quarta-feira, 19 de setembro de 2012

“A sustentabilidade não é inimiga da competitividade”

Entrevista

Cátia Simões e Filipe Garcia
19/09/12 00:05



Atribuir os fundos comunitários a aspectos relacionados com eficiência
energética é positivo para aproveitar os recursos, defende Assunção
Cristas.


Ministra da Agricultura defende a necessidade de promover políticas
verdes nas empresas e entidades e refere a importância da atribuição
de fundos.

Os projectos de sustentabilidade ganham uma relevância ainda maior
numa altura de crise, já que podem até ser a solução para a redução de
custos das empresas. É esta a visão de Assunção Cristas, que
exemplifica as várias políticas levadas a cabo pelo Ministério da
Agricultura. Em entrevista ao Diário Económico, a propósito da edição
deste ano dos Green Project Awards (GPA), a ministra lembra ainda a
importância dos fundos comunitários para ajudar a implementar mudanças
de mentalidade e garante que o Fundo Português de Carbono (FPC) não
está morto.

Neste contexto faz sentido falar de economia verde?
O mais possível. Estes são sempre momentos em que se proporciona uma
reflexão sobre a realidade e a busca de novas soluções. Por exemplo,
reabilitar em vez de construir é, neste momento, uma saída verde, que
aproveita o recurso que já existe, o que é muito positivo porque o que
já está edificado está inserido num tecido urbano consolidado.

Não teme que num momento de austeridade a reacção das empresas seja a
oposta, procurar as soluções que já conhecem?
Depende do que estamos a falar. Se uma empresa quiser procurar uma
sede, em vez de ir para um edifício novo, optar por adaptá-la tendo em
conta preocupações ambientais que lhe vão trazer poupanças
significativas ao nível, por exemplo, da energia, vai diminuir os
custos. Claro que não há receitas mágicas. E por isso é que
iniciativas como os GPA são importantes, porque dão exemplos muito
concretos sobre o que é que se pode fazer para racionalizar os nossos
recursos e ter poupanças significativas. Aí estamos a ajudar as
empresas a ser competitivas. A sustentabilidade não é inimiga da
competitividade.

Que tipo de projectos tem promovido o Governo na lógica do
aproveitamento dos recursos?
A reforma do Estado, o Plano de Redução e Melhoria da Administração
Central do Estado (PREMAC), está a levar a muita reestruturação do
parque imobiliário para juntar organismos dentro do mesmo edifício.

É possível quantificar?
Não lhe consigo dar um valor exacto mas este é um esforço que está a
ser feito por nós e pelos outros ministérios. Estamos a adoptar
medidas como racionalizar a frota automóvel e trabalhar mais em equipa
utilizando os mesmos recursos. Procuramos que as pessoas que estão no
terreno se juntem nos mesmos edifícios para fazer acções conjuntas
através do 'carpooling'. Quando nos deslocamos só vai um segundo carro
quando o primeiro está cheio. O nosso carro é um escritório em
andamento!

O seu Ministério foi um dos primeiros a aplicar muitas medidas, até se
falou muito na medida da gravata... é possível quantificar o impacto?
Olhe, outra! Já nem me lembrava! E o consumo de água da torneira, por
exemplo. Ainda não conseguimos quantificar, mas estas questões casam
com reformas mais profundas, relacionadas com a agilização dos
procedimentos, que terá impacto.

O Ministério tem um orçamento específico para financiar iniciativas como os GPA?
Não há um 'budget' mas há um histórico. Os orçamentos têm vindo a ser
reduzidos, mas tem-se mantido esse apoio. Além disso, há o nosso apoio
institucional inequívoco e isso tem-se mantido.

Há algum projecto que a tenha surpreendido nesta edição?
Apreciei a diversidade temática, ou seja, a sustentabilidade é um
desafio que é transversal. Em todos os domínios temos atitudes,
comportamentos e projectos de sustentabilidade e temos opções que
podemos fazer.

É muito complicado convencer os empresários mais velhos a mudar o modo
de funcionamento das empresas?
É preciso mostrar as boas práticas e como mudanças em determinado tipo
de comportamento podem ser benéficas para o ambiente, mas também para
os custos da empresa. Esse ponto vai muito da replicação do exemplo e
também dos apoios. É por isso que quando olhamos para as oportunidades
dos fundos comunitários, atribuí-los a aspectos relacionados com
eficiência energética é positivo, para aproveitar os recursos.

Na conferência promovida pelo Diário Económico referiu-se à
necessidade de trabalhar em parceria e promover sinergias. Porquê?
Há muito conhecimento em Portugal que beneficia se for partilhado. Se
trouxermos as pessoas para partilhar esse conhecimento mais resultados
teremos. Não temos uma população muito grande, mas temos massa crítica
para, trabalhando entre si e com a de outros países, trabalharmos com
impacto.

O que aconteceu ao Fundo Português de Carbono(FPC)?
O FPC tem projectos que apoia e cooperação a nível internacional. Há
projectos que estão concluídos, outros que estão em marcha. O fundo
existe, tem os seus recursos, limitados mas os seus recursos, e está
muito atento a oportunidades de apoio.

O presidente da APA, Nuno Lacasta, referiu que as acções foram
vendidas a um preço que agora não justifica a entrada de novos
investidores...
O preço do carbono baixou muito. A discussão que se tem na União
Europeia é como é que tornamos esses activos apelativos quando o preço
era suposto ser um e baixou radicalmente. Há créditos de carbono
atribuídos a países que ainda tinham um grande desenvolvimento a fazer
e, com o próprio valor do carbono a nível internacional e num contexto
de recessão, há menos necessidades de atribuir créditos de carbono. Se
o carbono tiver outro valor mais capacidade nós teremos para actuar.
Ao valor a que está neste momento acaba por não ser o instrumento que
se tinha planeado inicialmente.

http://economico.sapo.pt/noticias/a-sustentabilidade-nao-e-inimiga-da-competitividade_152101.html

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