segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O último campino da lezíria

Histórias

Manuel Borda d'Água tem 86 anos. Vive sozinho em Mouchão da Cabra com
um rol de recordações de um tempo que já não existe
26 Agosto 2012Nº de votos (0) Comentários (0)
Por:Lurdes Mateus




Com um brilho nos olhos e um vigor de outros tempos, o último campino
a viver na lezíria recebeu-nos na sua humilde casa. Manuel Borda
d'Água vive há cerca de 20 anos isolado na lezíria, mas, devido à
idade, já não tem o fulgor de outro tempo para montar a cavalo. Tem 86
anos. Nos últimos dez anos tem vivido de dia e de noite em Mouchão da
Cabra, não tem vizinhos e na imensidão dos campos a casa onde vive é a
única que o olhar consegue avistar.
Manuel já tinha acabado de lavar a roupa e estava a dar de comer aos
animais. "Sei fazer de tudo, só não sei fazer dinheiro. Se soubesse,
era rico."
Nascido e criado nos Casais de Baixo, na Azambuja, Manuel é filho de
pais agricultores, mas ainda muito novo preferiu trabalhar com os
toiros bravos e começou por guardar gado. Na maior parte da sua vida
foi maioral de vacas e de toiros em muitas casas com tradição taurina.
É o campino mais antigo de Portugal que ainda vive na lezíria. "Esta
arte está para acabar. O dinheiro é pouco e o trabalho é muito duro."
Manuel Borda d'Água foi este ano homenageado nas Festas em Honra de
Nossa Senhora da Oliveira e Nossa Senhora de Guadalupe, em Samora
Correia. Os poucos campinos ainda vivos pensavam que Manuel já tinha
morrido. "Já ninguém se lembrava de mim e agora não me largam."
De uma vida inteira de trabalho, do que mais sente saudades "é de
lidar com os toiros e do gado bravo". Manuel deu várias voltas ao
País. "Estive em todas as praças de toiros. Pouco depois de ser guarda
de toiros no Vale de Santarém já ia à praça e acompanhava os toiros e
cheguei a ir a Espanha." Os ordenados eram pagos à semana, mas como
campino "eram 20 escudos, o que na altura não era mau".
SAUDADES DO TRABALHO
Mouchão da Cabra é um punhado de terra da Casa de Norberto Pedroso que
em tempos fez parte de uma grande herdade, "mas agora os tempos são
outros. Tudo mudou, tudo se virou ao contrário". Manuel não se
resigna: "Mais vale sozinho do que mal acompanhado."

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/o-ultimo-campino-da-leziria

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