quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Vaticano quer acção dos mais ricos para evitar escalada no preço dos alimentos

Santa Sé defende água como bem "público"

28.08.2012 - 18:20
Votar | 3 votos 11 de 17 notícias em Sociedade« anteriorseguinte »

Vaticano pede prioridade à alimentação ligada à vida humana (Miguel Manso)
O Vaticano quer que os países mais industrializados façam todos os
esforços possíveis para enfrentar a seca que se regista em várias
zonas do mundo e evitar uma nova escalada de preços dos alimentos.

Em entrevista à Rádio Vaticana, o arcebispo Silvano Maria Tomasi,
observador permanente da Santa Sé na ONU, disse, a propósito de uma
reunião de responsáveis do G20, que as maiores economias mundiais
devem "enfrentar a política global da alimentação no mundo de hoje".

Citado pela agência Ecclesia, Tomasi acrescentou que é necessário
entender "as causas" da escassez alimentar. Estas, disse, não se
limitam à seca que afecta várias regiões do globo: "Há uma grande
quantidade de alimentos, de produtos agrícolas que são usados para
produzir biocombustíveis. Por isso é necessário "equilibrar" a
necessidade de defender o meio ambiente com a "prioridade" da
alimentação, ligada à vida humana.

O arcebispo italiano acrescenta que o G20 deve ter em conta a
"especulação financeira" ligada aos alimentos e que tem consequências
nas "faixas mais pobres e necessitadas da população".

Tomasi refere ainda, de acordo com a mesma fonte, os 170 milhões de
crianças com problemas provocados pela alimentação desadequada,
sobretudo em países como o Iémen, Somália e Sudão do Sul e na região
do Sahel africano. A seca nos Estados Unidos, Rússia, Austrália e
outros países que produzem cereais pode levar ao agravamento da crise
alimentar e ao aumento do preço dos alimentos. Uma situação idêntica
em 2007 e 2008 provocou protestos em mais de 30 países.

Água é um bem público

Numa outra frente, mas relacionada com questões idênticas, o Vaticano
enviou uma mensagem à 22ª Semana Mundial da Água, que decorre até
sexta-feira em Estocolmo, na qual afirmas que a água é um bem
"público".

No documento, citado pela Ecclesia, o Vaticano diz que é necessária
uma acção "urgente" da comunidade internacional para assegurar o
acesso de todas as populações à água, que não é "um bem meramente
mercantil".

Esta já não é a primeira vez que o Vaticano defende este princípio,
considerando que a água é um "elemento essencial para a vida". A
última vez foi em Março, em Marselha (França), no 6.º Fórum Mundial da
Água. Antes, na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2010 (1 de
Janeiro), o Papa Bento XVI dizia que este recurso está "fortemente
ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas". E em 2007,
na mensagem a propósito do Dia Mundial da Água, acrescentava que "a
água é um direito inalienável" que deve estar acessível a todos, "em
particular quem vive em condições de pobreza".

No documento, o Vaticano acrescenta: "Se é compreensível e lógico que
os actores privados tendam a desenvolver actividades rentáveis, eles
não devem esquecer que a água tem um valor social e deve ser acessível
para todos", diz o texto do Vaticano.

O texto afirma que são necessárias mais do que "declarações de
intenções" num momento em que "milhares de milhões de pessoas estão
sem água em quantidade ou qualidade suficientes para uma vida digna,
segura e confortável". E acrescenta que os números da sede estão
"subestimados", por ser necessária ver o direito à água como "acesso
regular e constante a água potável que seja acessível economicamente,
legalmente e de facto".

Segundo estes critérios, o Vaticano diz que 1,9 mil milhões de pessoas
têm à sua disposição apenas água insalubre e que 3,4 mil milhões de
pessoas utilizam ocasionalmente água de "qualidade insegura".

A Santa Sé, cita ainda a Ecclesia, apela à tomada de "decisões
incisivas". O aquecimento global e as alterações climáticas afectarão
os recursos disponíveis e "milhões de pessoas poderiam ficar privadas
da água", avisa, ao mesmo tempo que pede uma melhor gestão da água por
parte das autoridades públicas, dos operadores privados e da sociedade
civil, recordando a "importância da sobriedade nos consumos".

http://www.publico.pt/Sociedade/vaticano-quer-accao-dos-mais-ricos-para-evitar-escalada-no-preco-dos-alimentos-1560756

Sem comentários:

Enviar um comentário