terça-feira, 7 de agosto de 2012

E tudo o granizo levou

José Manuel Cardoso
16:24 Sexta feira, 3 de agosto de 2012

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Uma tempestade de granizo, registada na tarde de quarta-feira da
semana passada, arrasou vinhas, pomares e culturas nos concelhos de
Sabrosa, Alijó, Murça e S. João da Pesqueira. Ventos fortes, queda
intensa de granizo e fortes trovoadas deixaram um rasto de destruição
e muitos prejuízos na região.

Alguns populares contaram ao Nosso Jornal que não têm memória de uma
tempestade e de uma devastação tão grande como aquela que ocorreu na
semana passada. O concelho de Sabrosa foi o mais afetado, mas em
algumas aldeias de Alijó o efeito também foi devastador. Em Vale de
Cunho, por exemplo, registaram-se muitos estragos. No entanto,
Celeiros do Douro, no concelho de Sabrosa, foi uma das freguesias mais
atingidas. António Rocha, viticultor nesta freguesia, viu cerca de 90
por cento da colheita ser destruída pelo granizo. "Em apenas 15
minutos, perdeu-se um ano de trabalho. A vinha tem 2700 pés e ficou
praticamente toda destruída", acrescentou.


O problema maior tem a ver com a produção do próximo ano que poderá
estar comprometida porque a vara também ficou afetada. "Tenho 75 anos
e esta foi uma das piores tempestades que me lembro", recordou.

O granizo acabou por dizimar também as oliveiras no terreno deste
agricultor. "Nos ramos das 53 oliveiras existentes em bordadura, quase
se podem contar pelos dedos as azeitonas que ficaram nas árvores, já
que tudo foi parar ao chão".

A dimensão dos estragos provocados pela tempestade de granizo destruiu
cerca de 700 hectares de vinha, olivais, pomares e hortas no Douro. O
presidente da Câmara de Sabrosa, José Marques, chegou a classificar a
situação de "dramática" e pediu medidas urgentes do Governo para
atenuar a miséria em que muitos viticultores vão ficar. Esta mesma
posição foi assumida numa carta enviada à ministra Assunção Cristas.

De referir que, a maioria dos lavradores não tem seguro de colheita,
por serem considerados muito caros. As freguesias de Vilarinho de S.
Romão, Celeiros do Douro, Provesende e S. Cristovão do Douro foram as
mais afetadas não só na colheita deste ano, mas também na do próximo
ano. Em Favaios e Sanfins do Douro, Alijó, também há registos de
prejuízos, assim como em Murça e em Ervedosa do Douro (S. João da
Pesqueira).

Técnicos da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN)
estiveram todo o dia no terreno a avaliar a situação.

Partidos políticos e associações reclamaram intervenções do Governo

Os prejuízos causados pelo granizo levaram algumas forças políticas e
associações a reclamar medidas urgentes e compensatórias para fazer
face aos prejuízos sofridos pelos viticultores. Durante a tarde de
quinta-feira, os deputados do Partido Socialista entregaram um
requerimento na Assembleia da República (AR) para saber se o Governo
está a fazer o levantamento dos danos nas áreas afetadas e como
tenciona ajudar os vitivinicultores. "Não chega virem técnicos ao
local fazer a avaliação dos estragos, é necessário ir mais longe e
apoiar financeiramente os agricultores", referiu o deputado do PS
eleito pelo círculo de Vila Real, Rui Santos.

A Associação de Viticultores Independentes do Douro, Avidouro, também
acompanhou a situação no terreno e reclamou ao Ministério da
Agricultura e ao Governo "o rápido levantamento dos prejuízos e a
atribuição de uma ajuda excepcional, de emergência, de forma a
possibilitar a atividade produtiva destes vitivinicultores e o
sustento das respetivas famílias".

Nesta segunda-feira, o PCP confrontou o Governo com os prejuízos das
intempéries. Já o Bloco de Esquerda de Vila Real, num comunicado
distribuído à imprensa, reclamou a intervenção urgente dos serviços
regionais do Ministério da Agricultura para o tratamento da vinha
afetada e defendeu o apoio público aos agricultores que sofreram
prejuízos não cobertos pelo seguro. Assegurou ainda que "irá propor
que sejam acionados mecanismos europeus para o financiamento da
reposição da capacidade produtiva. Defende também a criação de um
sistema de seguros à agricultura a preços acessíveis e financiados
pela PAC".

Apoios do Governo

A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, não prometeu apoios a
fundo perdido para os agricultores, mas mostrou disponibilidade em
outros apoios. "Vamos apoiar no tratamento das plantas e o Instituto
dos Vinhos do Douro e do Porto foi sinalizado para os lavradores, que
perderam a colheita este ano, possam ter direito ao benefício para
produzirem vinho do Porto no próximo ano".

Entretanto, o Ministério da Agricultura anunciou a implementação de
algumas medidas de apoio independentemente do agricultor ter ou não
seguro. Assim, será aberta uma linha específica de financiamento no
âmbito do PRODER, para investimentos necessários para relançar a
produção. Outra iniciativa passa pelo apoio à formação dos
agricultores, nomeadamente como se devem tratar as vinhas. Para ajudar
os agricultores afetados, é ainda prometida ajuda para tratamentos de
emergência nas plantações atingidas. Como medida extra, o ministério
admite que os produtores afetados possam vender os seus cartões de
benefício de vinho do Porto ou que, em alternativa, acumulem esses
direitos com aqueles que vão ter na próxima colheita.



http://expresso.sapo.pt/e-tudo-o-granizo-levou=f744562

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