terça-feira, 28 de agosto de 2012

Aldeia de xisto promove adopção de sobreiros para atrair visitantes

Penela

28.08.2012 - 16:10 Por Orlando Cardoso
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O sobreiro é uma árvore protegida por lei (Foto: Paulo Ricca)
Os moradores de Ferraria de São João, concelho de Penela, estão a
apelar à adopção de oito dezenas de sobreiros com vista a cativar o
interesse de habitantes e visitantes para a causa da conservação da
natureza e para esta aldeia de xisto.

Criada para dinamizar a aldeia, no limite dos concelhos de Penela
(Coimbra) e de Figueiró dos Vinhos (Leiria), a Associação de Moradores
de Ferraria de São João adquiriu 87 sobreiros que fazem parte de um
sobreiral centenário situado junto à povoação. De acordo com o
vice-presidente da associação, Paulo Mourão, trata-se de um "espaço
único, fantástico para um piquenique, ou uma sesta em dias de Verão".

Como forma de angariar os 4300 euros do custo das árvores, que embora
sendo propriedade particular se encontram num espaço público, mas
principalmente para assegurar a sua manutenção e a beneficiação do
espaço, a associação decidiu lançar um programa de adopção. Qualquer
pessoa que queira "juntar-se a esta causa da defesa de uma espécie
protegida por lei" pode aderir, explica Paulo Mourão.

Os sobreiros foram divididos em três tipologias - pequeno, médio e
grande -, de acordo com o seu tamanho e idade, correspondendo o valor
de adopção, respectivamente, a 40, 60 e 80 euros. Durante um período
de nove anos, o adoptante terá como contrapartida a possibilidade de
personalizar o seu sobreiro com iniciais ou símbolos pintados na
cortiça e beneficiar de uma parte do valor da venda desta e ainda da
oferta das quotas como membro da associação durante seis meses.

Além de "manter um património cultural da aldeia de enorme
importância, em bom estado e com acesso público", a iniciativa
pretende "cativar o interesse de habitantes e não habitantes para a
aldeia e para a conservação da natureza".

O dirigente da associação destaca a importância de o projecto
"beneficiar a aldeia e os seus espaços públicos com a criação e
beneficiação de áreas de lazer na mata". Os sobreiros encontram-se num
terreno que é considerado "logradouro da aldeia", figura que, segundo
Paulo Mourão, é semelhante à do baldio, na medida em "não tem dono nem
registo de propriedade". O sobreiral em questão, acrescenta, tem
também uma função de protecção contra os incêndios florestais, visto
serem uma "barreira natural" contra a sua propagação. "Basta verificar
que no último e recente incêndio que nos fustigou, foi esta mancha
florestal que ajudou a salvar a aldeia."

Além do mais, salienta, "os sobreiros constituem um património
histórico e cultural a preservar, pois em tempos passados, quando a
aldeia tinha perto de 1000 cabeças de gado (ovino e sobretudo caprino)
era da sua ramagem que se dava alguma alimento aos animais nos
invernos em que a neve não os deixava ir para a serra".

A 23 de Setembro, no quadro do programa "A Pé pelos Caminhos do Xisto
2012", decorrerá um acto formal de adopção no sobreiral, associado a
um piquenique. Paulo Mourão refere que as câmaras de Penela e de
Figueiró dos Vinhos prometeram apoiar a ideia e também colaborar "nas
tarefas de limpeza da mata e poda das árvores". Por seu lado, a
Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto também
se manifestou disponível para se "associar à iniciativa como adoptante
de relevo".

"Penso que a ideia é muito interessante, pois promove o envolvimento
da sociedade civil numa causa pública, cruzando e aproximando
habitantes da aldeia e visitantes com uma motivação comum", diz Pedro
Pedrosa, residente há pouco tempo na aldeia. Justifica ter adoptado
sobreiros por ser uma "espécie ameaçada num território que tende a ser
dominado pela monocultura de eucalipto, que traz diversos perigos,
nomeadamente dos incêndios". Também Mário Gaspar, que costuma fazer
"caminhadas" na zona, defende que ao adoptar um sobreiro está a
"contribuir para a sua conservação e preservação".

Integrada na freguesia de Cumieira, a aldeia de Ferraria de São João
encontra-se numa crista montanhosa no extremo sul da serra da Lousã,
tendo como ex-líbris os antigos abrigos dos animais. Segundo a Rede de
Aldeias do Xisto, descobre-se ali como o xisto e o quartzo "se casam
numa união tão perfeita".

http://www.publico.pt/Local/aldeia-de-xisto-promove-adopcao-de-sobreiros-para-atrair-visitantes-1560739

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