sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Recuperação de área ardida no Algarve deve custar mais de 3,7 milhões de euros

Incêndios

30.08.2012 - 23:17 Por Idálio Revez
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Populações viram arder os seus haveres enquanto os meios aguardavam
por ordens para avançar (Foto: Adriano Miranda)
Mais de 3,7 milhões é a estimativa de custos só da estabilização do
solo e remoção do material ardido do incêndio da serra do Caldeirão. O
valor é avançado num relatório elaborado pela Unidade de Defesa
Florestal, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas,
destinado a minimizar os efeitos da erosão com a queda das primeiras
chuvas.

No entanto, contando com a recuperação do potencial agrícola e apoio
social às famílias afectadas, os prejuízos atingirão os 12 milhões de
euros no concelho de Tavira, mais 13 milhões no município de São Brás
de Alportel.

O fogo, que teve início em 18 de Julho na Catraia, alastrou ao
concelho vizinho de São Brás de Alportel. O presidente da Câmara de
Tavira, Jorge Botelho, lembra que o levantamento feito pelas entidades
responsáveis pela área das florestas "fica-se apenas pela
estabilização do solo, para evitar que se dê contaminação dos
aquíferos, logo que se verifiquem as primeiras chuvadas".

Além dos prejuízos agrícolas, o incêndio, que queimou 24.843 hectares
de mato, sobreiros e pinheiro-manso, "afectou ainda cerca de 17% da
zona especial de conservação e zona de protecção especial do
Caldeirão", registando-se ainda um "impacto negativo considerável na
actividade apícola".

A nível social, o Governo disponibilizou 600 mil euros, a dividir
pelos dois concelhos atingidos pelo incêndio, para recuperar as casas
ardidas e garantir as necessidades básicas das famílias mais
carenciadas. O apoio, de 400 euros por pessoa do agregado familiar, em
prestação única, começou a ser pago. As candidaturas estão abertas até
2 de Outubro.

Quanto aos milhões que serão necessários para repor, dentro do
possível, o que foi destruído, Jorge Botelho aguarda pelo cumprimento
das promessas governamentais. "Espero que haja a possibilidade de
apresentar, em breve, candidaturas no sector agrícola, com 75% a fundo
perdido, através do Proder [Programa de Desenvolvimento Rural]". As
pessoas que viram desaparecer pomares, motores de rega e árvores de
cultivo, sublinha, "têm expectativas de que serão ajudadas".

O relatório sobre a avaliação dos impactos nos espaços florestais, diz
o autarca, refere valores "abaixo dos preços de mercado". A título de
exemplo, exemplifica, cinco euros para corte e remoção de cada árvore
ardida parece-lhe "baixo". Situação idêntica verifica-se na limpeza de
valetas: 15 mil euros para intervir em 100 quilómetros de rede viária
está abaixo do que a câmara tem pago para esse tipo de trabalho.
Porém, interpreta os valores como "referência" e "uma estimativa".

O perigo de contaminação das linhas de água surge como uma das
primeiras preocupações ambientais. O fogo afectou a bacia hidrográfica
do rio Gilão, que desagua na ria Formosa, e as sub-bacias da Foupana e
de Odeleite, afluentes do rio Guadiana. Os efeitos dos primeiros
chuvas, salienta o relatório do director da Unidade de Defesa da
Floresta, Rui Almeida, "poderão provocar a erosão dos solos,
arrastando-os e transportando-os para as zonas de vales e linhas de
água, assoreando campos e poços".

Proteger origem da água

A área afectada pelo incêndio, acrescenta o documento, apresenta
"condições propícias à erosão por ravinamento". Por outro lado, o
facto de a albufeira de Odeleite ser a origem do abastecimento público
de água do Sotavento algarvio, "exige uma atenção redobrada" nas
acções a desenvolver "como forma de salvaguardar a origem da água". O
fogo atingiu também a zona de protecção especial da serra do
Caldeirão, que abriga algumas espécies protegidas e em risco,
destacando-se o lince ibérico, a águia de Bonelli, águia cobreira e o
bufo real. Ao nível do património cinegético, o incêndio atingiu 33
zonas de caça.

No âmbito do Proder deverão ser apoiados projectos, entre 50 a 100%,
para "estabilização de emergência"; "restabelecimento do potencial
silvícola"; "controlo de pragas e doenças em espécies florestais", e
"controlo de espécies invasoras".

Por seu lado, António Eusébio, presidente da Câmara de São Brás de
Alportel, defende um "novo ordenamento florestal" para que uma
catástrofe semelhante não se repita. A serra da Caldeirão, recorda, de
tempos a tempos - em períodos inferiores a dez anos - é fustigada
pelas chamas. "Um sobreiro leva 50 anos a dar a primeira cortiça". Por
isso, acrescenta o autarca, se não existir uma "outra visão" na forma
com se olha o interior do Algarve, "de nada valerão os planos de
defesa da floresta, onde as câmaras têm investido muito
dinheiro".Falhas no combate

Apesar de mais de mil bombeiros e meios aéreos para combater as chamas
que tiveram início na Catraia (Tavira), as populações viram arder os
seus bens, com os bombeiros parados nas estradas, a aguardar ordens
para entrar em acção. O comandante da Autoridade Nacional de Protecção
Civil assumiu "falhas de coordenação", mas o Governo pediu uma segunda
avaliação para apurar eventuais responsabilidades.

http://www.publico.pt/Sociedade/florestas-estimam-em-37-milhoes-de-euros-recuperacao-de-area-ardida-no-algarve-1561052?all=1

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