma fase tecnológica tão intensa que caminha para um máximo de 5% de pessoas para a produção dos alimentos de toda a humanidade. Há potencial excedente de alimentos mas mantêm-se o cenário vergonhoso da fome para sustento destas corporações emblemáticas e inuteis.
jorge@nortecnet.com.br

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