segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O REGRESSO À AGRICULTURA

Opinião | 22-08-2012
Por Caseiro Marques
Já não é novidade para ninguém que há muitas pessoas, principalmente
os jovens a regressar à agricultura. Durante anos, desde os tempos de
Cavaco Silva como Primeiro Ministro, a agricultura foi sendo
desvalorizada. De um país que já foi autossuficiente em praticamente
tudo o necessário para alimentar a sua população, passámos a ter um
deficit enorme na maioria dos produtos.
Então nos cereais o deficit é quase de cem por cento. Ou seja, o pão
que comemos é fabricado quase todo com cereais que importamos. E,
entretanto, vemos os nossos campos abandonados. No Alentejo, apesar do
avanço do olival e das vinhas, há centenas de milhares de hectares que
podiam estar a produzir cereais, mas os seus proprietários preferem
deixá-los ao abandono. O mesmo se passa na maior parte das outras
regiões do país. Trabalhar na agricultura ainda tem uma conotação com
a pobreza das pessoas das aldeias. Quem vivia dos campos eram os
proletários, os caseiros, os trabalhadores rurais, as classes mais
baixas, tirante um grupo reduzido de privilegiados, que se dedicavam à
produção de vinho e azeite em larga escala. Sou do tempo em que
aldeias inteiras viviam da agricultura e alguma pecuária e não
levantavam a cabeça, porque os intermediários levavam a maior parte do
lucro. Ora, em vez de se alterarem essas situações, fez-se com que as
pessoas, emigrassem, abandonando os campos, partindo para as cidades,
porque nas aldeias só havia fome e miséria. Com Cavaco deu-se uma
mudança, que nunca percebi. Nunca concordei que se dessem subsídios às
pessoas para elas abandonarem os campos. Mas foi o que fizeram. Diziam
que em Portugal havia demasiada gente na agricultura. Já devem ter
dado conta do erro que cometeram, mas não assumem as suas
responsabilidades.

Agora, parece que estão a descobrir que, afinal, mais pessoas podem
viver da agricultura, nas suas tão variadas vertentes: pecuária,
hortícola, frutícola, olival, vinha, florestal, etc.

Como vêm demonstrando exemplos significativos de jovens empresários
agrícolas, é possível uma família viver da exploração de pequenos
nichos, como sejam as ervas aromáticas, os legumes, a fruta, os
produtos biológicos e até pequeno comércio ligado a esses nichos.

Depois está a acontecer o fenómeno interessante protagonizado por
aqueles da minha idade, que têm raízes, ou não, na agricultura e que,
em regra por óbi ou mesmo por gosto, se dedicam, fora das suas horas
de trabalho profissional, a tratar da sua horta, dos seus animais
domésticos.

Os exemplos são aos milhares por esse país abaixo e os que assim
procedem não se mostram arrependidos de praticarem essa actividade. É
uma espécie de regresso às origens, regresso saudável, proveitoso.

São muitos os campos que estiveram abandonados e que, ano após ano,
vêm sendo recuperados e se mostram granjeados com uma grande variedade
de produtos que a terra oferece generosamente com pouco trabalho.

E quando aparecem notícias nos jornais dando conta que há milhares de
jovens a quererem investir na agricultura é sinal de que ainda há quem
entenda que esse é um sector de refúgio para muita gente que se vê sem
trabalho, mas entende que pode aí ganhar a sua vida.

Eu fico muito contente por isso. Por muitas razões. Mas principalmente
porque dessa forma estamos a resolver muitos problemas dos que temos
vindo a enfrentar nos últimos anos, após o 25 de Abril: aumento da
produção nacional dos bens alimentares, aumento da produção de carne,
de cereais, mais saúde mental, mais saúde física, limpeza dos
terrenos, aproveitamento dos nossos recursos naturais e enriquecimento
do país. O que produzirmos não necessitamos de o importar ao
estrangeiro. Haja apoios para quem quiser retornar à agricultura.
Todos ganhamos com isso.



1 – Não se percebe a política de informação da RTP. Na semana passada
meia dúzia (eram sete) de gatos pingados manifestaram-se à porta da
casa onde o Primeiro Ministro gozava uma semana de férias. Protestavam
contra a introdução de portagens na chamada Via do Infante, no
Algarve. Gente bem posta, bem vestida e bem falante. Certamente gente
influente, como conhecimentos na RTP. Por isso lá estava a Tv pública
a relatar os feitos desta amostra de manifestantes. A notícia durou
largos minutos. A Sic foi atrás e a TVI não sei, porque não vi. O que
é que se passa com esta gente e de um modo especial com a RTP? Num
país decente, onde os jornalistas sabem o que querem e dão valor
àquilo que o tem verdadeiramente, não havia notícia sobre esse assunto
e, mesmo em Portugal, não se percebe como o director da informação não
foi posto no olho da rua. Se calhar era o que queriam. Mas eu
fazia-lhes a vontade. Tanto assunto importante para relatar e
entretêm-se a dar visibilidade a um movimento de meia dúzia de
contestatários que se acham no direito de incomodar quem está a
descansar, só porque não têm mais que fazer. Os mesmos já no dia
anterior tinham estado à porta da casa do Presidente da República com
a mesma pantomineirice. Os soldados da GNR lá estavam a aturá-los com
toda a paciência. Só por cá…
2 – Esta reportagem faz-me recordar a saloice que foi as TV andarem a
inventar assunto, no dia em que os rapazes do remo ganharam a medalha
de prata. Entrevistaram os pais, os irmãos, vizinhos e conterrâneos, o
treinador, (o cão e o gato estavam a dormir a sesta) andaram pelas
tascas e cafés a pedir comentários sobre o grande feito lusitano em
terras da Grã-Bretanha. Que tristeza…

3 – Incêndios. Ainda não ouvi quem quer que fosse dizer que grande
parte dos sustos que os proprietários das casas que têm ardido ou sido
ameaçadas pelas chamas são os responsáveis por tais factos. Gostam de
ter uma casa no meio da floresta ou do mato, sem respeitarem as normas
que há anos estão determinadas sobre as distâncias a guardar em
relação aos edifícios. Depois vêm-se queixar de que o fogo está a
chegar-lhes à porta de casa. O nosso velho problema tem-se manifestado
também dessa forma. E vai continuar, porque não aprendemos nada com
estas situações. Fiscalização e responsabilização. Que se dê poder às
juntas de freguesia para serem elas a fiscalizarem este tipo de
situações, permitindo-lhes levantar autos de contraordenação e a
aplicação de coimas e estabelecerem regras sempre que seja necessário.
É para isso que as juntas devem servir e não para organizarem festas
para idosos, jogos de futebol e outras actividades, que não têm nada a
ver com a administração do território.

http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=14024

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